O Confraria de Jogos anda bem parado. Como venho dizendo nos pouquíssimos textos que postei nos últimos anos, são muitas as atribulações da vida, o que tem tornado a lista de prioridades bem disputada. Até jogar anda difícil, imagina escrever sobre jogos...
Desde que entrei de cabeça no hobby, há uns 7 anos, 2018 foi um dos anos com menos jogatinas e com menos novos jogos conhecidos por mim. Além das atribulações já mencionadas, minha coleção já chegou num nível em que as novas compras estão cada vez mais escassas, o que contribui muito para a falta de novidades. Ano passado, consegui voltar a ter um grupo fixo (que estava em falta desde 2016) e, com isso, pude manter uma boa periodicidade de jogatinas (mas ainda limitada a uma ou duas vezes por semana). Porém, nenhum dos atuais “oponentes constantes” compram jogos, o que tem me limitado aos que possuo na coleção.
Mas estamos no início de mais um ano (hein?! início?!) e nos últimos dias do Prêmio Ludopedia (do qual participei, mais uma vez, como jurado), então ainda vale algumas listinhas com minhas escolhas para os melhores jogos de 2018.
Mas, antes, como sempre, algumas observações:
Como dito, as novidades estão cada vez mais raras. Ainda mais se tratando de jogos recém lançados, seja aqui ou no mercado lá fora, o que torna inviável uma lista com os melhores board games lançados em 2018 que eu tenha conhecido. Mais uma vez me limitarei a listas com o que foi publicado aqui no Brasil e com os jogos que conheci ano passado, independentemente de quando foram lançados. Desta vez, não teremos listas para os lançamentos de autores brasileiros (infelizmente, não cheguei a conhecer sequer um único jogo nacional) e os top 5 usuais cairão para top 3 (desse jeito, daqui uns anos vai virar top 0). Ano passado, nas listas dos melhores de 2017, fiz um paralelo com o Prêmio Ludopedia, mas, pelas limitações já citadas, não será possível fazer o mesmo aqui.
As categorias se dividirão em jogos leves/festivos e jogos pesados. Para quem ainda não sabe, tenho uma preferência muito maior por heavy games, sejam euros, ameritrashes ou wargames. Não curto muito – nem costumo jogar – jogos mais família, mas sempre tem um que chama bastante a minha atenção, sem contar que adoro party games, então não poderia deixá-los de lado. Também vale destacar que alguns jogos que eu e meu grupo consideramos leves podem ser vistos como pesados por outros jogadores.
Enfim, para iniciar, vamos com os top 3 dos melhores jogos, na minha opinião, lançados no Brasil em 2018:
(Antes, para referência, uma lista de jogos lançados aqui que eu não tive oportunidade de conhecer, mas que, pelo que vi, poderiam facilmente figurar numa das duas listas: Invasores do Mar do Norte; Fungi; Lorenzo il Magnifico; Pandemic Legacy: 2ª temporada; Luna; Amun-Re; Star Wars: Legion; Rising Sun; Pulsar 2849; Grand Austria Hotel; Magic Maze; The Flow of History; Projeto Gaia; Tiny Epic Galaxies; Deception: Murder in Hong Kong; When I Dream; Rhino Hero; Feudum; Gùgong; Endeavor: Age of Sail; Arquitetos do Reino Ocidental; Kanban: Driver’s Edition; Empires: Age of Discovery; Santa Maria; Viral.
TOP 3 LANÇAMENTOS – LEVES/FESTIVOS
Como dito, não costumo jogar algo com pegada mais família. Dificilmente jogo com não-gamers ou pessoas aleatórias e, quando o clima está mais descontraído ou a jogatina esteja acompanhada de uma cervejinha, meu grupo prefere um party game. Quando escolhemos algo leve, normalmente é um board game com alta interação, rasteiras e furada de olho. Daí, minhas opções para essa lista ficam bem limitada.
Queria muito dar uma posição para o Captain Sonar. O fato de ser um conflito de times, em tempo real e com uma jogabilidade bem interessante me atrai muito. Porém, tive uma única experiência com ele e não foi das melhores. Captain Sonar é daqueles jogos que depende muito da mesa para ficar divertido, além de exigir uma grande quantidade de jogadores para funcionar 100% (eu diria, no mínimo, seis). Com as pessoas erradas, pode ficar chatíssimo. E foi exatamente o que aconteceu comigo. Possui o potencial para me conquistar completamente, mas preciso de uma segunda experiência. Então fica aqui registrado como uma menção honrosa.
Outra menção honrosa: Karuba.
03. Azul, de Michael Kiesling
(2017, 2-4 jofadores, 30-45 minutos)
[link BGG e Ludopedia]

