São inúmeras as razões para não jogarmos uma caixa com a frequência que gostaríamos. Falta de tempo ou falta de grupo, muitas opções de jogos, novos lançamentos ou preferências da turma…
Seja qual for a razão, sempre temos aquele jogo que tanto amamos e quase não vê mesa. E lamentamos tanto a ponto de virar festa quando a oportunidade aparece. Sua vez chegou, Lorenzo il Magnifico (Meeple BR Jogos)!
Caixa do Jogo Lorenzo il Magnifico
Era Renascença italiana e Florença vivia um período em que famílias nobres buscavam cada vez mais fama e prestígio. Eu representava uma dessas famílias.
Para isso eu enviava meus familiares às torres da cidade para adquirir algum desenvolvimento (cartas), cada um com seu poder de influência (definido pelos dados em comum) e, caso preciso, com ajuda de serviçais.
Procurei logo o apoio de Ludovico il Moro, o Mourão, mas precisava ter um pouco de tudo: Conquistar dois territórios (cartas verdes), participar de duas venturosas campanhas (cartas roxas), financiar duas construções da cidade (cartas amarelas) e ganhar confiança de dois personagens importantes (cartas azuis)!
Campanhas venturosas e Personagens influenciados!
Ufa! Achei que seria mais fácil. Agradar aos líderes requer esforço, mas a recompensa vale um benefício permanente até o fim da partida — o Mourão transformava os dados em valor 5 para mim.
Ao fim de cada uma das eras vinha a prestação de contas à igreja: demonstrar sua fé! O catolicismo exercia grande influência sobre a sociedade numa época de transição entre a punição pela excomunhão (penalidades do jogo) marcada pelo fim da idade média e a misericórdia pela devoção (pontos de vitória) do início da idade moderna.
Escassez de recursos — Dinheiro, madeira, pedra e serviçal
Todos conseguiram provar sua fé, mesmo que atrapalhasse diretamente outros planos. Por vezes fiz meus familiares exclusivamente buscarem serviçais ou ganharem algumas liras — dois recursos fundamentais nessa partida.
Até meu primo distante (aquele sem a “cor” do jogador) foi de grande importância, embora quase não tenha ido a locais que já havia visitado na rodada. Digamos que ele teve seu valor — mesmo sendo zero no dado. Coitado.
No fim da terceira era, Lorenzo de’ Medici, o Magnífico, deu as caras garantindo-me somente um ponto de fé ao copiar a habilidade de outro líder, mas que rendeu preciosos pontos de vitória e fez da minha a família mais influente da Itália renascentista!
O Mourão e O Magnífico — Líderes em ação
Em meio a um clima de cobertor curto,
Lorenzo il Magnifico gera dúvidas sobre sua definição. Um jogo estratégico ou tático? De bloqueio ou de escassez de recursos? Dependente de sorte ou totalmente administrável?
Para todas as perguntas acima opiniões surgem. Há uma sensação que isso mude a cada partida, principalmente pelo quanto cada um conhece do jogo e é afetado pelos demais jogadores.
As torres e as cartas do jogo
A unanimidade surge com a questão sobre cartas. Conhecer o jogo e o que cada carta faz pode ser determinante para uma boa partida entre iniciantes e experientes, ainda que não comprometa a diversão na mesa.
Por outro lado, quem sofre com o AP — a famosa
Analysis Paralysis, ou Paralisia de Análise — pode ir na contramão e deixar
Lorenzo il Magnifico na estante. Aqui entra a importância de se conhecer as principais possibilidades. E só jogando para conhecer melhor.
Isso não significa falta de rejogabilidade ou existência de um caminho certeiro para a vitória, justificado pelo fator tático da posição das cartas e do bloqueio dos adversários aliado à estratégia pelas cartas de líder e as cartas de desenvolvimento já adquiridas.
Mesmo com todas as cartas sempre aparecendo, o jogo se revela desafiador e único — com diferentes penalidades da igreja e valores dos familiares alterando a interação entre jogadores.
Recursos de jogo alterados para componentes realísticos e moedas de metal
O jogo também traz a sensação de recursos limitados sem sufocar ou mesmo arruinar sua estratégia — o que seria um anticlímax para qualquer um! A geração desses recursos com a colheita (das cartas verdes) e a produção (das cartas amarelas) é uma das melhores partes. Além da construção de um “motor” o jogador precisa ativá-lo!
Sobre a rolagem de dados, aqui ela é comum aos jogadores. Os resultados são compartilhados. A sorte não é exclusiva e ainda pode ser administrada pelo uso dos serviçais e das cartas azuis.
Dados representando o valor dos familiares
Todas essas impressões faz de
Lorenzo il Magnifico um dos jogos favoritos da coleção. Ainda assim é um título pouco explorado.
Dixit Odyssey (Galápagos Jogos) ou
Kingdomino (PaperGames) não saem da mesa em grupos que preferem jogos leves.
Projeto Gaia (Grok Games) e
Terraforming Mars (Meeple BR Jogos) são da turma dos jogos mais pesados.
Ticket To Ride (Galápagos Jogos) e
Wingspan (Grok Games) ficam com os mais familiares.
Para fechar os exemplos, as novidades sempre roubam cena — e quando revelam-se bons jogos como o recente
Ishtar: Gardens of Babylon (Buró Brasil) costumam desdobrar muitas partidas! E aquele jogo que tanto se gosta vai ficando para trás…
Já quero jogar de novo! Quando? Não sei =/
A boa notícia é que o tão amado jogo nunca deixará de ser o que é. As vezes é só questão de tempo ou grupo. Mesmo que não seja frequente, cada partida vale a pena. Com Lorenzo ou não, magnífico é se divertir!
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Originalmente publicado em Mais que Jogo: Lorenzo il Magnifico + amados pouco jogados
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Dicas para ler, ver e ouvir:
Em texto: Tábula Quadrada, Imersão BG: Lorenzo il Magnifico
Em áudio: Tabulices, O que gostamos nos jogos?
Em vídeo: Siga o Coelho, Review #45