Todos nós temos um perfil de jogador, por mais “eclético”que sejamos, temos algumas preferências. Eu particularmente gosto de jogos mais pesados, econômicos super apertados ou wargames com bíblias de regras. Mas isso não significa que não observe o cenário de jogos mais leves
It’s a Wonderful World foi uma campanha de KS que hesitei entrar por me parecer um jogo leve demais e imediatamente me arrependi, por isso logo que soube que estaria disponível em Essen, foi rapidamente para minha lista de jogos passando a frente de galope dos mais hypados como Cooper Island, Maracaibo, etc… E se o hype em torno dele não existia igual o de outros jogos, o meu Hype individual era real.
Indo direto ao ponto, em menos de dois meses, It’s a Wonderful world se tornou o jogo mais jogado do ano pra mim, até aqui são 16 partidas, sendo 5 do modo campanha, pois a versão Heritage que peguei vem com uma espécie de Legacy com 2 campanhas. E essas 16 partidas abraçaram jogadores com perfis completamente diferentes e nenhum deles saiu menos satisfeito.
Desculpem o determinismo, mas deixando a emoção falar, Its a Wonderful world é um jogo rápido de draft de cartas e tableu/engine building que tira 7 wonders de muita coleção.
Como funciona o jogo?
O jogo tem 4 rodadas, onde os jogadores draftam uma mão de 7 cartas, depois decidem o que fazem com essa mão entre duas alternativas. Podem descartar cartas para obter um tipo de recurso (são 5 tipos ao todo) ou baixa-las se comprometendo a “construí-las” no seu tableau, o que forma o seu engine. Por fim, em uma ordem especifica, entra-se numa fase de produção dos recursos. As suas cartas já construídas indicam a quantidade da produção de cada um deles.
Nesse minúsculo parágrafo estão basicamente todas as regras do jogo. E nessa hora você se pergunta, o que demais tem nisso aí?
Feels Good no level máximo
Vamos lá, a simplicidade do jogo entrega uma fluidez e dinâmica extremamente agradáveis na sua jogabilidade, porém a combinação do draft com a fase de produção faseada por tipo dos recursos constrói camadas de profundidade estratégica absolutamente incríveis. Muito provavelmente na sua segunda partida você já estará executando combos de construção + produção frutos de um draft bem planejado.
O pulo do gato está basicamente no fato da construção do seu engine se dar durante todas as fases do jogo, desde o planejamento onde você tentará otimizar os recursos provenientes dos descartes das cartas para acelerar a construção do que você se comprometeu, até a fase de produção, que na maioria dos jogos serve somente pra rodar o seu engine, mas que no caso de WW, se você conseguir planejar na ordem certa, vai cascatear a construção de novas cartas, que aumentará a produção de recursos mais avançados, que contribuirão para a construção de outras cartas e assim sucessivamente.
Para complementar, uma regra que ainda não falei, é a de que em cada produção de cada recurso, verifica-se quem produz a maioria daquela categoria. Quem o fizer, leva um token financeiro ou militar, que valem um ponto no final e que também ajudam a construir novas cartas. O fato é que se você quiser jogar para valer uma partida de IWW, sacará rapidamente que não dá para deixar essa disputa de maioria frouxa, pois invariavelmente irá comprometer sua performance, tanto na pontuação final, quanto no atingimento de seus objetivos.
Além disso tentar entender os caminhos que seus adversários estão seguindo é super importante pra não deixar passar aquela carta que vai explodir a pontuação deles.
Plug And Play e modo campanha
Acreditem, a sensação de planejamento e escolhas relevantes estão presentes em toda a duração da partida e esse sentimento gratificante acontece entre 40 e 60 minutos no máximo. IWW tem muita entrega e faz isso em pouco tempo. Por isso se tornou o jogo que mais viu mesa tão rápido nesse ano, pois não consigo imaginar no momento nada melhor pra preencher aquelas lacunas de tempo curto em dias de jogatina.
Ter jogado uma das campanhas também ajuda, comprei a versão Heritage que vem com duas campanhas que dão um pouquinho de sabor ao tema do jogo (que é bem descolado do gameplay) e joguei a primeira que é composta de 5 partidas.
E foram cinco partidas seguidas sem descanso rs… Não vou entrar muito no detalhe para não dar spoilers, mas posso garantir que o modo campanha agregou demais ao jogo, além da costura bacana entre as partidas, acrescenta umas variações bacanas entre elas, mantendo o interesse elevado para ver o que será desbloqueado a seguir. Ah e uma coisa bem bacana é que a campanha (pelo menos a que joguei) está construída de uma forma que é interessante jogar mais de uma vez. Tem rejogabilidade.
Se fosse para apontar um lado negativo de IWW, seria que apesar de fantástico, o tema não é muito presente no jogo. Aliás, é bastante ausente. Isso não afeta em nada a experiência, mas as cartas são tão maneiras, o tema tão interessante e as ilustrações tão incríveis (até com easter eggs) que bate um sentimento de desperdício.
Conclusão:
Definitivamente IWW foi um dos grandes acertos de Essen, e é engraçado, para mim, ter essa sensação com um jogo tão leve, porém, pequenos detalhes tornam ele um excelente exercício de planejamento e oportunidade. Principalmente quando você começa com corporações sem um norte de pontuação e precisa construir um caminho que faça sentido nos drafts iniciais.
It’s a Wonderful World é o que define um jogo elegante. Simples, fácil de entender, nem tão fácil de dominar e absolutamente genial.
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