Não com pouca frequência me fazem entender que o hobbie é um lugar no qual ou você está, ou você não está. O que nem sempre fica claro é de qual hobbie se está falando ou o que é exatamente esse hobbie.
O que significa estar no hobbie? Todas as respostas à clássica pergunta que o Thiago Leite faz a seus entrevistados (Como você entrou no hobbie) me remetem à ideia de que o “estar no hobbie” está muito mais relacionado a consumir produtos e serviços ligados aos jogos analogicos do que a simplesmente jogá-los.
Basta ver o esforço que alguns fazem para postar fotos de suas jogatinas ou de suas estantes, mostrar camisetas estampadas com alguma frase geek, falar pra todos que acabou de comprar o jogo x ou y, etc. Quem nunca fez isso?
É possível jogar sem ser hobbista? A experiência me mostra que existe um grande número de pessoas que possuem o hábito de se divertir algum jogo analogico sem necessáriamente consumir produtos e serviços relacionados ao que se chama de mercado desse tipo de produto. O que talvez intrigue a muitos é que esse número pode ser muito maior do que do que o número de hobbistas declarados.
Do dicionário, a definição de hobby está sempre associada à idéia de ser algo ao qual se dedica como tempo como “fuga” das atividades cotidianas e por vezes obrigatórias de nossos dias. Em outras palavras hobby é um passatempo. Algo que se faz para passar o tempo, quando não se está por exemplo ocupado com o trabalho (a menos que seu hobby seja o seu trabalho).
hobby s.m.
Passatempo favorito; atividade feita por lazer, distração, prazer, divertimento e não por obrigação: o poquêr era seu hobby…
https://www.dicio.com.br/pesquisa.php?q=hobbie
hobby
s. m.
(palavra inglesa)
.Atividade favorita que serve de derivativo às ocupações habituais. = PASSATEMPO
http://patricksbloggoficial.blogspot.com.br/2013/04/chave-do-produto-microsoft-office.html
Nessa abordagem, qualquer pessoa que “passe o tempo” dedicando-se a algum aspecto de um hobby é um “hobbysta”. O que talvez seja comumente gere alguma confusão é a falta de clareza de alguns quanto ao fato de que podem haver pessoas que se dediquem mais do que outras a um hobby. Se alguém possui mais tempo livre que outra, ela pode certamente se dedicar mais a um passatempo específico.
Quantas vezes você joga por semana? Quantas horas semanais você se dedica a esse passatempo? Quantas horas você teria livre para se dedicar a outras coisas se não praticasse esse hobby?
Claro que existem certas pessoas que não aceitarão jamais (e tampouco tenho o interesse de tentar convence-las) que aquela pessoa que joga banco imobiliário aos finais de semana é tão hobbysta quanto o cara estufa o peito e faz pose para falar que joga Vital Lacerda e que seu autor preferido é o Feld (para os íntimos). Ambos, o jogador de banco imobiliário e o jogador de Vinhos gastam tem como "passatempo" um jogo analógico.
A diferença mais gritante a meu ver, é que banco imobiliário foi e é muito mais importante historicamente e economicamente para a manutenção do hobby. E isso incomoda muita gente que pode argumentar que banco imobiliário não é um jogo moderno.
De antemão, já digo que todo jogo à sua época é moderno se considerarmos que esse termo (moderno) é utilizado no sentido de "ser atual". Se o sentido não for esse precisaremos encontrar uma outra palavra em seu lugar quando formos falar de jogos como Zombicide, Mombasa, Coup, carcassone, etc. Se o é assim qual a necessidade deixar bem claro que jogos como Banco imobiliário, War e até mesmo Magic devem ser desconsiderados para pontuar o momento em que alguém entra no hobby?
Em tempos de comunicação instantânea a necessidade de ser reconhecido pelo outro se tornou imperativo para reconhecer-se a si mesmo. Nesse contexto se fazer, ouvir e ver é necessário para perceber a si próprio. E agora que se grita ao mundo que o “geek é pop”, alguém teve a ideia (note que esse alguém pode ser uma coletividade ) de criar um espaço (abstrato) no qual se possa “estar no hobby” e isso faça sentido para que se possa praticar o reconhecimento pelo olhar do outro.
Mas não estar no hobby não é o bastante, esses espaço foi subdividido e você precisa estar no hobby e dizer se é entusiasta, colecionista, produtor de conteúdo, eurogamer, se gosta de jogos com miniaturas ou de cartas, etc. É preciso mesmo estar no hobby e ter que vestir uma camisa como quem vai a um estádio de futebol não para assistir a um espetáculo mas para contrapor-se à torcida adversária?
Algo que admiro muito nos e-sports, em especial no cenário de League of Legends são os momentos em que lota-se uma arena com gente de todas as idades, torcendo para times diferentes sem delimitação alguma de espaço para uma torcida ou outra. Todos juntos torcendo por suas equipes e aplaudindo as jogadas espetaculares do time adversário. E estou falando da comunidade mais tóxica dos esportes eletrônicos.
Ao que parece essa toxicidade da comunidade de league of legends existe somente na internet. No “ao vivo” isso deixa de existir.
Andando pelas ruas, conversando com outras pessoas que em maior ou menor grau passam o tempo se divertindo com jogos analógicos a toxicidade das redes sociais é algo que nem se quer parece existir. A implicância dos pseudos “eurogamers” para com outros gêneros de jogos analógicos é algo que não tem a conotação exacerbada do mundo online. Na vida real banco imobiliário e war geram rios de dinheiro para a grow e quem joga esses jogos parecem alheios a todas essas imposições que se criou para que alguns se “auto afirmem” como hobbystas, ou como gamers (maneira como se rotulam).
Outra pergunta pertinente é: “o que é ser gamer “? Alguém que joga (jogou) muitos jogos? Alguém que prefere jogos mais demorados? Alguém que joga jogos pouco acessíveis? Alguém que se considera diferente de outras pessoas que praticam o mesmo passatempo com menor frequência ou intensidade? Mais um rótulo que não serve para nada além de fomentar discussões que não levam a lugar algum.
O que é hobby? O que é esse hobby? O que é estar no hobby? E quem não é você nesse hobby?