Um dos maiores hypes de 2018 (talvez o maior), não me conquistou completamente. Não que eu o ache ruim, afinal está aqui na lista. Mas é simples e abstrato demais para o meu gosto.
Gosto muito do seu sistema de seleção de peças, o que traz a interatividade do jogo (que, sempre digo, é algo que me atrai bastante). Mas o restante faz com que as escolhas necessárias durante a partida sejam meio óbvias. É bonito, simples, rápido e legal. Mas, para mim, é só. Porém, o suficiente para garantir uma boa meia hora de diversão.
Se todos os jogadores estiverem dispostos a jogá-lo a sério, sempre marcando os oponentes, ele adquire camadas mais profundas e estratégicas, o que traz uma versatilidade interessante ao Azul.
Provavelmente você já o conhece. Mas, se não, e se costuma jogar com jogadores casuais ou com a família, o Azul é obrigatório.
02. Sagrada, de Adrian Adamescu e Daryl Andrews
(2017, 1-4 jogadores, 30-45 minutos)
[link BGG e Ludopedia]

Talvez eclipsado justamente pelo Azul, Sagrada cai na mesma categoria: abstrato multiplayer, simples, rápido e bonito, e sem tema (nem o cuspe segura). Mas, para mim, fica na frente por três razões: sua interatividade é mais óbvia (não sei se maior), o aspecto puzzle é bem maior (e eu adoro puzzles!) e, por fim, mas não menos importante, dados coloridos!
Entendo a preferência pelo Azul (e suas peças lindas), que talvez seja até mais jogo. Mas, por enquanto, fico com o Sagrada.
01. Broom Service, de Andreas Pelikan e Alexander Pfister
(2015, 2-5 jogadores, 30-75 minutos)
[link BGG e Ludopedia]

Presente na minha lista dos melhores board games que conheci em 2016, Broom Service talvez seja um dos jogos que muitos não considerem leve. Suas regras são poucas e simples, mas possui um elemento de ação programada que, misturado com a alta interação que exige, pode deixar a leitura de jogo bem pesada, necessitando muito mais estratégia tática e queimação de neurônio que um jogo casual.
Mas é um jogo que eu incluiria na minha coleção justamente para as jogatinas casuais, então acaba se enquadrando nessa categoria. E, considerando a questão da ação programa e interatividade, leva o primeiro lugar fácil nessa lista. Desde que o conheci, meu gosto pelo Broom Service sobe a cada nova jogada, certamente por esses fortes elementos estratégicos/ táticos.
Acho curioso como seu lançamento no Brasil foi bem pouco comentado, principalmente considerando-se que é do mesmo autor do Mombasa e do Great Western Trail.
TOP 3 LANÇAMENTOS – PESADOS
Estando na minha zona de conforto, aqui as opções são bem maiores, fazendo com que o top 3 englobe somente jogos que eu considere realmente muito bons.
Foram bastantes lançamentos fantásticos que provavelmente entrariam na disputa, mas a maioria era novidade e não tive a oportunidade de conhecer. Porém, deu pra selecionar três jogos que valem estar na mesa (e na estante) de qualquer jogador mais hardcore.
Menções honrosas: Altiplano; Merlin; A Feast for Odin.
03. Rajas of the Ganges, de Inka e Markus Brand
(2017, 2-4 jogadores, 45-75 minutos)
[link BGG e Ludopedia]

Por muito pouco essa posição não vai para o Merlin, do Stefan Feld. Achei muito interessante ele, desta vez, ter escolhido explorar a mecânica do roll & move, usando-a de modo bem feito e interessante. É daqueles jogos que, todo início de rodada, você vê o que tem e tenta se programar para se virar com aquilo, característica que gosto muito. Porém, Rajas of the Ganges ganhou o terceiro lugar por algumas pequenas coisas (além do monte de dados, claro).
O casal Brand traz, mais uma vez, um jogo relativamente simples, mas com algumas reviravoltas nas mecânicas utilizadas e um boa profundidade estratégica que deixa tudo bem interessante. Apesar de seu sistema usar um worker placement bem simples e básico, ele acrescenta diversos outros fatores (alguns, utilizados de uma maneira diferente) que deixa o jogo com identidade própria, mantendo a simplicidade que é marca dos designers.
A grande sacada, aqui, está justamente no uso dos dados (que, já ficou claro, é algo que adoro). Por ser um worker placement descarado, como dito, muita gente acaba pensando que é um jogo de alocação de dados. Porém, desta vez eles não são usados como trabalhadores, mas como recursos que são utilizados para fazer quase tudo no jogo. Além disso, é um jogo de corrida (no caso, por pontos) que utiliza duas trilhas de pontuações diferentes e “opostas” que precisam se cruzar antes que os oponentes o façam. Esses dois aspectos me conquistaram com força e garantiu uma posição ao Rajas nesta listinha.
02. Francis Drake, de Peter Howes
(2013, 3-5 jogadores, 90-120 minutos)
[link BGG e Ludopedia]

