Por Ted Alspach
Fonte: https://www.boardgamegeek.com/blogpost/54100/designer-diary-americanizing-terra-america

No início de 2015, a Bézier Games, Inc. decidiu publicar a versão em Inglês de Friedemann Friese do jogo Terra. Esta foi uma decisão fácil, uma vez que descobrimos que existiam muitos fãs de Friedemann por causa do jogo Fauna. Enquanto Fauna estava focado em animais, Terra cobria a geografia e a história, dois assuntos dos quais sou muito mais interessado, do que animais aleatórios (embora realmente tenha gostado de Fauna). 

Em Terra, um dos jogadores faz sempre três perguntas. Uma é sempre um local que corresponde a uma região no mapa mundial que compõe a maior parte do tabuleiro do jogo. As outras duas são duas das três categorias possíveis: um ano, uma medida ou algum outro número, que são todos representados por barras segmentadas ao longo da parte inferior do tabuleiro. Cada carta tem uma foto a cores e informações completas sobre ela, e as cartas trazem uma sensação de exploração. Na sua vez, coloca-se um cubo na resposta que acha que conhece de qualquer uma das três perguntas. As rodadas continuam até que não tenha mais cubos ou decida passar. (Responder incorretamente te faz perder um cubo para a próxima rodada, então não deve tentar acertar na sorte, ou ficará em desvantagem nas próximas rodadas). Depois que todos jogaram, as respostas são reveladas e os jogadores marcam pontos: 7 pontos para uma resposta correta, e 3 pontos para uma resposta adjacente à resposta correta. As regras são essencialmente as mesmos que as de Fauna, com alguns ajustes para simplificar a pontuação.

Ambos os jogos são uma espécie de cruzamento entre a variedade de Trivial Pursuit e o mecanismo de "chegar o mais perto que puder" de Wits & Wagers, mas o tabuleiro de grandes dimensões, as imagens coloridas das cartas e os mecanismos adicionais realmente fazem a diferença.



Portanto, é o final da primavera de 2015, e a Bézier Games quer a versão em Inglês de Terra para a Spiel 2015. Não temos tempo, embora usemos uma gráfica Alemã (pegando carona com outras editoras estrangeiras que estavam conseguindo seu próprio espaço na Terra), o que nos deu um mês extra para começarmos a produzir o jogo. Inicialmente, achei que faríamos uma tradução direta das regras, cartas, caixa, e os pequenos textos sobre o tabuleiro de jogo, e... boom! teríamos uma versão em Inglês pronta. 

Então, a realidade. Os EUA é um dos três únicos países do mundo que não usam o sistema métrico utilizado no jogo, e todas as respostas das cartas (e do tabuleiro) estavam neste sistema métrico. Quilômetros, milímetros, centímetros - não funcionariam para os EUA, enquanto a maioria dos jogadores poderiam fazer alguns cálculos com matemática básica para descobrir as polegadas, milhas, pés, jardas, etc. Em relação a valores de métrica, é complicado, porque simplesmente não pensamos no sistema métrico, então o jogo tornou-se uma tarefa árdua. Praticamente todos os outros países de língua Inglesa estranhamente usam o sistema métrico, embora, por isso, se mudássemos tudo, eles não seriam capazes de jogar (e eles realmente *não podem* fazer a matemática porque nunca precisam converter, a menos que estejam lidando com os americanos). O compromisso era fazer com que o tabuleiro de dupla face, tivesse um lado usado nos outros países de língua inglesa e a medida métrica do outro, e ter ambas as unidades nas cartas. Só que foi um trabalho tremendo. 

Depois de iniciar o laborioso processo de adição de medidas nas cartas, ficou evidente que a tradução em Inglês não estava indo bem; provavelmente a tradução foi por um europeu que tinha um excelente entendimento idioma Inglês, mas estava claro que o Inglês dele não era sua língua nativa. O fraseado estava ruim, haviam palavras estranhas e coloquiais, e ficou difícil de ler, por isso cada carta, todo o livro de regras, e a caixa foram refeitas para torná-los mais amigável ao idioma.



