Grande maioria dos jogadores e jogadoras de boardgame no Brasil são adultos. Boa parte destes jogam também em família.
Estou sempre do lado de quem levanta a bandeira da necessidade de que precisamos valorizar os jogos familiares e dar mais destaque a estes que em minha opinião são os mais propensos a trazer novos (inclusive na idade) jogadores e jogadoras ao hobby. Não que os jogos mais indicados para os ditos “gamers” não possuam esse potencial, mas ao meu ver eles possuem como maior função fomentar do que conquistar.
Algumas características que os jogos familiares trazem são regras simples, baixo/médio tempo de duração, visual atrativo, objetivos bem definidos e algum nível de interação. Não raro, por essas mesmas características os jogos familiares servem-se como uma espécie de “alivio” para grupos que não são bem “familiares”. Mas e se esse "alivio" não fosse bem exatamente (e propositadamente) familiar? Dito isso, “tirem as crianças da sala por favor” ...
Me surpreende como os boardgames modernos ainda não se inclinaram de uma maneira expressiva para o público mais adulto. E não estou falando de jogos com propostas violentas ou que apele para algo mais “gore”. Não que não hajam jogos XXX, mas em se tratando de jogos com uma abordagem mais elaborada ou com um trabalho mais cuidadoso em suas mecânicas, são poucos ou inexistentes. Talvez seja muita ingenuidade minha acreditar que em certos momentos alguém vai ligar para mecânica ou qualidade dos componentes de um jogo (ou não).
Me surpreende as reações quando algum jogo tem algum nível de erotismo e/ou até mesmo pornografia, dado que este tipo de conteúdo é tão presente nas diversas formas de entretenimento de nossa época. Me surpreende a falta de reação quando algum jogo deste tipo é abertamente exposto às nossas vistas. Mas de alguma forma essas coisas não deveriam me surpreender.
Dada a nossa cultura ocidental, fortemente influenciada pelos princípios cristãos temos muita dificuldade em lidar com temas relacionados à sexualidade, ao menos publicamente. Com luzes, apagadas ou “à meia luz”, longe da censura “do outro” ou com a sua complacência o indivíduo pode experimentar a oportunidade de livrar-se das amarras dessa e tratar o tema com menos preocupação de sofrer represália ou censura.
A preocupação que eu traduziria por medo, da censura ou da represália tem muito a ver com a imagem que “eu” quero que o outro tenha de mim. Esse querer pode estar (e por vezes está) em conflito com o que “eu” penso de mim mesmo. Quando a aceitação pelo o outro é na verdade uma necessidade de pertencer a um grupo e por ele ser aceito, o mais comum é reprimir o “eu” para os momentos longe do grupo.
Por esse pensamento não é difícil entender a forma de se expressar de muitos, uma vez que estão na internet, já que o mundo online é supostamente o mundo onde as luzes estão apagadas e ou em “meia luz”. Ledo engano.
Na internet observamos pessoas se comportarem de forma que elas não agiriam em uma situação fora desse mundo virtual, “escuro” ou “iluminado” por “meia luz”. No que tange aos boardgames o comportamento mais puritano é a lei, onde jogos que exibam alguma arte mais sensual são motivos para uma verdadeira inquisição contra seus produtores. Ainda que os jogos sejam para um público adulto, a sexualidade aparece reprimida ou ignorada.
Quando algum jogo de conteúdo XXX apare, por vezes ele é tão mal feito, que a coisa toda fica banal demais, por vezes vulgar, denotando apenas o apelo temático irresponsável e sem cuidado. Outros jogos são tão tímidos que você nem nota que estes jogos possuem como maior motivação o apelo à sexualidade.
Talvez a escassez de bons jogos XXX seja apenas um caso de apagarmos as luzes.