A lenda do Tubarão-Vampiro sem Dentes
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Eu estava em outra mesa, ensinando alguns alunos e uma aluna a jogar Dogs mas o barulho da mesa mesa ao lado estava passando dos limites. Fui perguntar o porque das risadas em um volume tão elevado e os guris só faltavam rolar no chão de tanto rir. A principio não entendi nada e pedi para que fizessem menos barulho para que os outros pudessem se concentrar em suas próprias partidas. Foi então que por um breve momento eles contiveram o riso e me apresentaram à lenda viva "O tubarão sem dente".
É impressionante como alguns jogos passam por nós longe dos holofotes. O Ataque dos Tubarões-Vampiro é um destes jogos. Eu mesmo nunca dei tanta atenção para o jogo e me pergunto o porquê.
Conheci esse jogo através do canal do Thiago Leite e da Casa Nerd. Na época não fiquei empolgado pois estava com bastante jogos recém adquiridos e o próprio mercado estava começando a aquecer com jogos "de peso" sendo lançados no Brasil. O próprio preço cobrado pelo jogo à época não me era muito atraente. Só para se ter uma ideia Puerto Rico estava à venda na loja da GROW por R$ 159,00; Comprei meu Survive: Escape from Atlantis! (nacional) por R$ 149,00.
O Ataque dos Tubarões-Vampiro não é um jogo caro, muito pelo contrário, no Site da Lends seu preço é R$ 149,90 (25/09/2016). Mas analisando-o hoje tenho certeza que algumas coisas poderiam terem sido feitas de uma outra forma, de maneira a sintonizar melhor o jogo com o momento que a comunidade/mercado se encontrava. Talvez, pensando numa reedição do jogo ou em uma próxima tiragem algumas coisas poderiam serem retrabalhadas. Eu gostaria muito de ver: O retorno dos tubarões vampiros ou quem sabe tubarões vampiros vs pescadores zumbis ou qualquer título de filme B que vocês consigam pensar.
A primeira vista pode-se ter uma impressão errada do jogo dada a uma aparente semelhança com Survive: Escape from Atlantis!.
Essa aparente semelhança fica por conta três coisas:
1) Do fato dos dois jogos se passar em um território marítimo e usar um tabuleiro com malha hexagonal;
2) Da paleta de Cores da arte do jogo trazerem tonalidades muito próximas;
3) Dar aos jogadores o controle de meeples e ter uma barbatana de tubarão como "meeple tubarão".
Apesar disso os jogos são completamente diferentes em tudo o mais e por mais que os chatos de plantão argumentem o contrário, O Ataque dos tubarões vampiros é um jogo que tem méritos próprios.
Toda vez que um Pirata estiver ameaçado por um tubarão vampiro, o jogador que o controla deve contar quantos hexágonos livres ele possui adjacente a ele. Esses hexágonos são as suas possíveis rotas de fuga do ataque do terrível pedrador. O jogador que controla o tubarão vampiro deve formar uma mão de cartas:
a) Para cada rota livre que o o pirata possua o jogador-tubarão deve adicionar uma carta a essa mão de cartas;
b) Uma das cartas que compõe a mão de cartas do jogador-tubarão deve ser obrigatoriamente a carta de mordida;
O jogador pirata que está sendo ameaçado pelo tubarão deve escolhe aleatoriamente uma das cartas da mão do jogador-tubarão. Se a carta retirada pelo jogador for uma carta de fundo azul ele escapa do ataque do tubarão. Porém se a carta for de fundo vermelho, ele foi mordido e irá se tornar um tubarão-vampiro.
Os meninos me explicaram que o tubarão vampiro já estava há quase 20 minutos sem conseguir morder ninguém. Toda vez que o tubarão realizava um ataque o jogador-pirata simplesmente conseguia escapar do tubarão vampiro ao escolher (aleatoriamente) a carta de fundo azul. Como o tubarão não consegui morder os piratas dos jogadores apelidaram-no de Tubarão sem dentes. Pedi desculpas ao jogador tubarão já que eu mesmo não consegui evitar de rir pela situação onde haviam chegado.
Então lembrei a eles a regra "MORTE CERTA" da página 6 do livro de regras:
MORTE CERTA: Quando existe apenas o tubarão-vampiro inicial em jogo, e ele errar 3 ataques consecutivos, o 4º ataque terá sucesso automaticamente (o pirata irá morrer) mas o tubarão-vampiro inicial não ganhará pontos por essa mordida. Isso acontece apenas com o tubarão-vampiro inicial, enquanto não houver outros tubarões-vampiro no tabuleiro, caso ele não esteja conseguindo morder ninguém !!!!!