Durante o processo, percebemos que enquanto o jogo cobria a geografia de todo o mundo, muitos dos tópicos eram coisas de pouco ou nenhum interesse para a maioria dos americanos, como futebol, várias organizações internacionais, e vários outros tópicos que eram interessantes para o povo alemão ou de familiaridade europeia e que simplesmente não funcionaria para os americanos. Os EUA tem cerca de 90% do mercado de jogo de tabuleiro, portanto, novamente, essas coisas tinham que ser corrigidas. Neste caso, significava que tínhamos de refazer dezenas de novas cartas para substituir os tópicos que não funcionariam. 

Por fim, havia o tabuleiro. O tabuleiro alemão (e que foi utilizado para todas as outras línguas) era parecido com um mapa de livro da 8ª série, o que funciona muito bem para os europeus que não têm uma visão negativa de jogos educativos. Já os EUA, embora digam que seus jogos sejam divertidos "e educacionais", quando dizem isso praticamente significa que ninguém vai sequer olhar para ele. Isto acontece não porque os americanos não querem aprender sobre as coisas, mas porque há tantos "jogos" educacionais ruins que a palavra, quando aplicada a jogos, tem uma conotação diferente, principalmente negativa. Assim, nós contratamos um artista para refazer o tabuleiro com um estilo de satélite.



O jogo foi (mal) feito para a Spiel mesmo com todo o trabalho adicional. 

Durante todas essas mudanças, continuei desejando que houvessem mais tópicos sobre coisas interessantes para os EUA, mas depois percebi que Terra não funcionaria para os temas, porque a maioria deles teria como respostas coisas com base nos EUA, e que não iria se espalhar por todo o mundo de forma uniforme. Além disso, enquanto Terra variava de 5000 AC até os dias atuais, a maioria das coisas na minha lista desejada ocorreu nos últimos cem anos. 

America é concebido

Finalmente a Spiel 2015 chegou, e perguntei à Friedemann se eu poderia fazer um novo jogo baseado em Terra, com concentração na América. Friedemann e a Huch! & Friends (a editora alemã que detém os direitos de Terra) concordaram, e comecei a trabalhar. A primeira coisa que fiz foi escrever todas as coisas que queria que esse jogo tivesse e que não estavam presentes em Terra. Aqui está minha lista inicial: 

• Foco na América; Todos os locais estarão nos EUA ou México / Canadá. 
• Apenas duas trilhas: ano e número. Cada carta terá as mesmas três categorias de perguntas. 
• A localização das "regiões" seriam estados, embora alguns possam ser combinados. 
• A trilha de ano será detalhada durante os últimos cinquenta anos, então agrupadas com maiores incrementos.
• As cartas terão as seguintes cinco categorias: Entretenimento, História e Política, Geografia, Tecnologia e Ciência e Jogos & Esportes.
• O jogador à direita do jogador com o marcador inicial escolhe uma categoria, então o jogador inicial escolhe uma carta da caixa na categoria correspondente, movendo todas as cartas para frente ao invés de para a parte de trás da caixa. O jogador que pegou a carta a lê. 

Ao olhar para esta lista agora, a direção geral do que queria estava lá, mas praticamente todos os itens acima foram mexidos pelo menos um pouco. Segue como ficou:



• Concentrando-se na América: todos os locais estarão nos EUA ou México / Canadá. Bem, México e Canadá saíram rápido. (Americanos não sabem os estados mexicanos e tendem a ter um conhecimento muito limitado de províncias e territórios canadenses.) Além disso, o Canadá é tão enorme que teria ocupado dois terços do tabuleiro. Já que há um oceano de cada lado dos EUA, sendo que cada um é adjacente a um monte de estados, os oceanos saíram como mais uma área para se colocar um cubo. 

• Apenas duas trilhas: ano e número. Cada carta terá as mesmas três categorias de perguntas. Este é o único item da lista original que era sólido desde o início. Na verdade, isso me permitiu mudar o design das cartas de Terra para o projeto de três colunas de America, o que me permitiu usar rótulos para cada coluna (Estado, Ano e Número) à direita da caixa de cartas, de modo que as questões usam esses termos, permitindo assim que o texto da pergunta fosse maior e mais sucinto. Este setup também impede a necessidade de ter medidas métricas no tabuleiro já que a carta pede especificamente um tipo de medição, e deve-se responder apenas com um número, e não com uma medição. 

