Se você quer ver os vídeos da feira, reviews curtos do que joguei e o que achei, vá no @redmeepleblog no instagram. Tem toda cobertura da Feira e a partir dessa semana, reviews de 5 a 10 minutos dos jogos que trouxe de lá.
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A feira de Essen de 2019 foi a primeira grande feira de jogos que eu fui na vida. E depois de um tempo planejando, eu cheguei a achar que não ia valer a pena, até que eu fui. Foram 4 dias onde eu me diverti como uma criança de 5 anos indo à Disney e encontrando a Cinderela. Uma experiencia de viagem que há algum tempo não tinha e mal posso esperar por repetir. A idéia desse post então é passar para vocês o que eu vi e vivi na feira. O que joguei, o que gostei e pra quem eu acho que vale a pena ir.
Acho que a primeira coisa que você precisa saber sobre a Essen Spiel é que, se você está pensando em ir pra comprar jogo barato, esquece. Não é uma feira de promoção, pelo contrário. Você provavelmente irá comprar os jogos pelo preço cheio, mais caro do que se comprar na Amazon ou Miniature Market. Essen também não é uma feira para jogar jogos. Em geral, só existem mesas de demo nos stands. Há poucos ou nenhum lugar pra você jogar seus próprios jogos com os amigos. Além disso, em geral, eles não vão deixar você jogar um jogo completo. Serão sessões de demo, com jogo durando algo entre um terço a metade da duração. Única excessão são de jogos rápidos ou que pelo menos duram menos que 1 hora. Mas por que eu gostei da feira então?
Bem, Essen é, mais do que qualquer outra coisa, um passeio no mundo dos boardgames. É como entrar numa loja absurdamente gigante com tudo o que você jamais quis comprar e poder passar lá 4 dias dentro olhando e brincando com as coisas. A primeira coisa que me chamou a atenção de lá foi, é claro, testar as novidades. É muito jogo para conhecer, não dá para jogar todos, mas com alguma programação dá para testar bastante. Meu método foi simples. Estudei antes as novidades e decidi entre, 10 jogos certos pra comprar, 20 para investigar e uns 10 fora do senso comum para dar uma olhada. Os jogos que ia comprar eu não testei, os jogos que ia investigar eu tentava fazer uma demo, ou pelo menos pedir um overview do jogo no stand e assistir uma rodada.
Outra coisa que eu adorei, foi viver a indústria do boardgame. Trombei com a galera do Dice Tower, HeavyCardboard, No Pun Included, Watch it played sem nem procurá-los. Estava numa fila jogando Through the Ages pra passar o tempo quando ouço alguém se apresentar como Vlada Cvatil atrás de mim num podcast.
E depois, foi ver as coisas né. Mesas, jogos, dados, tintas, roupas, acessórios de jogos, etc. Tudo que existe no mundo do Boardgame e até mais tinha lá. Nem sempre era barato, nem sempre eu queria comprar, mas sempre achei interessante.
E como produtor de conteúdo hobbysta, foi uma ótima oportunidade de dividir o que eu estava vendo lá com a galera daqui. Teve gente me pedindo pra dar uma olhada em algum jogo, teve gente me dando dica de promo, teve de tudo. E isso, pra mim, foi uma das coisas mais bacanas.
Pra quem quer ir a Essen, vai aqui a coisa que mais me perguntaram. Quanto custa: bem, a passagem, se comprada com antecedência, vai custar 2500 a 3500. Teve gente que conseguiu via KLM por Amsterdam por 2400 na semana da feira, mas é risco achar que vai encontrar sempre. Hotel, com 3 meses de antecedencia custou uns 1000 reais e o resto é andar e comer por lá. Alemanha não é dos lugares mais baratos, mas Essen não é das cidades mais caras também. Em geral eu tomava café da manhã com 5 euros, almoçava na feira com uns 15 e jantava com outros 10-15. Ou seja, considerando tudo, coloca que você vai gastar uns 5 mil reais pra vir, mais o que gastar com jogos.