(Claro que eles odiaram essa regra)
Terminada a sessão, sentado a mesa e olhando para o jogo, revisitando seu manual de regras cheguei a conclusão que O Ataque dos Tubarões Vampiros é um jogo fechadinho (como dizem) mas que é muito menor do que poderia ter sido. Não é pretensão minha menosprezar o jogo ou apontar suas falhas mas destacar alguns pontos que considero serem importantes pontos de partida para uma futura reedição ou implementação.
Cartas de Pontuação:
- O jogo possui 60 cartas de pontos! Cartas (44.0 mm X 68.0 mm) que servem apenas para marcar pontos. Considero uma forma muito pobre de se utilizar essa quantidade de cartas. Ao invés de cartas o jogo poderia contar com uma trilha de pontuação nas laterais do tabuleiro como tanto se vê em jogos euro.
- Se for intenção do design que o jogador mantenha sua pontuação escondida, talvez uns pequenos marcadores em formato de moeda ainda assim fossem mais barato.
- Depois de acomodar todas essas 60 cartas em sleeves elas ficam muito ruim de serem empilhadas no local indicado no tabuleiro.
Cartas de Ataque:
As cinco cartas de ataque são manipuladas a todo momento e por isso considero que (63.5 mm X 88.0 mm) protege-las com sleeves é mais que obrigatório. Analisando a maneira com a qual são utilizadas gostei bastante do fato de cada carta representar uma possibilidade de fuga para o pirata. Mas algo que me incomodou bastante foi:
- Quando o jogador só tem 1 possibilidade de fuga, a mão de cartas do tubarão vampiro é composta por apenas uma carta e esta é necessariamente a carta de mordida (fundo vermelho). Ou seja, ele não tem escapatória. Tematicamente pode até fazer sentido mas como a regra para resolver o ataque do tubarão é baseada apenas em sorte "tematicamente fazer sentido" não justifica isso.
Como nosso grupo resolveu isso:
- Para cada possibilidade de fuga haverá uma carta de fundo azul.
- Para cada tubarão que está tacando o pirata, uma carta de tubarão é adicionada à mão de cartas.
O problema que isso gerou: O jogo só vem com uma única carta de tubarão vampiro. Então implementamos no jogo 1 carta de tubarão vampiro para cada jogador. Inclusive o fundo da carta de tubarão de cada jogador passou a corresponder a cor do jogador em questão. No caso de pirata ser mordido, o tubarão que leva a pontuação por isso é aquele cuja carta foi sorteada pelo jogador-pirata.
Uma coisa mais simples que pode ser feita é no lugar de usar cartas, resolver o ataque rolando um dado de 6 faces. O jogador pirata conta quantas são as sus possibilidades de fuga e rola 1d6. Para escapar ele deve tirar no dado um número menor ou igual ao número de hexágonos que ele tem disponível para fugir. Considerando ainda que o número 1 é sempre um sucesso. Com essa house rule o jogo ficou muito mais emocionante e épico. Adotando um dado de 6 faces no lugar das cartas de ataque, economizaria-se mais custo de produção.
Após essa primeira leva de brincadeira de modificar as regras inventamos tanta coisa e modificamos tanto o jogo que nem parece mais o mesmo jogo. Estou pensando em submeter essas alterações para aprovação do autor e se ele me autorizar posso disponibilizar aqui na Ludopedia. Essas regras tornam o jogo melhor? Não. Mas dão mais variabilidade na experiência de jogo e consequentemente aumentam a rejogabilidade (algo que é bom principalmente para quem dispõe de poucos jogos em sua coleção).
Mas o ponto que quero chegar é: O Ataque dos Tubarões-Vampiro é um jogo que peca por não ter passado mais tempo na prancheta. Na entrevista com Thiago Leite o autor conta que já tem esse jogo a bastante tempo e não tenho dúvida que ele pensou bastante sobre o jogo e sobre seu funcionamento. Volto a dizer que o jogo é muito bom, mas poderia ser melhor se o autor ou o editor tivesse uma bagagem maior ou utilizado melhor a bagagem que possuem na área de jogos.