• A localização "regiões" seriam estados, embora alguns possam ser combinados. Não fazia sentido combinar os estados menores, onde muita coisa aconteceu e deixar os estados ocidentais maiores com respostas individuais, de modo que todos os estados - independentemente do tamanho – tinham uma possível resposta para uma pergunta de localização. Essa decisão permitiu-me simplesmente colocar "estado" na coluna abaixo da pergunta de estado, para que o jogador saiba que a primeira (mais à esquerda) pergunta seja sempre um estado. O único problema que isso criou foi que o Distrito de Columbia, onde a cidade de Washington DC está localizado, não é um estado, e um monte de coisas históricas aconteceram lá. No final, deixei de modo a evitar perguntas para as quais DC fosse a resposta. (A maioria delas eram bastante óbvias de qualquer maneira.) Finalmente, o que fazer sobre o Alasca e Havaí, que não têm adjacências? Bem, os fiz um ao lado do outro, e nada mais, para fins de jogo. 

• A trilha de ano será detalhada durante os últimos cinquenta anos, e em seguida, agrupada cada vez em maiores incrementos. Bem, isso funcionou. A trilha de ano consiste em intervalos de cinco anos de agora até 1950 (sessenta anos, cheguei perto), então aumenta gradualmente a intervalos de 25 anos em 1700, depois faz um grande salto para 1492, e é até onde vamos. (Desculpem-me, nativos americanos!)



• As cartas terão as seguintes cinco categorias: Entretenimento, História e Política, Geografia, Tecnologia e Ciência e Jogos & Esportes. Fechado. As categorias realmente não importam (veja abaixo), mas há um número par de cartas nas seguintes cinco categorias: 

- Entretenimento (filmes, televisão, música, livros) 
- História e Geografia (combinados estes dois) 
- Produtos, invenções e Tecnologia
- Jogos, esportes e atividades divertidas
- Alimentos e Restaurantes 

A comida acabou por ser uma das categorias mais divertidas, porque há tanta coisa que se originou nos EUA, ou que se tornou popular na América. Tive que ser muito criativo com algumas das questões de localização para evitar alguma aglomeração na Califórnia, Nova York e Illinois para todos os tópicos, mas, no final, há uma variedade muito boa de locais para todos os tópicos.



• O jogador à direita do jogador inicial escolhe uma categoria, então o jogador inicial retira uma carta de categoria correspondente, movendo todas as cartas para a frente. Esta era uma boa ideia na minha cabeça, mas na prática ficou difícil e confusa para os jogadores. Evoluiu até que terminou com o jogador inicial escolhendo de qual lado da caixa poderia pegar a pergunta, ou seja, o jogador que escolheu a questão será o último a responder na mesa.  

Os pontos de bônus seriam um sistema que permitisse que todas as cartas pudessem ser usadas uma vez, sem repetir até que todas as cartas tenham sido vistas: após uma carta ser pontuada, é removida da caixa e colocada diretamente atrás do divisor central de cartas. Isto acontece para que a carta que colocou lá só tenha seu outro lado lido se chegar ao fim caixa eventualmente. É um sistema sofisticado que parece muito óbvio em retrospectiva. 

Criação de conteúdo

Uma vez que o sistema estava no lugar, era hora de criar as cartas, America tinha que ter 168 cartas de dupla face, que (vou fazer a matemática para você) corresponde a 336 tópicos, ou 1008 perguntas - cada uma das quais precisava ser pensada, escrita, formatada, pesquisada e testada. Jogos como America são muito dependentes do conteúdo de suas cartas, assim sendo, levei uma quantidade enorme de tempo para descobrir os temas e as perguntas / respostas dentro desses temas. Depois de chegar com os 336 tópicos, contratei vários escritores para ajudar na investigação e escrever as perguntas e respostas. A fim de fazer esse trabalho, tive que desenvolver um sistema que listasse todos os critérios, tais como as questões, já que cada pergunta e resposta tinha que ser focada nos EUA (e não apenas os locais), e há quanto tempo os fatos que apareciam em cada carta tinha que ter ocorrido – então, editei cada uma delas, testei, e finalmente tinha as cartas prontas. Ufa!



Resolvendo o dilema do "Eu não sei"

Durante o playtesting, uma coisa que notei - e isso é verdade tanto em Terra quanto em Fauna - foi que os jogadores estavam mais envolvidos com temas que conheciam, mas esse nível de interesse caia consideravelmente quando não sabiam (ou tinham alguma ideia sobre) um tópico ou algumas das perguntas. Não é divertido não saber alguma coisa, e palpites aleatórios podem acontecer em America, mas não eram gratificantes. Claro, não há nenhuma maneira de garantir que todos que jogam vão saber algo sobre cada tópico. No entanto, da forma como America funciona, você pode sempre conseguir pontos de outros jogadores, colocando de lado suas respostas (provavelmente corretas), mas às vezes parece que ninguém na mesa sabe a resposta a uma pergunta. Assim, criei o que me refiro a linha de "não passar". 

Além dos pontos de resposta padrão, os jogadores podem também colocar os seus cubos no "Não Exato" ou "Não exato ou adjacente", com um conjunto para cada Local e Números. Se os jogadores tiverem a sensação de que ninguém sabe a resposta (quando todo mundo está se lamentando de que não sabem nada sobre isso), eles podem colocar um cubo em um desses pontos, e se estão certos, obtêm pontos! Como todos os outros pontos no tabuleiro, apenas um jogador pode colocar um cubo em cada um deles, por isso há alguma tensão quanto ao momento de colocá-los sobre esses pontos. Isso faz com que um "isso não importa, nenhum de nós sabe" se transforme em um divertimento com um pouco de blefe, quando você pode colocar um cubo em um local ou estado, "Lembro-me disso em especial" quando realmente não tem ideia, então assista aos outros ao seu redor, quando todos usarem seus cubos, coloque um sobre o "não exato ou adjacente" para pegar uma média de 7 pontos. 

Estes novos pontos ressaltam que não há um motor de jogo realmente sólido sob a capa brilhante de perguntas, mas os jogadores irão apreciar e os não jogadores irão desfrutar sem perceber o porquê.



A finalização de America para publicação

Uma das outras preocupações a respeito do jogo era o preço. America é um jogo de perguntas e respostas, e a maioria dos jogos de perguntas e respostas tem um valor de US$ 25 e são deixados em lojas nos feriados, na esperança de serem jogados e em seguida, serem esquecidos. (Tenho certeza que eles não esperam serem esquecidos, mas geralmente são). A meta para America sempre foi um pouco diferente; a ideia é redefinir o que um jogo de perguntas e repostas pode ser para os americanos, com diversão, envolvendo questões combinadas com uma jogabilidade elegante. Não quero que America seja esquecido após uma blitz de férias, em vez de ser um jogo que pode ser jogado outras vezes. A forma como o sistema de reposição de cartas funciona, faz os jogadores terem mais de cinquenta maneiras de jogar sem nunca ver a mesma carta duas vezes - muita longevidade. 

Mas com um jogo de tabuleiro de grandes dimensões, peças de madeira (apesar de serem cubos, são grandes cubos), e uma tonelada de cartas coloridas, não havia nenhuma maneira de America ter um preço baixo. Terminou com US$ 45, que é ainda mais alto do que eu gostaria que fosse, mas a qualidade dos componentes e a jogabilidade o torna um grande negócio. 

Todos os outros tipos de ajustes foram feitos durante o desenvolvimento, incluindo a adição de um pequeno ícone atrás da pergunta de estado que indica se a resposta é a leste ou a oeste do rio Mississippi (que só acontece porque divide o país quase igualmente em termos de número de estados, mesmo que a quantidade de terras no lado oeste seja muito maior do que no lado leste). 

Há muita diversão em piadas nas várias cartas, e as cores dos cubos são vermelho, branco e azul (e também prata, preto e azul claro). E se você e seus amigos conseguirem lidar com isso, também podem jogar com a "parte de trás" do tabuleiro onde os nomes dos estados estão em branco... 

Traduzido por mgstavale