Saiba no entanto que Essen não é uma cidade que vive pela feira. Vai dar 8 horas da noite e tudo vai fechar. Comida, onibus, trem, tudo. Se você quer passar a noite jogando os jogos que comprou, as opções são poucas. Ou você vai para um hotel com lobby para isso ou vai para a Unperfeckthaus que é um bar que alguns vão pra jogar. Pra mim, eu acabei indo pro hotel onde estava o Romir e a galera da Grok simplesmente por que eram brasileiros e era perto do meu hotel.
O ritmo foi frenético. Acho que não dormi mais de 5 horas em dia nenhum. Muitas vezes, menos do que isso. A feira começa as 10 e fecha as 19. Depois, até voltar pra casa, tomar um banho, comer e ir jogar algo, eu tava começando a primeira partida quase 22hs. Foi bem cansativo mas em momento algum eu me arrependi. A feira me pareceu muito mais bem organizada do que eu imaginava. Com um café da manhã caprichado e uns biscoitos perto do meio dia, eu deixava pra almoçar depois das 15hs, fora do horário de pico e foi tranquilaço. Além disso, eu acabei naturalmente focando em alguns galpões cada dia (são 6) e evitava ficar rodando sem destino por vários lugares.
Como eu estava sozinho, consegui fazer bastante demo pois eu não precisava esperar uma mesa inteira esvaziar para mim. Muitas das vezes eu dava um de penetra na primeira mesa de 3 pessoas (ou 4 em jogos de 5 players) que sentasse para jogar. O máximo que esperei por um demo foi uns 20 minutos, que eu aproveitava para dar uma atualizada no instagram e mandar notícias pra família.
E o que eu joguei de bom, o que eu gostei lá? Então, vamos falar de jogos.
Eu fiz minha lista de Top 10 mais aguardados de Essen(que foi publicada num vídeo no
@redmeepleblog). Eles eram:
01 - Clank Legacy
02 - Marco Polo 2
03 - Orleans Stories
04 - Expansão Terra Mystica
05 - Expedition to Newdale
06 - Crystal Palace
07 - Maracaibo
08 - Trismegistus
09 - Cooper Island
10 - Expansões Everdell (Bellfaire & Spirecrest)
Na viagem eu pesquisei mais do Trismegistus e dei uma desanimada. Então, substituí ele por Skytopia. Decidi então que, já que eu ia comprar esses 10 jogos, eu não ia priorizar testá-los na feira. Podia fazer isso de casa. A feira era pra testar outros jogos ou aqueles que eu estava na dúvida se iria trazer ou não.
O primeiro dia eu foquei na compra de jogos. Maracaibo, Cooper Island, Clank Legacy e Orleans Stories eu tinha feito pré venda. Suburbia Collector's Ed. eu havia pego no Kickstarter pra pegar em Essen. Então assim que abriu a feira eu fui direto na Feuerland pegar Crystal Palace e Expansão de Terra Mystica. Em seguida na Tabletop Tycoon pegar as expansões de Everdell. E fechei o primeiro dia na Lookout pegando o Newdale e o Skytopia na Cosmodrome. Isso me tomou pouco mais de meio dia e aí começaram as jogatinas.
No primeiro dia, foi o dia dos jogos ruins: Jetpack Joyride, Rolled West, Trismegistus, War of the World, Llama, Tricky Druids. De todos esses, só Trismegistus salvou. Achei bom, mesmo não tendo me encantado. Jetpack Joyride foi horroroso e Rolled West um dos roll and write mais fraquinhos que já joguei. Mas a decepção mesmo ficou com War of the World que eu achei que podia ser uma surpresa da feira. Um wargame de 2p com Deck building. O potencial era imenso, mas na prática o jogo foi simplista e rápido demais, a ponto de que não vale a pena investir tanto no deckbuilding e vira um jogo apenas tático de jogar carta pelo efeito.