Um lançamento que não recebeu muita atenção, provavelmente por causa de seu preço alto. Realmente, um jogo grande, que ocupa muito espaço. Não sei se vale o preço pelo qual foi trazido, mas certamente vale conhecê-lo.
Também um worker placement mais básico, mas seu sistema de seleção de ações é que traz o tempero do jogo. Parecido com o Tokaido, cada jogador deve selecionar uma ação numa trilha unidirecional, de modo que, se você garantir logo uma ação muito boa, mas que está mais avançada na trilha, vai perder tudo que está atrás. Ademais, esse sistema servirá para que você se prepare para agir na segunda parte do jogo, quando seus barcos partem e cada jogador irá gastar os recursos adquiridos na primeira parte para realizar as ações que darão pontos de fato.
Essa divisão em duas grandes partes mecanicamente autônomas é o que traz todos os aspectos legais do Francis Drake: a inovação, complexidade, profundidade estratégica e uma grande interação num jogo bem euro.
As partidas são divididas em três rodadas que são quase que completamente independentes, como se, após o final de uma rodada, o jogo desse um reset e tudo começasse de novo. É algo que não chega a empobrecê-lo, mas Francis Drake ganharia uma posição muito mais alta no meu coração se não fosse essa característica.
01. Star Wars: Rebellion, de Corey Konieczka
(2016, 2-4 jogadores, 180-240 minutos)
[link BGG e Ludopedia]

Por fim, surpreendentemente, para o meu gosto, o primeiro lugar vai com grande folga para um ameritrash!
Logo que entrei no hobby, percebi que meu negócio eram os euros pesados. Nunca passei pela fase dos gateway e caí de cara nos Feld e Lacerda da vida (inclusive, meu primeiro board game, o Carcassonne, é um dos poucos que eu não gosto e mantenho na coleção). Porém, com o tempo, fui diversificando o conhecimento e a experiência e pegando gosto por outros estilos de jogos. Mas quando isso aconteceu, minha coleção já estava bem robusta e, daí, as compras diminuíram consideravelmente. A estante, entupida de euros pesadões, precisava ficar mais variada. Alguns jogos mais leves e outros party foram fáceis de adquirir, já que possuem muitas opções pequenas e baratinhas. Mas ainda falta espaço para os wargames e ameritrashes.
Por essa razão (e pelos elogios que li), dois jogos entraram no topo da minha lista de desejos. Um deles é o Mage Knight. O outro, Star Wars: Rebellion. Um, ainda não foi lançado no país. O outro, é caro demais (principalmente se considerado que é um jogo para 2 pessoas e muito longo, o que limita bastante sua jogatina). Daí apareceu a oportunidade de vender o The Gallerist, que eu já queria passar há tempos. Aproveitei a grana e paguei boa parte de um Rebellion. Nada mais justo que suprir a lacuna mencionada com a troca de um euro super pesado por um ameritrash. E valeu demais (e olhe que nem sou muito fã de Star Wars e isso não foi motivação nenhuma para eu me interessar pelo jogo)!
Grande imersão temática, partidas grandiosas, conflitos épicos, jogabilidade bem assimétrica, muitas cartas, tokens e dados... Rebellion tem tudo que um fã desse tipo de jogo quer. Mesmo sem ser muito ligado na franquia, me impressiona bastante como o sistema do jogo consegue capturar o feeling da trilogia original e conduzir os acontecimentos quase como na história do filme. No final da partida, você terá o enredo dos episódios 4, 5 e 6 cheios de “e se...?” (E se Luke fosse preso na carbonita no lugar de Han Solo? E se Léia fosse capturada pelo Império e seduzida para o lado negro da força? E se a estrela da morte fosse destruída por um outro piloto qualquer?). Tudo isso foi implementado de uma maneira tão bem feita que parece que você não só está jogando uma partida de board game, mas também contribuindo para a construção de uma história épica – e, afinal, essa é a maior qualidade dos ameritrashes.
Óbvio que, como dito, isso tudo só é possível graças a um sistema bem bolado, que pega elementos de outros jogos da FFG para criar algo único e fantástico. As próprias mecânicas são implementadas de forma que toda ação vai depender, num nível ou noutro, do que o oponente está fazendo, trazendo aquela sensação de conflito direto e imediato que gosto tanto nos wargames.
É um jogo muito longo e limitado a dois jogadores. Se isso não for problema, faça de tudo pra dar um jeito de experimentar esse que, na minha humilde opinião, foi o melhor lançamento no Brasil em 2018.
*Crédito de todas as imagens: BGG.