Quem dera se a turbulência política que vivemos pudesse ser somente no tabuleiro, durando apenas uma partida e com a segurança que tudo volte ao normal ao término do jogo.
Caixa do jogo Terraforming Mars
Abordando uma temática não muito comum, com alguma insistência experimentei
Terraforming Mars (Meeple BR Jogos) com sua nova expansão
Reviravolta para conhecer o lado lúdico da política.
A sociedade já vive novos tempos no ano de 2315. A cada geração o desafio de terraformar o planeta vermelho é superado com alta tecnologia através das megacorporações e o patrocínio do Governo Mundial da Terra.
Fui CEO (
Chief Executive Officer, ou Diretor Executivo) da Thorgate. Como o nome sugere, minha empresa era especializada em energia, o que me garantia descontos em projetos da área. Isso facilitava viajar com minha nave para o planeta-anão Ceres e Encélado, lua de Saturno, e negociar com as colônias aço e microrganismos.
Mas não bastava desenvolver projetos e explorar colônias. Ter influência política no Comitê de Terraformação foi útil para os interesses da minha companhia - ou atrapalhar a vida da concorrência...
Presidindo o Comitê de Terraformação
Como desenvolvi minha produção de metais, meus delegados tentavam influenciar no partido da Unidade, que permitia a valorização do titânio. Como na velha política, eu também precisava de influência em outros partidos, o Marte Primeiro e o dos Cientistas, garantindo bônus por ícone de construção e ciência, respectivamente.
Eram tempos incertos. A reviravolta era acompanhada de eventos globais que afetavam diretamente a economia. Passamos por tempestades, pandemia - que superamos, vale destacar! - e até uma revolta da I.A. (Inteligência Artificial) que culminou no desligamento da Solarnet - bem no estilo WestWorld (série televisiva da HBO).
Em algumas gerações, a pesquisa em I.A. resultaria num evento indesejado
Ocorriam eventos positivos também. Participar do partido majoritário amenizava ou, neste caso, maximizava os efeitos da reviravolta - com uso da influência sempre em benefício de sua corporação.
Após 12 gerações, um novo lar emergia. Clima ideal, cidades, florestas e oceanos faziam de Marte uma nova esperança para a raça humana após uma acirrada disputa pelo maior marco da história - um novo planeta habitável.
Cidades, florestas e oceanos na superfície de Marte
Viver o lado político dessa corrida não foi tarefa fácil. Excluídas as influências da vida real, saber que política era a premissa para a nova expansão do excelente
Terraforming Mars desestimulou conhecê-la por adicionar um tema pessoalmente não agradável e uma burocracia a mais num jogo já completo.
Terraforming Mars é o título que mais joguei até o momento - em número de vezes e horas de partidas! A última aquisição de expansão para ele havia sido os mapas
Terraforming Mars: Hellas & Elysium que diversificam principalmente Marcos e Prêmios (pontuações de final de jogo).
Terraforming Mars: Preludio acelera o início do jogo aumentando a produção.
Terraforming Mars: Venus Next adiciona a terraformação de Vênus como um novo parâmetro global. Naves e luas entram em jogo como alternativa para aquisição de recursos em
Terraforming Mars: Colônias.
Frotas para negociar em diferentes satélites do sistema solar
Reviravolta é a primeira expansão que realmente traz uma nova mecânica de interação direta entre jogadores - um controle de área fora do mapa - e eventos que mudam pequenas regras do jogo original.
Inicialmente ela não é intuitiva e exige um conjunto de etapas que foge da simplicidade da fase solar apresentada em
Venus Next (com a Terraformação pelo Governo Mundial) e em
Colônias (com a Produção das Colônias) - tanto que o tabuleiro de eventos já vem com o passo a passo impresso.
Um novo conjunto de cartas tem dupla função: gerenciar os efeitos dos eventos globais e inserir delegados neutros no tabuleiro do Comitê de Terraformação. Esse segundo tabuleiro requer verificação e atualização a cada rodada para aplicação de novos efeitos, acompanhada da nova ação de indicação de delegados e lobistas.
E isso tudo somado a um jogo que já funciona tão bem só com a caixa base e cresce com as demais expansões. Mais regras que podem desmotivar conhecer novas possibilidades.
Fui processado! 
A virada surge quando se descobre o quão bom foi ter jogado a expansão! Quantas vezes você se limitou a conhecer jogos e expansões por não querer aprender regras ou achar que não seria seu estilo?
Por vezes caio no mesmo problema. Já recusei partidas de
Terra Mystica (Grok Games) por ouvir que era complexo demais.
Great Western Trail (Conclave Editora) era deixado para depois por ter manual confuso e poluído. Ver
Lorenzo il Magnifico (Meeple BR Jogos) em vídeos - de baixa qualidade, diga-se de passagem - me fez detestar a arte que ao vivo amei!
Pequenos exemplos de grandes barreiras que separam partidas envolventes de um jogador, no mínimo, desinteressado. Embora seja um comportamento frequente entre jogadores novatos ou casuais, é comum acontecer em grupos habituais.
Ninguém é obrigado a conhecer tudo que estiver disponível e não será sempre que essas experiências se revelarão positivas. Entretanto, as frustrações também fazem parte e ajudam a traçar um perfil de jogador em constante evolução.
Caixa da expansão Reviravolta (lá fora lançada como Turmoil)
Em
Terraforming Mars,
Reviravolta aumenta o tempo de jogo, porém torna a interação mais dinâmica. A sensação é de começo um pouco arrastado e final decolando! Estrategicamente não pode ser ignorada como as demais expansões.
Reviravolta acrescenta uma nova forma de pensar e agir bem-vinda ao jogo. Que os conflitos políticos possam ser resolvidos com muito diálogo - e por mais que cada um lute pelos interesses de sua corporação, que seja pelo bem da humanidade!
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Originalmente publicado em Mais que Jogo: Terraforming Mars + quebrando barreiras
Mais do assunto
Dicas para ler, ver e ouvir:
Em texto:
Tábula Quadrada,
Imersão BG: Terraforming Mars e o planeta vermelho
Em áudio:
Nordicast,
Fim de Jogo 17 - Engine Building
Em vídeo:
Jogatina BG,
Terraforming Mars - Análise!