CJ85::Professor,
Que músicas você ouve? Aposto que nenhuma estrangeira ou com influências de fora, né? Deve ser musica em tupi e afins...
Tenho apreço grande por toda diversidade de produção musical e cultural, independente de sua origem ou nacionalidade. Não posso dizer com isso que não reaja com estranheza diante de um ou outro tipo de sonoridade. Porém uma coisa que tenho bem definida, e sempre tento deixar isso o mais transparente possível é que o que eu gosto não é bom, por que eu gosto. Não é melhor do que o gosto do outro, tampouco musicalmente bom.
Nos últimos tempos tenho ouvido bastante Bossa, Reggaeton, Blue-Grass, Son de Los Diablos (a grosso modo uma sonoridade afro-peruana), flamenco e J-POP. Mas certamente se eu fosse escrever uma música eu optaria por fazer algo com uma sonoridade que evocasse mais brasilidades por considerar que representa melhor minha identidade.
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Agradeço a todos suas contribuições para construir uma maios reflexão a cerca do assunto , cada qual com seu ponto de vista tecendo uma colcha de retalhos que pode dar ao leitor, ao final, ferramentas para subsidiar seu próprio entendimento do assunto tratado. Ressalto contudo que:
Como de praxe, não ha necessidade de que cheguemos uma um consenso. A diversidade de opiniões é justamente o que enriquece essa conversa.
A exposição do assunto passa pelo prisma de minha subjetividade sem jamais ter a pretensão de ser uma verdade universal.
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Quando eu digo que existe uma supervalorização da vontade do autor brasileiro ser reconhecido internacionalmente, não quero dizer que isto seja errado. Todos podemos sonhar com o que quisermos, e se por um lado ha ganhos, por outro ha algumas perdas. A meu ver a mais grave tem a ver com a desconstrução da identidade do jogo propriamente dita.
O autor que quer ter seu trabalho reconhecido lá fora e se submete ao processo de abstração de sua identidade faz praticamente de tudo para que seu jogo se pareça muito com um jogo produzido lá fora. Isso inclui uma série de adaptações que negam ao jogo e ao autor a possibilidade de ser identificado como diferente do que é comum ao mercado do qual vislumbra. Nessa perspectiva você abre mão daquilo que o torna único (sua identidade) para ganhar o carimbo de aprovação internacional. E em prol de que? Muito pouco talvez.
Paafraseando o Jostein Garden em o Mundo de Sofia:
Quantas galinhas há no mundo? Milhões de galinhas e todas diferentes entre si. Mas se entrar uma galinha porta a dentro você certamente sabe que aquilo é uma galinha e não um gato. Por que há coisas "do ser galinha" que são inerentes a uma galinha.
Quando você abstrai a identidade de um jogo, ao olhar para inúmeros jogos. Como saber que um deles em específico é "brasileiro" se ele abriu mão de sua identidade? Pode não ser um problema para quem deseja ganhar fama e dinheiro no exterior (se isso for possível) mas o que se perde com isso? A troco de que optamos por fazer 30 vídeos sobre o mesmo jogo já consagrado internacionalmente e nenhum sobre aquele jogo de um autor nacional que mal vendeu 10 unidades e que ninguém da bola?
Será que estamos comprando jogos, ou comprando discursos enlatados? Será que estamos jogando ou colecionando fotos para as redes sociais? Será que o tempo entre os jogos que compramos são suficientes para aproveitar ao máximo o jogo que compramos primeiro?
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ricardomii não ha duvida que todo profissional tem o desejo de viver daquilo que gosta de fazer. Para quem trabalha com produto autoral essa verdade é maior ainda. Todos queremos nosso lugar ao sol. O que incomoda é a necessidade do "cara" fazer sucesso la fora para podermos reconhê-lo. E isso não é uma particularidade do Brasil. Tome como exemplo a animação Pocoyo: é de autoria de um espanhol, mas o público Espanhol só deu atenção ao icônico boneco de azul depois do reconheicimento e sucesso internacional.
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Leinad Esse é um desafio da contemporaneidade: distanciamento da realidade e desconstrução das identidades. Um problema bem gritante é que dentro do modelo de vida no qual vivemos isso parece irreversível. É algo como ter que trocar o pneu enquanto o carro está em movimento.
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MOITA1980 eu não diria que isso é uma preocupação e sim uma necessidade. Por mais que se diga o contrário, boardgames é um hobby mesmo na Alemanha e não algo escrito no DNA de cada alemãozinho que nasce. Se eles fizerem um jogo com dependência de idioma só vão vender na Alemanha e torcer para Alguém se interessar e traduzir. Então se trata mais de uma estratégia comercial do que uma suposta bondade. Diferente do mercado Americano que é grande o suficiente para absorver tudo o que eles próprios produzem. sem se preocupar com o resto do mundo.
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edeodato Eu não diria que isso tudo é culpa do sentimento de estar em uma condição de inferioridade. Diria que é culpa de se perceber como tal. Um dos principais empecilhos a se submeter a um tratamento e se reconhecer como doente. As condições de mercado são as seguintes: ou você pega seu jogo e publica la fora ou ninguém vai ligar pra ele aqui no Brasil, a menos é claro que você seja apadrinhado por um certo grupo de pessoas.