Um dia você está lendo sobre um livro e, do nada, percebe que você já sabia um pouco sobre o assunto, mesmo não se lembrando de ter visto nada sobre aquilo. Ou falando com seus amigos solta uma informação aleatória, vinda do nada, mas inacreditável sagaz que se encaixa perfeitamente no assunto. Ou mesmo no meio de uma prova extremamente difícil, que você não estudou o suficiente, você sabe a resposta da questão que vale mais, mesmo não se lembrando do resto da matéria. Será um Déjà Vu? Lembranças de reencarnações passadas? Transmissão telepática do seu eu do futuro para você não zerar na prova e ficar de DP? Pode até ser, mas vamos fazer um teste:
Pergunta: Em que país fica Vladivostok?
Se sua resposta foi Rússia, parabéns!
Agora, me diz como você sabia. Leu muito sobre esse país? Seus avós eram de lá e te contaram muitas histórias do local? Ou você se lembra porque viu muitas e muitas vezes esse nome em um jogo?
Aposto que 90% dos que acertaram jogaram War (e 9% jogaram Russian Railroad) e nem faziam ideia que Vladivostok é o principal porto russo no Pacífico. Estou certo?
De tanto ver essa informação no jogo, você gravou. Mesmo sem perceber, você aprendeu algo. Reteve uma informação, praticamente inútil, mas reteve. E tudo isso com um jogo.
Agora imagine se os jogos fossem usados nas aulas para ensinar? É uma ótima ideia, só que não é original. Faz tempo que educadores e pedagogos fazem isso, mas se utilizando de jogos educativos, como jogo da memória e dominó das letras. E convenhamos, quem consegue jogar isso mais de duas vezes seguidas?
E se os professores usassem jogos melhores, mais modernos, como Puerto Rico, Stone Age e Código Secreto? Cara, que idéia fantástica! Totalmente empolgado, você corre para buscar mais sobre o assunto (de preferência em português).
Então...
Se você pensou nisso, então temos uma boa e má notícia.
A má é que não há muito sobre o assunto. Nem em inglês, alemão, navajo, Igbo... E principalmente na boa e velha língua de Luis Vaz de Camões.
A boa notícia é que a Devir lançou um livro sobre o assunto. Em português. Escrito por estudiosos do assunto.
O livro é dividido em três partes: Porque usar jogos de tabuleiro na educação; Como usar jogos de tabuleiro na educação; e Como criar jogos de tabuleiro na educação. Cada capítulo foi escrito por um especialista no assunto (as vezes mais de um), como "O que está em jogo quando jogamos?" de Karin Quast, doutora em Educação e mestre em Linguística. "O jogo Código Secreto em uma oficina para a saúde mental" de Laíse Lima, fonoaudióloga e fundadora do Oficinas Lúdicas, e Felipe Neri Randam, psicólogo. "Jogo na terceira idade", Pedro Vitiello, psicólogo. "O que não faz com jogos na educação" de Paula Piccolo e Odair de Paula Junior, fundadores do Instituto Jedai (aka Casal Slovic).
É, escrevemos um livro (Xique, né?). E a Sra. Slovic foi uma das organizadoras! E sabe o que mais? Não querendo puxar a sardinha para nosso lado, mas Jogos de Tabuleiro na Educação é muito bom.
Teoria do jogo; a importância dos jogos cooperativos; como usar jogos no ensino de humanas; RPG em sala de aula; jogos e infância. Esse são alguns dos temas abordados.
Para mim, pessoalmente, acho que o melhor capítulo chama-se: "Diálogo coloquial, informal, lhano e até mesmo extratemporal, mas ainda assim, inteligível, sobre RPG e Storytelling. Ou RPG e Storytelling: Suas relações com a educação e as competências do século XXI". Pode confiar!
O livro é para todos que querem saber mais sobre o assunto, em uma linguagem acessível a todos, e não só para catedráticos em teoria do ensino formal. Professores, pais, psicólogos e todos que querem saber mais ou começar a aprender sobre o vasto universo de Jogos de Tabuleiro na Educação agora tem um guia acessível.
Finalmente um livro sobre este tema disponível no Brasil, escrito por que entende e trabalha na área.
Até a Saquá está no livro.
E é isso, Shisho!