Lançado em 2018 pela CMON, Kick-Ass: The Boardgame chegou ao mercado brasileiro sem muito alarde ou hype. Baseado nos quadrinhos de sucesso de Mark Millar, em Kick-Ass somos pessoas comuns que resolvem se tornar vigilantes de Nova York e partimos para combater o crime - sem super poderes!
Kick-Ass: Jogo em andamento
Kick-Ass: Jogo em andamento
Kick-Ass leva os jogadores a encarnarem um cidadão comum na luta contra o crime. O jogo é cooperativo e nele cada um representa um personagem com seus próprios atributos, habilidade especial e mão de cartas, na tentativa de impedir que os criminosos tomem Nova York. Para isso, os jogadores devem concluir três missões abertas ao longo de 12 rodadas e impedir que os bandidos tomem a prefeitura para, posteriormente, derrotar o vilão escolhido no início da partida para ser o grande antagonista.
Jogadores devem cumprir 3 missões como objetivo inicial de cada jogo.
Para ter sucesso na empreitada os jogadores não podem deixar bandidos, que a todo momento aparecem em jogo, tomarem a prefeitura ou então perdem na hora. Nesse sentido, o core do jogo é "apagar incêndios", como em Pandemic ou Flash Point, metendo a porrada na bandidagem da cidade de Nova York e não deixando-os espalhados por aí. Mas Kick-Ass não se resume a isso e tem muito mais conteúdo do que apagar os incêndios!
No começo da rodada, um evento ocorre e entram bandidos no tabuleiro em diferentes localidades de acordo com a carta de Spawn. Depois, os jogadores irão cada um baixar uma carta de sua mão (simultaneamente) e, na ordem que preferirem, realizar a sua ação da carta baixada, que em geral permite um número de movimentos e realizar a ação do local onde o jogador parou e pode dar algum bônus.
Jogadores começam com uma mão inicial de cartas - a verde apenas desbloqueando com o andamento da partida.
E essa mecânica é que torna o jogo tão legal! Por quê? Bem, primeiro porque tudo se encaixa tematicamente de modo muito natural. Se você está no Central Park e realiza a ação daquele local, você melhora seu porte físico, por ter ido lá dar uma corrida, ou melhora sua felicidade, porque o contato com a natureza te traz paz de espírito. Da mesma forma, se fizer a ação de Wall Street você recebe dinheiro - que poderá ser usado na compra de itens -, mas perde felicidade, afinal trabalhar é um porre! E assim, conforme você ganha ou perde atributos - felicidade, força, reconhecimento na rede social - você pode vir a receber ou perder bônus na sua ficha de personagem. Se chegar a 1000 curtidas na trilha da rede social, por exemplo, você ganha reconhecimento suficiente na cidade para ganhar desconto na loja quando comprar itens! Muito legal!
Ir ao Central Park garante felicidade ou melhora na condição física
Jogadores progridem - e regridem - nas trilhas individuais de cada personagem.
Regredir na trilha de felicidade pode desbloquear uma fraqueza.
Conforme o jogo anda, os jogadores progridem seus personagens também com as cartas de ação que podem ser jogadas. É possível comprar novas cartas, com habilidades melhores para ter ações mais eficientes de acordo com seu estilo de jogo. Se sou um personagem que está mais combatendo do que fazendo missões, posso pegar uma carta de combate e moldar minha mão pra ficar melhor nisso, combando inclusive com os itens que comprei na loja!
E assim o jogo vai fluindo: entrando bandidos, apagando incêndios, melhorando o personagem, fazendo missões, até que os jogadores conseguem desvendar o plot final do vilão - depois de realizar 3 missões. E aí, abre-se uma página no manual com todas as explicações de como o jogo vai ser a partir de agora e o quê os jogadores devem fazer pra derrotar aquele antagonista.
Cartas mais poderosas podem ser adquiridas, melhorando suas ações.
Itens podem ser comprados na loja.
Kick-Ass me lembra em alguns pontos o Pandemic base, porém leva vantagem em alguns detalhes. Em ambos os jogos há a necessidade constante de apagar incêndios e resolver crises para que o jogo não fique fora de alcance, em ambos há uma gestão de mão e necessidade de coesão entre as jogadas dos jogadores e uso de habilidade dos seus personagens. Mas a mecânica de evoluir seu personagem, ganhando novas cartas, melhorando suas ações, comprando itens, trás um elemento que falta ao Pandemic. Além disso, no jogo das doenças, se eu estiver jogando com médico, minha tarefa está clara do começo ao fim do jogo: tratar as doenças tirando os cubinhos do tabuleiro. É isso, nasci pra fazer isso e ponto. Em Kick-Ass há maior flexibilidade em relação ao personagem e sua função, motivado pela sua melhora com o decorrer da partida. Ah, e existem 5 vilões no jogo, cada um com seu plano maléfico individual, o que trás uma grande rejogabilidade ao jogo.
As poucas coisas que me incomodaram no jogo sequer são dignas de nota, como dificuldade de guardar os diversos tipos de miniatura na caixa, por terem design diferente e lugar específico na caixa - embora isso não impacte em nada no jogo -, o manual que deixa umas boas dúvidas e o fato de ser um jogo que, depois de 1:30 jogando, você tem que parar pra ler um textão em relação ao plano final do vilão. Todas coisas pequenas diante da diversão que proporciona.
Depois de um bom tempo jogando, ler o plano final do antagonista pode dar uma preguiça...
Kick-Ass é um jogo, diferente de muitos designs por aí, pouco pretensioso e que entrega muita coisa legal. Ah, é melhor que Pandemic, um marco dos boardgames, top dos tops jogos mundiais? Não sei se é melhor, mas no quesito diversão, pra mim Kick-Ass dá um belo chute na bunda do Pandemic!
No fim, se você curte jogos na pegada do Pandemic e Flash Point, Kick-Ass provavelmente vai agradar. O jogo chegou de fininho por aqui, sem fazer nenhum alarde, sem nenhum hype e já se provou digno de umas boas jogatinas.
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