Compilado organizado por: Nanda (@
fsales)
Postagem feita 25 de julho, em homenagem ao Dia internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha!
Quando começamos a fazer a Tile Antirracista, nós da JogaMana queríamos fazer mais do que colocar apenas aquela telinha preta que tanta gente e empresas (também de jogos!) fizeram para prestar sua “homenagem” à luta antirracista. Queríamos também que o dia da Consciência Negra não fosse o único a ser falado das questões raciais. Nós queríamos fazer uma construção constante. Não é dia da Consciência negra, nem mês. É toda hora!
Sim, também adoramos simplesmente sentar e jogar, ao mesmo tempo que há ainda muito espaço a ser expandido, muita reflexão a ser colocada na mesa e muito construção para fazer. E dá sim para que isso aconteça também em uma mesa com um jogo aberto. Afinal de contas, de que vale aprender as histórias tão bem contadas nas temáticas de alguns jogos e ignorar a história que estamos construindo na vida real?
O que você vai encontrar agora é um compilado que fizemos das últimas Tiles Antirracistas que rolaram na nossa página no Instagram. Espero que te inspire de alguma forma e surjam algumas novas reflexões!
RACISMO NAS REDES SOCIAIS - É REAL?
Em outubro, começou a rolar um barulho bem grande nas redes sociais sobre uma polêmica envolvendo o algoritmo de recorte de fotografias do Twitter. Então, instagrammers negros fizeram um experimento: postaram fotos de pessoas brancas em seus perfis para verem como isso afetava a visibilidade de suas publicações a seus seguidores. O resultado foi um surpreendente aumento de 6000% no engajamento dos posts!
Como isso acontece? Bem, a verdade é que até podemos escolher quem seguir, mas é o algoritmo que ordena nossa timeline, selecionando aquilo que considera mais de acordo com o nosso perfil. Como uma ferramenta criada por humanos, esse algoritmo também carrega os preconceitos e a estereotipização de nossa sociedade. Por exemplo, nas funcionalidades que envolvem reconhecimento facial, nem sempre é utilizado um banco de imagens diverso o suficiente para ensinar para a inteligência artificial que os seres humanos vêm em muitas cores e tamanhos.
"QUANDO A COMUNIDADE NEGRA NÃO VÊ ESPAÇO, ELA CRIA O SEU PRÓPRIO"
Para dar um exemplo prático de como as relações raciais têm como se envolver também até mesmo dentro dos jogos, queremos que você conheça Omari Akil e no Hamu Dennis!
A história deles é parecida com a da família do
Our Family Plays Games (que já apresentamos por aqui) e a de muita gente preta, que é a seguinte: o Omari sentia uma baita falta de ter mais representatividade e diversidade dentro do seu hobby, assim como jogos com temática afrocentrada. Essa falta foi tamanha que, 3 anos atrás, acabou criando sua própria empresa com o irmão para poderem desenvolverem os jogos do jeito que queriam ver por aí.
Eles estão no seu segundo lançamento com o
Hoop Godz que está no KickStarter e foi 100% financiado com apenas algumas horas!!! Somando mais uma conquista pra comunidade negra!
Em seu primeiro lançamento, Rap Godz (que está em reprint junto com a campanha do Hoop Godz), os irmãos foram fundo na representatividade e chegaram a ter, inclusive, cartas representando ativismo e nossa luta (exemplo da foto 4). É um show de representatividade em cada detalhe do jogo.
Omari é um cara extremamente engajado e muito ativo nas redes sociais, sempre posicionando-se à favor das minorias e lutando ativamente para que esse mundo mude, e logo. Essa dupla que promete mudar o que vemos por aí. Enquanto isso, fico por aqui celebrando mais essa vitória e na torcida para que alguma editora consiga trazer esses jogos para cá. Seria uma honra enorme ter algo deles na prateleira, não?
ESTAMOS FALANDO DE CULTURA PRETA!
"It is not just a black product, it is a hip-hop product, and that is black culture."
Chantel Calloway
Em tradução livre:
“Não é apenas um produto feito por pretos, é um produto do hip-hop e isso é cultura preta.”
Falta de representação da cultura preta e analfabetismo inspiraram Chantel Calloway a criar Rhyme Antics.
Em Rhyme Antics as jogadoras tentam fazer rimas com as mais de 12.000 palavras disponíveis e no estilo hip-hop! O tema é muito caro para Chantel Calloway e não abriu mão dele mesmo quando abordada por grandes editoras para publicação. A falta de jogos com temas relacionados à cultura negra nos EUA e as taxas de analfabetismo no país, que afetam mais diretamente famílias e crianças negras foram inspirações importantes para Chantel Calloway e manter o tema do jogo foi fundamental para ela. Hoje, devido ao seu esforço e persistência, o jogo pode ser encontrado em diversas lojas, entre elas, as grandes redes (Amazon, Target e Walmart).
Chantel Calloway evidencia a falta de pessoas negras na criação de brinquedos e jogos e fala frequentemente sobre a importância de colocar a cultura negra em destaque.
Para conhecer mais sobre essa mulher incrível, empresária e criadora de jogos, dá uma olhada na página do jogo
rhymeantics.com e se inglês não for um problema, nos sites webuyblack.com e
http://www.blackenterprise.com (onde pesquisamos as informações usadas aqui); e no youtube, procure o vídeo How To Create Your Own Board Game, do canal do DorianGroup82.
QUAL A SUA RESPONSABILIDADE NA LUTA ANTIRRACISTA?
E por fim, queremos fechar este compilado trazendo mais uma reflexão…
Você também já ouviu uma pessoa branca responder a apontamentos sobre racismo estrutural com “mas eu não tenho culpa”? Já foi essa pessoa? Então bora conversar sobre o que realmente está em jogo nesse tipo de situação.
O racismo é um fenômeno histórico, o que significa que surge e se desenvolve por meio de acontecimentos que operam como causas e situações que se estabelecem como consequências, formando uma relação que pode ser analisada de forma (crono)lógica. Da mesma maneira, a continuidade ou o fim do racismo dependem do que acontece hoje e no futuro, e isso envolve todas as pessoas que vivem nesses tempos.
Nesse sistema, é evidente que uma pessoa não tem *culpa* sobre o fenômeno que não causou. Mas tem, sim, *responsabilidade*. Isso significa que há escolhas na maneira como se lida com as consequências do que aconteceu, e – pasme! – PODER sobre o encaminhamento do futuro, e portanto sobre favorecer ou sabotar a continuidade do fenômeno.
Você, que joga, já conhece bem essa mecânica, e sabe, de forma tão lúdica quanto prática, identificar quão desequilibrada fica uma realidade na qual o setup inicial beneficia apenas alguns, ao custo de prejudicar as demais. Sabe também que, para que quem se prejudicou tenha condições de começar o jogo justamente, é simplesmente necessário retirar as vantagens injustas de quem se beneficiou.
É por isso que o racismo é um problema “de” branco: os povos brancos, grosso modo, ainda detêm riquezas, espaços e legitimidade social resultantes da exploração de povos não-brancos, e poder tanto sobre a concentração como sobre a redistribuição desses elementos. Evocar uma culpa que nem vem ao caso para ignorar a responsabilidade sobre a realidade social é só mais uma forma de mantê-la como está.
Bora com a gente mudar as peças desse jogo?