Duelo, dualismo, dualidade e Duel
Bem vindos à primeira postagem da nossa coluna Crônica BG. Aqui, vamos trazer uma crônica da vida imitando os tabuleiros ou dos tabuleiros conduzindo a vida, relacionado ao jogo que recebeu o Review Dupleta na quarta-feira. Essa semana comentamos rapidamente sobre 7 Wonders Duel e novamente reimaginado em nossa crônica.
As postagens ocorrerão sempre às sextas-feiras. Bem, hoje é um sábado de sol, eu aluguei um caminhão para trazer essa postagem. Ontem não conseguimos concluir o raciocínio por trás destas páginas e acabou ficando para hoje. Mas não se acostumem, iremos nos encontrar às sextas.
Sem mais delongas, segue essa profunda reflexão.
Duelos no mundo de 7 Wonders Duel
Eu tão mineral e você tão Pipeline, vamos lutar?
Retratar o duelo presente em 7 Wonders Duel não é algo complexo se pensarmos apenas em um contexto de mesa, jogo. São dois jogadores competindo por algo muito mais valioso do que barras de ouro - pontos de vitória (ou uma das outras vitórias humilhantes).
A necessidade da minha civilização é não apenas produzir um bem e crescer, mas proporcionar a derrocada da sua civilização. O meu pode ser meu, mas se isso for te atrapalhar será muito melhor.
A gênese dos jogos de tabuleiro competitivos está justamente na busca constante de supremacia - um ser dominando o outro e, se vangloriando disso. Logicamente que algumas pessoas "possuem a audácia de jogarem apenas para se divertir", mas mesmo assim, o resultado final será uma vitória e outra derrota.
Tripudiar sobre o leite derramado da civilização adversária é uma glória "endorfinante". A vitória é uma cereja no topo de um bolo chamado competição. Os pouco competitivos e mais centrados não absorvem tanto esse doce, mas aqueles mais irascíveis irão se deleitar com essa cereja.
Duelar faz parte, o jogo traduz essa dicotomia, mas esgueirar-se pelo abismo profundo da raiva ou lançar a paciência tão alto quanto uma pipa é caminho desnecessário e impensável.
Duelos na vida e a velha história das uvas azedas
Nossa, ele ganhou um cereal e nós apenas um cubo verde que pode significar qualquer coisa nessa vida.
Se os duelos nos jogos são facilmente apontados e, se identificam por sentimentos múltiplos (vitória, derrota, empate, inveja, cobiça, drama, negação, luto, entre outros) na vida também não existe grande dificuldade em encontrar esse duelo presente entre jogadores.
Em um momento produzem sentimentos e expressões de amparo e conquista, em outro se declaram inimigos e exigem sua destruição.
A interação de "marcar' um alvo dentro da partida é o ápice do lado obscuro do ser humano surgindo (ou apenas uma relação normal dentro do jogo para algumas pessoas). Tal atitude exige uma represália tão intensa como fora com Sodoma e Gomorra - não basta vencer o adversário marcador, é preciso destruí-lo.
Quantas mesas não são afetadas por pessoas nas quais o duelo supera a vontade de ser amigável? Pessoas que sentem uma vontade interna e insaciável de destruir seu oponente? Mesmo que isso custe a diversão de todos os presentes.
É a famosa sensação de dar uvas azedas para o seu oponente (não entenderam a referência? Segura essa capitão:
https://www.youtube.com/watch?v=2skKHcGzDlI). Não basta o sentimento de vitória ao final do jogo, é preciso sentir-se superior ao desafiante, é necessária uma retaliação digna ao insolente que ousou te desafiar! Saboreie suas uvas azedas mentecapto.
Esses duelos (presentes em jogos com qualquer quantidade de jogadores) fazem parte da vida, da ascensão ao topo da carreira, até a disputa pela última vaga de estacionamento do shopping, estamos constantemente nos preparando para o próximo duelo e, em busca de vitórias importantes - para quem ou o quê cara pálida?
Dualismos em um dia conturbado
Sim, o Space Ghost da foto faz parte do estúdio Desconectado
Por qual razão utilizamos a denominação duelo até o momento? Por exprimir de maneira mais adequada o conceito de competição, uma competição, um conflito. Então, por qual razão o título agora se refere a dualismo? Justamente porque acreditamos que as diferenças escondem uma luta constante entre o bem e o mal.
Estamos transportando para o dia-a-dia as nossas intolerâncias e medos, colocando-as como um dos pilares desse dualismo subjetivo - eu e tudo em que acredito é o bem, o diferente será parte do mal.
Amanhã (07/10/2018) passaremos por mais um pleito eleitoral e a contrariedade de pensamentos deixou o campo do respeito e da discordância para o campo do dualismo. Não se trata de aceitar um candidato ou outro, mas de desqualificar o próximo que vota diferente. E isso meus senhores e senhoras, coloca nossa sociedade a perigo.
Quando traçamos nossos pensamentos (mesmo que insubsistentes) e os colocamos em um patamar ideológico inatingível e, forçosamente queremos desmoralizar os pensamentos adversários estamos em um dualismo. Todo dualismo representa internamente uma luta entre o bem e o mal, mas a pergunta que poucos se fazem é: o que seria o bem e o mal dentro de cada um de nós?
Não podemos voltar a acreditar que a unificação de pensamentos, atitudes, roupas e cortes de cabelo representam uma unidade verdadeira, quando na verdade, nas grandes diferenças respeitosas, encontramos os maiores princípios de união.
O duelo ao dar espaço para o dualismo perde seu sentido e se carrega de uma força perigosa, se torna essa espada que emana uma luz cegante ao próprio portador.
No dia de amanhã, no dia seguinte, nas jogatinas de sábado, deixemos de carregar nosso corpo com dualismos e voltemos ao simples duelo - respeitoso, capaz de gerar competição, mas ao final de tudo capaz de gerar abraços, conversas e salgados compartilhados.
Crônica BG - um espaço de debate e ideias
Dizer que esse texto está pronto e acabado seria dizer que o que foi escrito deve ser lido como preceitos básicos de vida. Errado. Tanto esse texto, quanto cada um de nós se completa e se constrói a cada momento.
Heráclito de Éfeso conceituou o devir (desculpe editora, não é você) o eterno vir-a-ser. Nunca estamos totalmente prontos e nossa incompletude gera mudanças constantes, bem vindas.
Deixemos o peso do nosso eu de lado e façamos uma jogatina leve, competitiva mas bastante respeitosa. Deixemos o valor imaginário das nossas opiniões de lado para voltarmos a respeitar o pensamento do outro. Deixemos o coração leve e a mente livre, voltando a entender que a diferença não é nossa inimiga, mas uma parte de nós todos.
Que entre 7 Wonders Duel, duelos, dualismos e dualidades possamos estabelecer uma comunicação sólida, digna, independente do pensamento político, tabuleirístico ou outros "ísticos" da vida.
Somos todos parte de um mesmo hobby, de um mesmo mundo e, querendo ou não, continuaremos assim.
Abraços e até a próxima semana.
Mas, não se esqueçam: que a sonda esteja em vocês.