Ano passado tive muitos problemas particulares e infelizmente, como todo bom consumista, uma das formas de "relaxar", além de descontar na comida foi acabar pegando alguns jogos em kickstarter, que começaram a chegar neste ano. Irei fazer o review de todos possíveis assim que for recebendo.
Esta semana, chegou minha cópia de Isle of Cats, jogo de Frank West, designer que eu particularmente não conhecia. Antes de falar sobre o jogo, quero deixar claro que este canal não tem o intuito de ser profissional, as fotos todas foram tiradas durante minha jogatina, sem preocupações com sombra, luz, se tem algo aparecendo, etc. Enfim, uma postagem feita apenas por um jogador que gosta de escrever.
Caixa do Jogo. Bem linda.
O lore do jogo é simples. Existiam histórias sobre uma ilha de gatos antigos, praticamente mágicos, com status lendário. Porém, alguém descobriu a localização da ilha e agora um barão maligno quer roubar os gatos. O objetivo dos jogadores é salvar o máximo de gatos possíveis em 5 dias (ou turnos), que é o tempo que o barão demorará para alcançar a ilha.
Pra quem tem gatos, sabe o quanto esse "setup" é irritante. Haha
Bom, cada dia do jogo é dividido em várias fases.
Incoming: Cada jogador recebe 20 peixes, que são as moedas do jogo. Existem algumas, mas poucas maneiras de se aumentar esse incoming. No geral, a renda é mesmo 20 peixes e não há muito o que fazer a respeito.
Draft: Cada jogador compra 7 cartas, fica com duas e passa as restantes ao coleguinha. Este passo se repete até cada um ter 7 cartas na mão. No modo solo, o draft funciona da seguinte forma: Compra 5 cartas, escolhe 3 e descarta 2. Compra mais 3 e repete o processo. Ao final, pegue uma aleatória do monte, totalizando 7 cartas.
Após cada jogador ter seu set de 7 cartas deve decidir com quais quer ficar, pagando seu respectivo custo. Não há limite de cartas na mão. Uma vez compradas, podem ser utilizadas em qualquer rodada seguinte. Nos pontos negativos falarei um pouco sobre esta parte.
As cartas do draft podem ser de vários tipos e devem ser jogadas sempre na mesma ordem descrita a seguir, por todos ao mesmo tempo:
Cartas Azuis: São cartas de "lições" objetivos particulares que valerão pontos ao jogador no final da partida. Também existem cartas de objetivo público, que devem ser abertas. Se o jogador comprar um objetivo particular, fica fechado com ele até o fim do jogo. Se o objetivo for público, ele é obrigado a abrir para todos na mesa.
Cartas Verdes: elas tem um número de velocidade (que define a iniciativa) e alguns cestos inteiros, ou quebrados. Na fase de pegar gatos explico melhor estas cartas.
Cartas Marrons: Possibilitam pegar um gato coringa (chamado de oshax) ou algum tesouro raro.
Cartas Roxas: Tem como objetivo "quebrar as regras" do jogo e são de uso único. Permitem por exemplo que se capture dois gatos de uma vez, ou coloque um gato em local que normalmente não poderia. Algumas cartas também dão peixes por tesouros no barco.
Captura de gatos: Após o draft e descer as cartas azuis, vamos para a fase de captura. Existem dois campos no jogo. Em um os gatos custam 3 peixes e no outro 5. É tudo aleatório. Simplesmente retira do saco alguns gatos (depende da quantidade de jogadores) e coloca do lado barato e depois repete o processo pro lado mais caro.
Barco vazio no início do jogo.
Cada jogador escolhe então quantas cartas verdes quer descer. Isso é feito ao mesmo tempo e então todos revelam suas cartas. As cartas verdes possuem um número de botas, que deve ser somado. Essa soma é a iniciativa da rodada, definindo quem vai poder resgatar um gato primeiro. As cartas também possuem cestas inteiras ou quebradas. Para resgatar um gato, o jogador precisa ter uma cesta. Todos começam com uma cesta fixa, que pode ser utilizada uma vez a cada rodada. Isso significa que pode resgatar apenas um gato, não importa quantos peixes tenha. Cada "resgate adicional" custa uma cesta inteira ou duas quebradas. Vale ressaltar que um jogador não resgata todos seus possíveis gatos de uma vez. Após iniciativa definida, o jogador escolhe um, depois outro jogador e assim por diante. Quando voltar ao jogador inicial, se ele ainda tiver cestas pode coletar um novo gato.
A regra de colocação é simples: o primeiro gato pode ser colocado em qualquer lugar do tabuleiro. Todos os outros precisam ser adjacentes a algum já existente. Como é possível ver na foto acima, existem alguns "mapas" no tabuleiro. Se o jogador cobrir um mapa com um gato da mesma cor, ele pega um tesouro comum e pode colocar imediatamente em seu tabuleiro.
Quando todos os jogadores passarem, ou não tiverem mais cestas, podem ser utilizadas as cartas marrons, que possibilitam que se pegue um gato coringa ou tesouros raros (tesouros raros valem PV ao fim do jogo, enquanto os comuns servem apenas para completar espaços).
Por fim, todos os gatos que sobraram são descartados e uma nova rodada se inicia.
Ao fim do quinto turno, ocorre a pontuação final, que é basicamente:
Família de gatos: 3 ou mais gatos da mesma cor adjacentes são uma família. Quanto mais gatos da mesma cor juntos, mais pontos. Os pontos vão de 8 a 40, dependendo da quantidade de gatos na família.
