Se você curte seriados como CSI e NCIS ou é fã das obras de Sir Arthur Conan Doyle, você tem que jogar Detective: A Modern Crime Boardgame. Veja bem, eu nem sou lá muito fã de séries e filmes policiais, mas Detective me cativou tanto que é impossível não recomendá-lo para quem curte a temática investigativa ou jogos de dedução. Fazia tempo que um jogo não provocava a sensação de "cara, que jogo mindblowing é esse?!", sensação que tive pela última vez quando conheci T.I.M.E Stories, com suas mecânicas e histórias diferenciadas. Ah, e não se preocupe, não há spoilers sobre a campanha no texto!
Detective: Caixa e manual.
O jogo vem com 5 casos a serem solucionados que formam uma história maior no decorrer da campanha.
Detective conta com 5 casos na caixa base, cada um com um mistério a ser solucionado, que ao final da campanha formam um plot maior, interligando cada caso com o outro. Mas isso é suficiente para tornar um jogo bom? Certamente que não, mas Detective é competente em várias esferas: no storytelling, nas mecânicas, no engajamento de cada um e nas inovações.
As mecânicas do jogo são bem simples: Os jogadores agem como um único investigador, não tendo cada um seu próprio personagem ou número de ações a realizar. Cada caso define qual mistério a ser solucionado e em quantos dias os jogadores devem resolvê-lo. Tudo isso é feito através de um baralho de cartas específico de cada caso e pelo sistema
Antares, o sistema da polícia que permite que os detetives insiram pistas, procurem sobre suspeitos, leiam documentos confidenciais, vejam entrevistas gravadas, analisem amostras de DNA, entre outras coisas. Ao longo de cada dia, os jogadores irão atrás de pistas sobre o caso e para isso precisarão se deslocar pelo tabuleiro, o que consome 1h para cada movimento. Ao receber uma pista, os jogadores lêem a carta X, que irá consumir mais uma parcela de tempo e pode levar os jogadores a avançarem no mistério - mas também podem apenas ser becos sem saída e distrações que os façam apenas perder tempo. Ao perseguir pistas, os jogadores têm, normalmente, a opção de gastar tokens recebidos no início de cada partida para "ir mais a fundo" e descobrir coisas ainda maiores sobre o caso atual ou sobre o plot geral da campanha.
Mover-se pela cidade atrás de pistas é a mecânica principal do jogo.
Algumas cartas pedem que os jogadores gastem tokens para "ir mais a fundo" na pista. Obs. Carta de exemplo do manual, sem spoiler.
Tokens podem ser gastos pelos jogadores em cada caso.
As mecânicas de Detective são
muito simples: Ir até um local, procurar pistas, passar o tempo, ir na base Antares, colocar o que encontramos lá. Mas não é isso que torna Detective excelente. O que faz do jogo tão bom são outras duas coisas: tomada de
decisão e
dedução. O jogo se baseia nas decisões tomadas pelo grupo de jogadores e quais conclusões eles tiraram daquilo que lhes foi apresentado. "Devemos ir no laboratório para ver os resultados dos exames ou ir entrevistar aquela pessoa suspeita?"; "Seria melhor irmos mais a fundo nessa conversa ou conversar com aqueles advogados?". Cada decisão toma seu bem mais precioso na investigação:
tempo. Então, cada escolha é muito importante pro desenrolar da história. Por vezes você fica naquele estado de decepção do tipo "mas que coisa idiota, por quê achamos que isso daria em algum lugar?" e em dados o momentos você é tomado pela euforia "CARA, FALEI QUE ERA ISSO, SOMOS OS MELHORES DETETIVES DO PLANETA!".
Outra coisa que impressiona é a inovação de Detective. O uso do sistema Antares é sensacional, e dar entrada em pistas, DNA, buscar entrevistas, etc, pelo computador faz você se sentir realmente um detetive trabalhando numa agência internacional. Soma-se a isso o fato de Detective quebrar a quarta parede e colocar os jogadores buscando sobre acontecimentos reais do nosso mundo no google, como operações militares, personalidades, poemas, etc. Genial!
E sim, o jogo é bem denso. As histórias são muito bem contadas e você tem que se apegar a vários detalhes para chegar às conclusões corretas. Isso acarreta em um leve receio de ter que anotar tudo o que se vê, embora não seja necessário. Fazer as deduções certas no jogo levam os jogadores ao sucesso, pois no fim do cenário - que vai durar cerca de 3h-4h -, você tem que responder um relatório oficial no sistema da Antares. Por vezes, você não possui as evidências físicas concretas sobre aquilo, pois é impossível passar por todas as cartas do baralho em cada caso, então terá que analisar e chegar na melhor dedução baseado naquilo que você já encontrou - mesmo que não possa provar aquilo com componentes físicos. O sistema então analisa suas respostas e dá um veredito de "caso resolvido" ou "caso perdido" de acordo com o número de acertos.
Nem tudo são flores no jogo, contudo. Algumas coisas podem sim incomodar, como o excesso de flavor text, ou seja, os textos apenas de imersão, que não contribuem para a investigação, apenas para deixar os jogadores no clima. Os textos são de fato legais e bem escritos, porém por vezes muito longos e isso pode causar dispersão e cansaço. Jogar com uma mesa cheia pode ser outro problema, pois 2 pessoas conseguem fazer todo o necessário sozinhas, deixando outros jogadores meio que sem ter o que fazer. E, bem, como o jogo tem muita coisa pra ler e interpretar, um bom inglês é imprescindível para jogá-lo.
Deixando esses levíssimos contra-tempos de lado, Detective garante uma experiência de jogo incrível. Foi com certeza o primeiro jogo a fazer com que eu me sentisse um detetive solucionando um caso, e não um jogador de boardgames virando cartas e deduzindo o mistério. Se você curte investigação, temática, um bom storytelling e tem paciência para jogar cada caso em uma tacada só - não recomendo de forma alguma dividir o caso em duas jogas -, você precisa experimentar Detective. O jogo foge do tradicional e entrega uma experiência sem igual.
Já foram anunciadas expansões para o jogo, a primeira
se passando nos anos 80 em Los Angeles, com previsão de lançamento ainda esse ano, além de casos individuais que serão lançados no futuro.
Detective se destacou para mim por todo o conceito inovador e a excelente história que garante uma mesa engajada no jogo o tempo todo, sendo, com certeza uma das melhores experiências que tive com boardgames. Aguardo ansioso o futuro dessa franquia.
Curtiu? Veja outros textos do canal:
Chronicles of Crime: Investigação forense na sua mesa
Nikki Valens, a rainha do ameritrash?
Resenha Twilight Imperium 4: É tudo isso mesmo?