O que sempre falo e tenho como um lema para mim mesmo é: se quer criar u jogo, jogue. Mas jogue muito. O próprio Eron reconheceu que nunca tinha ouvido falar do Survive: Escape from Atlantis!, um jogo de 1982. Acho que o Ataque dos Tubarões-Vampiro merce uma segunda chance da comunidade, ppor ser um ótimo e divertido jogo que gera inúmeras situações engraçadas e ao mesmo tempo o jogo merece uma segunda chance de seu próprio autor, hoje acredito que com muito mais bagagem e com outra maneira de olhar o mercado.
Dedicatória e Agradecimento
Quero agradecer aos meninos que participaram do nosso encontro semanal de jogatina lá no colégio e tenho certeza que assim como eu, jamais esquecerão a lenda do Tubarão Vampiro sem dentes ...
- O jogo possui 60 cartas de pontos! Cartas (44.0 mm X 68.0 mm) que servem apenas para marcar pontos. Considero uma forma muito pobre de se utilizar essa quantidade de cartas. Ao invés de cartas o jogo poderia contar com uma trilha de pontuação nas laterais do tabuleiro como tanto se vê em jogos euro.
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Muito legal essa análise @professor e que bom que o jogo rendeu muitas risadas pois é para isso que ele existe
Quanto as regras e a inclusão de um dado no jogo, após o lançamento do jogo seguimos jogando ele em eventos e na própria loja da Lends em Porto Alegre e veio do Eron um set de regras que deixava o jogo muito mais dinâmico e redondo adicionando dados. Com uma versão intuitiva e mais simples que o jogo original mas mantendo sua essência estamos atualizando esse pack novo de regras para que agora com a chegada do verão lancemos para a comunidade.
Quanto a postar suas regras variantes aqui na ludopedia, sinta-se à vontade e espero que logo logo o Eron apareça por aqui para dar sua palavra e explicar suas decisões de design.
Abs e boa diversão
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Obrigado pelo retorno. O jogo ficou tão famoso na escola que terei que abrir a segunda cópia e dispor mais uma mesa na próxima jogatina. No aguardo de novidades.
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Olá, @professor
Fiquei muito feliz com seu post. Que beleza poder proporcionar diversão para as pessoas, esse é o grande objetivo, sempre. Agradeço sua análise bem fundamentada. Além de agradecer, quero sanar as suas dúvidas:
1 - Sobre as cartas de pontuação, sim, a intenção é esconder quem está vencendo. Realmente, é um "exagero" para sua finalidade, mas foi a solução mais barata.
2 - Sobre as cartas de ataque, não vejo problema e é a primeira vez que alguém fala nisso, somando playtests e partidas jogadas após o lançamento. Estou satisfeito com a forma atual.
3 - Sobre dados: acontece que a aleatoriedade que o dado gera é muito diferente das cartas. O dado trabalha sozinho. Com as cartas, existe a adivinhação, que gera tensão, que é emoção. Ao oferecer as cartas, existe a possibilidade do tubarão colocar na esquerda, no meio, na direita, etc. E existe ainda o passado recente, quando, na jogada anterior, ele colocou na esquerda, no meio, na direita... Olhar no olho de quem oferece as cartas e tentar ler onde está a carta de mordida, não tem preço. Se não fosse assim, o que seria do pôquer?
4 - O jogo não pecou por não ficar mais tempo na prancheta, teve quase 100 playtests. Acho que pensamos diferente, só isso.
Enfim, acho sensacional a iniciativa de vocês de mudarem as regras, eu faço isso direto. Jogo Carcassonne com 3 tiles abertas, para diminuir a sorte, e dinheiro no lugar do marcador, para esconder as pontuações. Jogo Catan com duas roladas de dado, para haver escolha de um dos números e diminuição da sorte. Acabo de comprar o Isla Dorada e já mudei 30% das regras. E achei o jogo excelente. Pra fechar, conto que joguei Cartel por mais de 10 anos com regras totalmente modificadas. O jogo mudou tanto, que já é outro jogo. A ponto de estar finalizado para lançamento, com outra temática. Ah, e sobre o Tutuba, devido a uma demanda de uma grande empresa, que solicitou uma regra mais acessível para quem sabe um futuro relançamento, acabei criando algo bem legal. No fim, achei melhor que a original. Se você tiver interesse, eu posto o pdf.
Grande abraço e obrigado pela deferência.
Eron. -
Opa!
Se está tudo certo, não tem nada errado. Agradecido pelo retorno e que bom que gostaste.
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