Lições Particulares e Públicas: valem os pontos descritos se você cumprir os objetivos. Geralmente são bem específicos, como "ter exatamente 7 gatos de determinada cor", ao invés de genéricos como "ganha 1 ponto para cada gato azul".
Tesouros Raros: Cada tesouro raro vale 3 pontos.
Existem porém, muitos pontos negativos para subtrair ao final da partida:
Cada rato visível vale -1 ponto.
O barco tem 7 cômodos. Cada cômodo que não esteja completamente coberto vale -5 pontos.
Barco ao final da partida
De verdade, é um jogo simples com cobertor curto, mas bem gostoso de jogar. Joguei apenas o modo solo, que funciona muito bem, com um automa simples e funcional. A partida não foi demorada e como peixe é um material escasso, existem diversos momentos de pensar se vale a pena comprar uma carta, guardar peixe pra próxima rodada, etc. É um jogo simples de jogar, mas que começa com 54 pontos negativos e portanto as ações devem ser pensadas.
Existe também um modo família para jogar com crianças, com regras simplificadas, sem custo de peixes para resgatar gatos, sem drafts e outras facilidades. Então o jogo funciona bem com pequenos também, o que é ótimo pra quem quer colocar os babys na jogatina.
Meeples versão KS. Servem apenas para determinar iniciativa, mas são bonitos

Modo Solo:
O modo solo é bom. Existe uma "jogadora fantasma" chamada sister, porém não é necessário fazer nenhum planejamento para ela. Existem dois decks de pontuações (básico e avançado). No modo fácil a sister tem 3 cartas de pontuação básicas, e pode-se adicionar cartas avançadas para aumentar a dificiculdade. Basicamente, ela ganha pontos por coisas que você fez ou não. Na minha primeira partida, por exemplo, cada rato visível no meu barco, valia 5 pontos para ela. Cada mapa coberto, valia mais 4 pontos. Gatos que fizessem parte da maior família, valeriam 2 pontos cada, e assim por diante. Como tem muitas cartas de objetivo, a variação no modo solo é enorme e não é apenas tentar bater sua própria pontuação como ocorre em alguns euros do tipo e sim realmente competir contra alguém, sendo que muitas vezes decisões difíceis precisam ser tomadas (cobrir um mapa me daria um tesouro que não vale pontuação, mas me ajudaria cobrir 2 ratos e fechar um cômodo. Isso compensa os 4 pontos que iriam para ela?) A jogadora fantasma também ganha pontos por cor de gatos. Cada rodada uma nova cor é aberta. Para cada gato da primeira cor no seu tabuleiro, sister ganha 5 pontos. Na segunda rodada, nova cor é aberta e cada gato dessa cor vale 4 pontos. Assim por diante. Ou seja, também é necessário evitar pegar cores que valham pontos altos para a sister. Na minha primeira partida, fiz apenas 49 pontos enquanto a sister fez 80.
E do que não gostei?
Basicamente três coisas:
1 - As cartas de lições públicas, ao meu ver, deveriam ser sorteadas e abertas 3 no inicio da partida. Não me parece uma boa jogada alguém pagar por uma carta de objetivo que vai valer para todos os jogadores.
2 - Os cômodos não são muito fáceis de identificar. Poderia ter uma cor um pouco diferente, para facilitar. Na real, eles tem símbolos nos cantos, mas poderiam ser 7 símbolos diferentes. Eles se repetem em lados opostos do barco. Na hora de contar a pontuação, achei que era o mesmo cômodo, mas não eram. Sem contar se o barco tivesse aquela cor meio transparente para cada cômodo, facilitaria contar os pontos negativos. Mas isso não é nada que atrapalhe e entendo ter prevalecido a arte do que a funcionalidade neste caso.
3 - Não terei esse problema em nenhum dos meus grupos, mas pra mim é a maior falha de design. Permitir que roubem. O próprio autor do jogo se manifestou, que quando cria um design ele presume que as pessoas se conhecem, não vão roubar e que, se alguém no seu grupo rouba, deveria ser evitado. O problema pra mim é na hora do draft e pagar as cartas.
Cada carta tem um valor variável de 0 a 6 peixes. Porém, como as cartas são fechadas e você paga NA HORA QUE COMPRA e não na hora que usa, é necessário confiar que o coleguinha está pagando 5 peixes por que realmente suas cartas custam 5 peixes.
Até discuti no BGG sobre pagar apenas na hora que utilizar a carta, mas a maioria concordou que isso quebraria a economia do jogo, pois permitira que um jogador ficasse com todas as 7 cartas e não necessariamente as utilizasse, enquanto que obrigar a pagar na hora torna mais difícil escolher o que manter. Uma solução seria mostrar apenas o valor das cartas compradas. Porém, como elas tem cores diferentes, os outros jogadores saberiam quantas cartas azuis, verdes, marrons ou roxas você tem.
Outro problema de confiança é das cartas azuis públicas. Se você comprou uma nessa rodada, ela deve ser aberta na hora. Mais uma vez, quem garante que algum jogador mais trapaceiro não vai guardar uma carta de objetivo pública?
Enfim, é um jogo que para jogar, é necessário ter uma mesa confiável e neste caso, dá pra curtir bastante o jogo. Se algum dia vier para terras tupiniquins e você gosta de tile placement cobertor curto, é uma boa aposta, desde que esteja disposto a ignorar esses pequenos "defeitos" ao meu ver.