O segundo dia já começou bem melhor. Joguei Merchants Cove, um jogo que só sai ano que vem bem interessante. É tipo um Root euro, onde cada jogador joga com uma mecânica própria para fazer as mesmas ações. Um joga com Roll and Write, outro com um esquema a la Potion Explotion, um terceiro com Alocação de Dados e um com Engine Building. O problema desses jogos gimmicks pra mim é saber se o jogo entrega além do mecanismo que o diferencia, ou se o jogo é apenas esse mecanismo. É tipo o Kerlon Foquinha, jogador do Cruzeiro, alguém lembra? O cara tinha um drible q ele colocava a bola na cabeça e saia correndo equilibrando ela de um jeito que ninguém conseguia tirar. Mas a pergunta que ficava é: quando ele não tá fazendo isso, ele sabe jogar futebol bem? No caso do Merchants Cove eu não sei dizer ainda, mas achei interessante. Joguei depois Chocolate Factory, Tungaru, e Throne of Allegoria, todos interessantes mas nada fenomenal. Throne of Allegoria foi o que mais me deu vontade de jogar a partida completa.
E aí veio a decepção da feira: Terramara. O jogo é do Virgilio Gigli e Flamina Brasini, autores dos bons Lorenzo, Coimbra e Grand Austria Hotel(só o Virgílio esse). Era tido como o Stone Age para quem já passou da fase de jogar Stone Age. Olha a responsabilidade. Bem, eu achei um euro chato, de alocação de trabalhadores simplista e com absolutamente nada de especial. Faz tempo que eu não sentia vontade de abandonar uma partida na metade dela, e olha que eu estava jogando apenas o demo de 3 rounds. De comum com Stone Age, só a arte do Michael Menzel. Nesse dia, conheci ainda Njet! e Belratti no hotel. Njet! é uma vaza bacana, estilo sueca, com uns twists legais e Belratti foi um jogo pequeno que eu acabei comprando.

Terceiro dia começou com Rune Stones, o primeiro jogo que joguei e comprei em seguida. Nada excepcional, mas é um jogo bom, de deck building e engine building com turnos rápidos e baixíssimo downtime. Falta um pouco de opção para ganhar rejogabilidade mas já tinha uma expansão lá que vendia junto que deve melhorar isso. Também joguei AVGhost, Mistery House, Pharaon, Flick of Faith (um jogo de peteleco da Awaken Realms) e o melhor jogo que joguei na feira: It's a Wonderful World.
It's a Wonderful World é um engine building simples, com draft de cartas. É uma mistura de Century com 7 Wonders mas que achei bem gostoso de jogar. E quando descobri que a versão KS que vendia lá tinha 2 modos de campanha, vocês já viram né, eu só queria comprar ele. Infelizmente já não tinha mais pra vender em ingles e vou dizer que foi até sorte, pois no final não caberia na mala.
No 4o e último dia eu fiquei apenas passeando. Fui pegar meu Suburbia que é do tamanho de uma TV 14 polegadas e dei uma olhada nos jogos pequenos. Foi aí que descobri Lux Aeterna, um jogo solo (e eu odeio jogo solo) em tempo real (e eu odeio jogo em tempo real) que o Rahdo falou bem e pela descrição achei interessante. Joguei uma partida e saí de lá com a cópia debaixo do braço. Muito interessante, fora do radar de muita gente e com certeza vai ter review rápido no
@redmeepleblog.
Saí de Essen com gostinho de quero mais. O@
renato_cec tinha me dito que domingo era um dia meio morto na feira, que geral ia embora e eu resolvi comprar minha passagem de trem pras 16. Oh arrependimento. Ano que vem, espero voltar, e como fominha que sou, não volto antes de segunda feira. Única coisa que pode me impedir de ir, se eu conseguir ir pra GenCon pra conhecer.
Me perguntaram então se havia conteúdo para ir todo ano. Bem, eu acho que sim, pois sempre haverá jogos novos pra conhecer e coisas novas pra fazer. Eu não sei se vou conseguir ir sempre, afinal, não só é um gasto, mas eventualmente a prioridade da família é fazer outras viagens. Mas do mesmo jeito que eu, com 14 anos queria viver na Disney, hoje, eu encontrei a minha disney adulta.