"O bait do bait"*
Nesta postgem abordo dois aspectos bem distintos a respeito do jogo Coup: possibilidade de jogá-lo com um baralho comum e a existência de estratégia em jogos ditos "não-estratégicos" pelo senso comum.
Uma rápida busca pela internet trará inúmeras versões não autorizadas de
Coup. Algumas muito criativas, outras ainda mais interessantes. A despeito de toda conversa sobre direitos autorais, acredito que o que atrai a muitos para estas versões alternativas é a variedade dos temas das ilustrações destas cartas.
Para além da curiosidade de saber que esse tipo de coisa existe, não conheço ninguém que jogue com estas versões do jogo. E aqueles que se aventuram acabam se deparando com as especificidades e dificuldades de se materializar um jogo, para muitas vezes ter um resultado final aquém do esperado (o que muitas vezes termina em frustração).
O que poucos consideram é que seria (e de fato o é) muito mais fácil jogar com um baralho tradicional. Tive essa experiência, quando na casa de um amigo em uma noite fria de inverno, após algumas rodadas de pôker o pessoal fez uma pausa para comer falei: "deixa eu ensinar um jogo diferente pra vocês".
1- Do baralho escolhi as cartas : ÁS, 2, dama, valete e rei.
2 - Expliquei as regras.
3 - Esquecemos o pôker e o resto passamos jogado Coup.
Assassino, Duque, Capitão, Condessa e Embaixador.
Em oportunidades posteriores levei o jogo original e todos adoraram e posteriormente compraram a versão nacional do jogo. Hoje apesar de ter uma copia lacrada do jogo e uma cópia "surrada de guerra" eu prefiro jogar com o baralho tradicional a despeito do preconceito que muitos possuem para com esse conjunto de cartas.
Depois que todos aprenderam a jogar (estou falando de jogadores de pôker) as nossas partidas de Coup se tornaram algo tenso. Vencer se tornou algo extremamente difícil. Comumente me deparo com alguém dizendo (normalmente de maneira boçal) que jogos existem jogos estratégicos e jogos festivos, como se essas duas coisas fossem incompatíveis.
Em qualquer jogo, a despeito dele ter muita ou pouca sorte, se houver algum mecanismo com o qual o jogador possa (em algum nível) tornar alguma ação previsível este jogo permite que se crie uma estratégia. Pelo contrário, jogos que são muito previsíveis não permitem estratégia como alguns possam afirmar já que a suposta estratégia consiste no jogador escolher um script e executá-lo como um computador executando um algoritmo.
Em Coup, a estratégia depende do grupo que está jogando e reside essencialmente no jogo mental entre os participantes. Já joguei Coup com crianças ou pessoas que não sabiam usar o blefe a seu favor, mas numa mesa com jogadores de pôker a coisa foi totalmente diferente e sobrou tensão. Foi nesse clima que aconteceu a partida na qual levei a mesa e que descrevo de maneira resumida a seguir:
1ª Rodada: A despeito de quantas cartas haviam na mesa, todos os demais jogadores declararam ser o Duque. Eu pedi ajuda externa e rapidamente eclodiu várias ameaças de que seria impedido de fazê-lo com tantos duques na mesa. Peguei apenas 1 moeda.
2ª Rodada: Mais uma vez todos se declararam Duque. Eu me declarei Duque e peguei 3 moedas. Isso gerou desconfiança e alguém duvidou de mim. Revelei meu Duque e o meu questionador perdeu uma influência.
3ª Rodada: Dois jogadores que se declaram Duque foram contestados. Um Era realmente o Duque, o outo não. Eu me declarei assassino e alvejei um jogador que possui 2 influências, ele dúvidou de mim. Ao revelar o meu assassino ele saiu do jogo. Comprei outra carta.
4ª Rodada: Jogadores deram golpes para todos os lados e um jogador foi eliminado. Levei um golpe também. Pedi ajuda externa, alguém disse que era o Duque e me bloqueva. Alguém dúvidou que essa pessoa (que me bloque)ou era o Duque. De fato não era e saiu do jogo. Eu disse que era o assasino e “ataquei” um jogador que alegou ser a condessa. Eu duvidei e ele de fato não era. Um outro jogador interviu e gritou que eu não era o assassino, revelei meu assassino. Comprei uma carta de condessa.
5ª Rodada: Alguns pegaram duas moedas, outros apenas uma. Eu disse ser o capitão e peguei 2 moedas de outro jogador (que me xingo).
6ª Rodada: o jogador que me xingou disse ser o Duque e pegou 3 moedas. Ele olhou para mim e disse que era o assassino e me deu um golpe. Eu disse ser a Condessa e ele duvidou. Mostrei a condessa e ele saiu do jogo. Restaram 3 jogadores.
7ª Rodada: Todos compraram 2 moedas, eu comprei uma.
8ª Rodada: Um jogador disse ser o assassino e me deu um golpe. Eu duvidei que ele fosse o assassino e de fato não era! Eu aleguei ser o Duque e meu único rival da mesa duvidou: Eu era o Duque.
*bait do bait é uma expressão comumente utilizada entre jogadores de LoL e para se referir à "isca da isca". É quando você com acha que tá atraíndo o adversário para uma cilada quando insto na verdade é a própria cilada d inimigo.