Canal novo na Ludopédia. Sei que já existem milhares de canais, mas curto a ideia de reviews escritos e sinto falta de reviews para conhecer jogos diferentes e pouco acessíveis pro grande público. Meu canal irá se focar nesses jogos, embora eu também possa fazer reviews de jogos que acabaram de lançar, ou mesmo dos blockbusters. Afinal, mais uma opinião é sempre válida. Dito isso, vamos a primeira análise. E se gostar, se inscreva.
Todos sabemos que hoje em dia, a inclusão em jogos de tabuleiros é meio que uma preocupação dos designers. Utilizar cores que não confundam um daltônico por exemplo, ou então, apesar das cores, colocar símbolos diferentes, para que se facilite a visualização. Mas confesso que nunca havia visto um jogo projetado para deficientes visuais. Preciso confessar que só de ver a caixa, já fiquei com aquela vontade de experimentar o jogo o mais rápido possível. E embora a ideia da autora fosse realmente criar um jogo inclusivo e de terror, acredito que pessoas que não são deficientes visuais conseguem aproveitar muito melhor a experiência que a autora quis passar. As fotos utilizadas estão escuras pois jogamos no escuro. Dito isso, vamos a apresentação:
Nyctophobia é um jogo semi cooperativo para 3 a 5 jogadores (acho 4 a quantidade ideal), em que os jogadores são pessoas perdidas numa floresta a noite. O objetivo delas é encontrar um carro e conseguir escapar. Obviamente há um porém. Um dos jogadores é um assassino, que está atrás das vítimas.
No jogo base existem dois assassinos, o maníaco do machado e a bruxa. Ambos funcionam de maneira diferente, mas mais pra frente explico isso.
A grande sacada de Nyctophobia, que faz, para mim, ele ser o jogo de terror "definitivo" é que os jogadores que são as vítimas, jogam de olhos vendados. O jogo vem com óculos escuros sem visão nenhuma, mas confesso que é fácil desviar o olhar e ver por baixo. Então acabei comprando aquelas máscaras de dormir, para realmente tapar a visão dos jogadores e privá-los completamente da visão.
O único jogador que joga de olhos abertos é o assassino. No começo da partida, o assassino apenas diz em qual direção está o carro (norte, sul, leste ou oeste) e cabe aos jogadores tentarem descobrir literalmente as cegas como fazer isso.
No turno do jogador, ele levanta sua mão e o assassino coloca o dedo indicador do jogador em cima de seu peão. O jogador então deve tatear o tabuleiro ao redor, para saber se há árvores, pedras, um espaço vazio, outras pessoas, ou mesmo o assassino. Após tatear, o jogador anda um espaço e então escolhe se quer andar de novo, se esconder (fica invisível para o assassino naquela rodada) ou jogar uma pedra (que possibilita saber quantos espaços vazios tem na direção e no que a pedra bateu.. exemplo: o assassino precisa falar que a pedra andou 3 espaços e bateu numa árvore por exemplo).
Partida em andamento
Sério, para nós, que estamos acostumados a utilizar a visão 100% do tempo, tentar mapear um tabuleiro em forma de labirinto as cegas é angustiante.
Fora isso, o jogo incentiva que o jogador assassino tente desnortear sempre que possível as vítimas. Na vez do assassino ele compra duas cartas de um deck próprio e escolhe qual carta vai resolver, seguindo a ação descrita no tabuleiro. Essa carta também vem com um flavor, do tipo "assuste o jogador mais próximo do assassino" ou "Diga duas mentiras e uma verdade para os jogadores". A diferença entre os decks do assassino do machado e da bruxa, é que a bruxa é tipo o "nível hard". Ela pode alterar algumas coisas de lugar, ou simplesmente virar a floresta inteira em outra direção, enquanto o assassino do machado é mais brutal e direto. Existe uma expansão stand alone com vampiros, mas não sei como funciona.
Mas mesmo fora esses flavors, quanto mais o assassino "se entregar" no papel, melhor. Andar em volta dos jogadores, chegar a cabeça perto de cada um deles e começar a respirar fundo, fazer pequenos batuques na mesa... São coisas que quando estamos de olhos vendados e ansiosos, sabendo que tem alguém atrás da gente, são angustiantes. Confesso que quando joguei de assassino consegui fazer os jogadores pularem da cadeira umas duas vezes pelo menos e foi muito gratificante.
Ter noção espacial apenas com base na memória é bem complicado
Enfim, o jogo se desenvolve desta forma, até que uma das vítimas seja morta ou até que alguém consiga ligar o carro e chamar por ajuda.
Obviamente, o jogo tem alguns "defeitos" (entre aspas por que nem são tão defeitos assim), primeiro, o jogador assassino tem que funcionar como um mestre de RPG. Se ele não entrar no clima, dificilmente os jogadores se sentirão angustiados. Ainda, se o grupo for inexperiente no jogo, é bem fácil do assassino ganhar rápido. Então o ideal é assumir uma mente sádica e "brincar" de gato e rato, sabendo que você pode ganhar o jogo a qualquer momento, mas sem tornar frustrante pros jogadores. Acredito também que com mais partidas, a situação se inverta. Quando a sensação de novidade passar, é fácil transformar o jogo num desafio tático, com um jogador por exemplo mapeando o tabuleiro, outro tentando chamar a atenção do assassino fazendo barulhos, etc. Isso claro não diminui o fato de que é um jogo muito interessante (e estou apenas supondo o que pode acontecer depois de várias partidas, já que por enquanto possuo apenas 03, sendo duas como jogador e uma como assassino), mas pode incomodar algumas pessoas. Por fim, obviamente não é um jogo nota 10 enquanto mecânica, mas com certeza é 10 no que se propõe a fazer, que é deixar aquela sensação incômoda de ansiedade e apreensão. E mesmo quando a sensação de novidade passar, ainda é um bom jogo rápido (uma partida dura em média 30 minutos), para aquela noite chuvosa com climinha de terror.