Lançado no fim do ano passado, Chronicles of Crime coloca os jogadores na pele de detetives para solucionar casos na cidade de Londres nos dias atuais. Fazendo uso de um aplicativo e QR Codes, o jogo traz uma experiência bastante diferente para quem curte jogos cooperativos e de dedução.
Chronicles of Crime: Caixa e manual.
Jogo em andamento.
O JOGO:
Assim que você pega a caixa do jogo, a sensação é de surpresa. Não por ser grande e pesada como os jogos famosos do momento, mas exatamente pela razão oposta: Chronicles é um jogo com caixa pequena, leve e com pouquíssimos componentes. Mas não se engane: O que "falta" em componentes, compensa no tempo bem gasto. Chronicles se baseia em cenários, cada qual uma história de assassinato, roubo ou conspiração, mistérios que os jogadores devem solucionar. O jogo é muito simples, baseando-se nos jogos de PC e video-game do estilo "point and click". Basicamente os jogadores escaneiam os QR Codes das cartas e recebem informações sobre elas no aplicativo. Por exemplo, os jogadores escaneiam o QR Code do personagem da carta 34, entrando, assim, numa conversa com ele. Daí, você pode escanear outros QR Codes para perguntar sobre outros personagens, evidências encontradas, possíveis pistas, etc.
Os jogadores se movem, então, de lugar em lugar escaneando QR codes e procurando pistas sobre o mistério, interrogando pessoas e até ligando para seus contatos da Scotland Yard para pedir análises de evidências, resultados de autópsias e até mesmo uma ajuda hacker com câmeras e computadores encriptados.
Ao chegarem em uma cena onde ocorreu o crime, um dos jogadores tenta achar evidências através da realidade virtual do aplicativo. Para fazer isso, ele abre a cena no aplicativo e a movimentação do celular (pra cima, pra baixo, pro lado, etc) permitem-no ver os diferentes ângulos do local. Assim, se movimentar o celular pro alto, pode ser que ache uma câmera de segurança dentro da cena do jogo, e talvez se movimentar para baixo, encontre uma faca ensanguentada no chão. O jogador comunica o que está vendo na cena e seus companheiros pegam as cartas de evidências correspondentes.
Personagens possuem QR codes para serem escaneados no aplicativo.
Em diferentes lugares, diferentes personagens são encontrados.
Contatos forenses são importantes na investigação.
Exemplo de cena de crime no aplicativo.
A INOVAÇÃO:
O sistema inteligentíssimo e muito simples de Chronicles of Crime é genial. O sistema de QR codes permite uma flexibilidade dentro do jogo muito legal, fazendo com que a pessoa 33, por exemplo, possa ser um colega detetive dentro de um cenário ou um assassino em outro, visto que os códigos são válidos apenas dentro de cada cenário. Claro, os contatos forenses e locais serão sempre os mesmos, mas as pessoas e as evidências serão sempre diferentes de cenário para cenário. Isso permite que os desenvolvedores lancem novas histórias - a alma do jogo - através do aplicativo e você não tenha que pagar por componentes físicos de cada expansão, como ocorre em Mansions of Madness, por exemplo. O jogo base vem com 5 cenários, além de 2 DLCs que podem ser compradas. Já estão programados mais 3 novos casos e 2 expansões físicas para saírem esse ano.
OS CENÁRIOS:
Os cenários são, em geral, muito bem escritos, com uma história envolvente e verossímil. Cada um leva em torno de 1:30-2h, não se prolongando muito e mantêm todos na mesa engajados, seja anotando algo, verbalizando sua teoria ou apenas confabulando internamente a solução pro crime.
IMERSÃO, PERO NO MUCHO.
Apesar de muito divertido e inovador, Chronicles of Crime sofre com alguns problemas. O primeiro é a falta "do que fazer" para alguns jogadores. No jogo é necessário uma pessoa para utilizar o celular escaneando os QR codes e lendo o que for passado, e outra pessoa para mexer nos componentes. Mecanicamente falando, os outros jogadores não fazem nada, sendo sua função limitada à dedução e isso quebra um pouco da imersão na investigação. A experiência tátil quase não ocorre e isso, pra mim, prejudica a temática de ser um investigador, pois o grupo todo é visto como um único detetive.
Outra coisa chata que ocorre no jogo é a quebra de verossimilhança em alguns momentos. Por ser limitado com QR codes e ter cenários scriptados, algumas vezes o jogo não se adapta ao que aconteceu na partida. Por exemplo: Uma vez perguntamos a um dos suspeitos, personagem A, sobre uma foto com ameaça de morte que o personagem B recebeu. A resposta dele foi que, sim, ele havia convencido alguém a fazer isso por ele e enviar a foto como uma "brincadeira" para o personagem B. Depois, escaneamos a foto desse personagem (B) na conversa com o suspeito (A), e a resposta foi que ele "nunca tinha ouvido falar" em tal pessoa. Mas peraí! Você não acabou de dizer que você foi o responsável por enviar tal foto pro personagem B? E logo depois diz que não conhece? Como assim, cara?
Situações como essa são claras limitações do aplicativo e, ainda que ocorram poucas vezes, dão uma quebrada na experiência temática no jogo.
Bom, Chronicles of Crime ganhou muitos pontos comigo por vários motivos: inovador e imersivo, com boas histórias e bem divertido, além de ser bem leve e receptivo com novos jogadores. O jogo flui bem e o sistema de QR codes é bem funcional. O jogo tem seus problemas, mas é ótimo nessa pegada investigativa e de dedução e, num universo inundado de euros genéricos e lovecraft, Chronicles se destaca por fazer algo diferente do usual. Bola dentro dos designers e a expectativa é de expansões e DLCs bem sólidas para o futuro.
Curtiu? Veja outras postagens do canal: