Texto originalmente publicado no portal Flynns.
Enfim, aconteceu. Seguindo os passos de seu coirmão, Bloodborne, que será adaptado para um tabletop card game, Dark Souls também ganhará um jogo analógico, na forma de um board game de exploração e combate.
Lançado pela Steamforged Games no Kickstarter, no último dia 19 de abril, o projeto teve a meta de financiamento alcançada num piscar de olhos (conforme noticiado aqui) e promete agradar os fãs do videogame tanto pela qualidade dos componentes quanto pelas mecânicas inovadoras apresentadas no playtest, transportando também o nível de desafio – marca registrada de toda a série Souls – para o tabuleiro.

Partindo do sucesso inicial do projeto de Dark Souls – The Board Game, é interessante frisar que a transposição de mídias não é algo incomum no mercado de entretenimento, principalmente nos cinemas (é, estou falando dos seus produtos, Disney/Marvel), mas é fato que a mudança de uma plataforma para a outra requer extrema atenção e zelo para com o público que se pretende atingir. E, no universo dos jogos modernos, não são raros os títulos que se aproveitam de um conteúdo pré-existente para formular novas interpretações sobre o tema, seja num contexto similar, complementar ou inteiramente novo.
O alcance desse tipo de adaptação também pode se manifestar em menor ou maior escala. Um exemplo disso é a série de livros The Witcher: escrita pelo talentoso e insoletrável autor polonês Andrzej Sapkowski, a série já ganhou vida através de uma versão televisa de qualidade duvidosa (confira por sua conta e risco neste link), de uma aclamada franquia de jogos digitais produzidos pela CD Projekt RED e também por um jogo de tabuleiro intitulado The Witcher: Adventure Game, trazido pela Fantasy Flight Games – que, por sua vez, adapta elementos presentes no primeiro e segundo videogames.
Por conta do imenso sucesso dos jogos digitais, os livros de Sapkowski ganharam projeção internacional em outros mercados e públicos, e até mesmo a série de TV despertou a curiosidade de parte dos fãs; os videogames, por conseguinte, tiveram sua imagem capitalizada em outros produtos, como o board mencionado. Um feito expressivo, que ampliou a força e o valor da marca, numa escala global.
Nesse contexto, outros exemplos de transposições interessantes para o universo dos board games podem ser encontrados nos títulos Krosmaster Arena (jogo tático competitivo e com miniaturas colecionáveis, inspirado na série animada Wakfu e no MMORPG de mesmo nome), Battlestar Galactica e Sons of Anarchy (ambos adaptados de séries de TV homônimas) e Quissama (lançamento nacional independente e carregado de uma brasilidade única, baseado no livro Quissama – O Império dos Capoeiras, de Maicon Tenfen), dentre outros.
Mas temos sempre que lembrar: uma transposição é uma adaptação de uma obra ou de um formato; a literalidade nem sempre é viável para uma nova interpretação. Logo, é óbvio que The Witcher: Adventure Game não contempla a profundidade de roteiro nem replica os desafios na mesma escala em que são apresentados na sua matriz digital, assim como o board game Bioshock Infinite: The Siege of Columbia não se propõe a debater os questionamentos filosófico-existenciais presentes na trama original de Bioshock Infinite, mas isso não diminui seus esforços em trazer novas experiências para o jogador, esteja ele familiarizado com o produto em que foram baseados ou não.
No entanto, ao mesmo passo em que a transposição pode favorecer boas adaptações ou novas abordagens, ela também pode não corresponder à identidade dos nomes que as inspiraram, caso do jogo de tabuleiro baseado em Guerra Mundial Z (livro e filme), por exemplo, cujas mecânicas deixam a desejar pela sua simplicidade e/ou pela falta de diferenciais.
Resta saber agora em qual situação os jogos analógicos de Bloodborne e Dark Souls vão estar depois do lançamento: no patamar das releituras bem-sucedidas e vendo mesa entre jogadores ávidos por experiências divertidas, ou sujeitos a uma recepção não tão favorável do público e do mercado especializado, seja por conflitos de jogabilidade ou quaisquer outras limitações. Pelo barulho, pela expectativa e pelo que nos foi mostrado até então – assumindo ainda o papel de fã – torço pelo primeiro cenário e pela oportunidade de tomar uma surra de um boss apelão durante a jogatina.
Prepare to die play! 