Não, azul não é a cor mais quente, mas é a cor de um dos melhores jogos já produzidos. Em meio a tantos lançamentos diários, ano após ano, poucos jogos terão o destino de Azul (2017), do alemão Michael Kiesling: ser ao mesmo tempo algo novo e antigo!
Novo, por não se parecer com nenhum outro jogo conhecido; e antigo, porque sua simplicidade permite que qualquer pessoa comece a jogá-lo, depois de dois ou três minutos de explicação de regras.
O curso completo vem com duas ou três partidas; o mestrado, com umas 5 ou 6; e o doutorado, por toda a existência, pois, como Go (22), Mancala (550) ou Xadrez (1475), esse é um jogo que não enjoa, nem se esgota. Sua rejogabilidade está em gostar de jogá-lo, melhorando o seu desempenho pouco a pouco, com raciocínio bem aplicado e a experiência adquirida.
Pegue os azulejos do depósito comum a todos os jogadores e os coloque na sua área de trabalho. Depois, assente-os em sua parede, atentando para não desperdiçar material e buscando a melhor pontuação possível. Raciocínio é tudo e, como um experiente mestre de obras, seu trabalho terá o brilho de seu talento para a disposição de cores e desenhos.
Se Xadrez é o jogo da disputa humana por poder, se Go representa o desejo de supremacia territorial que insufla as nações à guerra, se Mancala é o resultado das contas diárias a que se obriga a humanidade há milênios, Azul é um sucedâneo do trabalho: uma representação perfeita do nosso dia a dia, do amanhecer ao entardecer. Está tudo ali: as dificuldades de escolha, o labor paciente, a solução de problemas, os impasses, os fracassos, os êxitos, a satisfação pessoal…
Jogar Azul é reviver uma vida de trabalho diário sem o ônus de carregar peso ou suportar stress. O objetivo é a vitória, mas a verdadeira recompensa fica a cargo da experiência obtida, na qual perder é só um detalhe, e ganhar, um brilho a mais.
Mayrant Gallo é professor, escritor, boardgamer e sócio da Invasion BG. Já publicou mais de 15 livros. Entusiasta por jogos de tabuleiro, tem predileção por jogos para 2 pessoas e solo. Tematicamente, aprecia jogos de construção de cidades e sobre a Guerra Fria. Entre as mecânicas de que mais gosta estão: colocação de peças, construção a partir de um modelo, seleção de cartas, controle de área e gestão de mão.
- Este e outros textos sobre Board Games também podem ser lidos no nosso blog, clicando aqui.
- Caso queira ser avisado quando postarmos novos textos, basta clicar aqui.