Fala, galera!
Como perdi um pouco o timing do bonde por aqui, vou responder num comentário à parte, pra não encher de respostas fragmentadas. Muito obrigada pelos comentários, é muito massa quando rola essa troca. Adorei ver que o papo rendeu, tanto sobre o jogo em si e sua abordagem temática, quanto à nomenclatura da categoria.
Bruno Marchena, seus comentários são demais, sério. Do tipo que estampa um sorriso na cara, não tem jeito! Dá pra ver que você se diverte lendo, leva a sério o que quem escreve está falando e faz um uso muito massa do conteúdo pra abrir reflexões. A propósito, bacana esse seu olhar atento pro fato de que a jogamana aborda jogos fora-do-hype, não como uma razão per se, mas porque falamos daquilo que nos chama a atenção de fato. Já que você curtiu ouvir falar de Cerebria, vou lá pro post desse tema trocar uma ideia contigo :] calhou de ser justamente o jogo que eu trouxe àquela seção da curadoria! Feliz que tenha curtido!
Sobre o Mountain King, de fato não vi muitos holofotes sobre esse jogo no Brasil - talvez vacilo meu, talvez fruto de uma campanha que não se comunicou lá muito bem com certo público. MASSS, respondendo à questão sobre se ele "é mesmo bacanudo", devo dizer que putz, sim, vale a pena, é daora, temática bem implementada e combinação de mecânicas bem gostosinha. Não, não é um jogo de treta: a competitividade se dá numa tensão um pouco mais silenciosa, que eu acho elegante e instigante, porque nos puxa para mantermos a atenção às jogadas das demais pessoas, não deixando que aspectos mais introspectivos o tornem um jogo solitário de vários jogadores. Recomendo pra quem curte eurojogos que trabalham o tema pela própria mecânica: os túneis se construindo transportam pra sensação de expansão dos caminhos de fato, e há ainda coisas que não mencionei na resenha, como a "cascata de recursos", que é uma distribuição de abastecimento dos recursos dos Trolls que impacta as camadas mais baixas da horda a partir do ponto mais alto da hierarquia. É bem simbólico e dá pra discutir certa abordagem de estruturas econômicas pelo mundo real. Nesse sentido, o "profundo" se referia aos dois aspectos da ambiguidade que você notou.
Mesmo assim, devo concordar com Sr Ze que a combinação de mecânicas poderia ser trabalhada também por alguma outra (não arrisco dizer "qualquer") temática, o que, como Sr Ze mesmo disse, é razoavelmente comum entre eurojogos. De todo modo, acho que isso só vem a benefício do feito: dentre um sem-número de possibilidades para a combinação tema-mecânicas, quem desenhou o jogo escolheu essa, e ela funcionou e está tão bem comunicada nas engrenagens, que nem mesmo é preciso mais do que um mínimo de disposição para vivenciar em profundidade a experiência que ela transmite. A beleza não está em fazer a pessoa que joga entender que cubos de madeira podem "ser" recursos em ferro, mas em fazer essa pessoa sentir isso, sem precisar recorrer a artifícios de literalidade ou apelo meramente visual, como miniaturas - o que, como podem notar, já respondendo Sr Ze também, eu acho um recurso de linguagem realmente tosco, no sentido de pouco sofisticado, mesmo.
Sr Ze, te agradeço também pelos comentários e a disposição em esmiuçar e adensar a discussão sobre categorias, que eu particularmente acho muito boa e frutífera pro hobby todo! Em relação à minha escolha por "Ameritosco", ela é bastante pessoal e aberta como uma proposta identificadora (também no sentido que você trouxe, de comunidades internas ao nicho), aproveitando o fato de a sonoridade do anglicismo "Ameritrash" (mesmo sabendo que se trata de "thrash", referência a combate/derrota/impacto), lembrar "trash", que é mesmo "lixoso" e usamos no Brasil como referência a algo "tosco" ou "bruto", para além do próprio nicho dos jogos (festa/música/estilo/filme - e por que não jogo? - "trash"). É identificadora, mas não necessariamente descritiva. Entendo que agressiva, de fato, mas não a proponho como um ataque nem uma polêmica - pode ser que seja apenas eu a usá-la no mundo, e está bom. Fica como um causo, sabe como?
Talvez nisso mesmo (nessa crueza), seja uma expressão facilitadora no estabelecimento de uma vertente e uma preferência em jogos, além de um caminho que estou procurando tomar, de "desanglicização" do vocabulário. Para mim, é uma discussão similar, por exemplo: "War" é ou não é "jogo" (moderno)? Por quê? "Uno" é "brinquedo"?
Os ameri______ podem ser caracterizados pelo aspecto aventuresco, como também podem ser caracterizados pelo uso de sorte, que pode ser ou não considerado excessivo, e ser ou não considerado, por exemplo, um elemento (des)legitimador, um motivo de favoritismo e afeto ou desafeto. É uma disputa política, e, como tal, contempla perspectivas plurais com maior ou menor adesão popular. A maior adesão, como vemos no mundo real, nem sempre é sinal de maior pertinência ou sentido. Em disputas, como em tudo, adoto certa explicitude de minhas posições.
Para uns, pode ser uma sacada de humor, e até algo passível de apropriação - no cinema e na música, ser "trash" pode ser um jeito de ser irreverente. Para outros, pode ser mesmo um aspecto antipático do meu perfil de jogadora. Para ainda uns, uma forma possível e honesta de ver. De todo modo, me alimenta muito a curiosidade de saber quem se aproxima e quem se afasta a partir disso. Fico inspirada com tudo o que trouxeram para a mesa dessa discussão, especialmente a densidade :]