Strained Kingdoms: Strifull - The Card GameStrained Kingdoms: Strifull é um belo jogo de cartas que atualmente está em fase de financiamento pelo catarse. Criado totalmente por uma equipe brasileira, o jogo conta com uma arte linda e excelente jogabilidade. Nele, você escolhe uma facção, monta seu exército e parte para uma batalha altamente estratégica, mas com aquela pitada de sorte para apimentar.
Nesta entrevista, conversamos com a Miriã Razzo, designer responsável pelo desenvolvimento de marca do jogo, tendo também participado da criação e do do conceito dos personagens. Vem com a gente!
Qual foi o seu papel na criação do jogo?
Como designer, desenvolvo projetos para marcas, e minha atuação é orientada pelo Branding. Por isso, tenho algum conhecimento em relação à criação de nomes e uma das primeiras coisas que precisamos desenvolver foi o nome do jogo, e vários foram os fatores envolvidos nesse processo. Colaborei também com a definição da ilustração de capa (keyart), o design da embalagem do jogo, a diagramação e auxílio editorial do Livro de Regras, além de outras questões de materialização visual do jogo.
Como foi desenvolvido o design da marca e dos elementos do jogo?
Resolvemos o nome quase ao mesmo tempo em que pensávamos no design da marca em si, analisando cada caractere para chegar no lettering do nome Strifull, utilizando como base o estilo de letra uncial, escrita usada nos tempos medievais. Com isso resolvido, passamos para o design dos demais elementos, como os símbolos das facções Inquisição e Iniciativa dos Magos, a escolha tipográfica para os textos das cartas, as texturas e cores da interface, o formato de cada pedra elemental, os ícones de ataque e defesa, e por aí vai. Também auxiliei o Will Marconi na criação de cada personagem ilustrado.
Conta mais sobre o seu trabalho na concepção dos personagens.
Por vezes atuei como “modelo” para referência das poses, mas em boa parte do tempo atuei como diretora criativa, por assim dizer, desvendando ao lado dele a personalidade de cada personagem (especialmente os líderes), mediante alguns aspectos da lore já criados pelo Carlos e pelo Adriel. Também resolvi ao lado dele assuntos como os trajes dos personagens, as expressões faciais e outros refinamentos.
Nosso objetivo era que o jogador conseguisse se relacionar com os personagens de cada carta, percebendo que cada um foi pensado individualmente, com sua própria personalidade e bem humanizados. A escala em que cada um aparece nas cartas, a maneira em que estão posicionados – que sugere uma ação, mas de maneira passiva – tudo foi pensado para transmitir a visão dos criadores que queriam um jogo “cinza”, ou seja, não temos vilões e mocinhos, temos uma situação conflituosa de base humana.
Como você se sentiu ao fazer poses para as personagens?
Na verdade, essa parte da pose é bem comum dentro do processo de ilustração mesmo, independente de ser para um jogo ou um personagem. Sempre que há pessoas na ilustração, acaba sendo necessário algum tipo de referência visual. Às vezes conseguimos por meio de fotos feitas especificamente para isso, outras vezes com recortes de imagens diversas, e outras vezes até com modelos 3D manipuláveis.
Como o Will e eu trabalhamos juntos, acabamos fazendo as poses entre nós dois. Algumas vezes ele me fotografou, e outras eu o fotografei. É muito engraçado fazer essas fotos, porque é uma coisa bem de bastidor mesmo, não tem beleza alguma envolvida. Se a necessidade é ter uma maga em pé segurando pergaminhos com um dedo apontando para cima, então a gente improvisa como dá. Nesse caso, que é a carta da Nú’nga Rêyma, eu fiz a pose na minha sala usando uma roupa qualquer, segurando dois tapetes enrolados (daqueles pequenos de sisal) e com o dedo pra cima. O Will conseguiu extrair dali a pose, e depois elaborou a fisionomia dela (traços, tom de pele) usando como base diversas fotos de mulheres indígenas. Cada personagem é um verdadeiro quebra-cabeça de referências e adaptações.
Eu servi como referência para cartas como a Areghel de Guerize (pose da mão que tem a magia), Nú’nga Rêyma (pose toda com os pergaminhos, que citei acima), Tenan de Guerize (mão segurando o cetro), Guardiões das Letras (mão segurando um livro aberto), Edificadores (braço que faz a magia de escudo), entre outras.
Há bastante diversidade na representação dos personagens. Como isso foi pensado?
O continente de Auslend, onde se encontra Strifull e os demais reinos de Strained Kingdoms, é muito diverso. São 14 reinos com povos, costumes e ambientes bastante diferentes, assim como temos aqui no Brasil mesmo. Por isso, não faria sentido representar os personagens todos da mesma maneira ou com a mesma etnia. Então cada carta tem sua particularidade em relação a isso. Muito do que vemos em cada uma já vem do repertório do Will como ilustrador e como jogador também. Eu tenho minha parcela de contribuição muito mais em relação aos detalhes do que no design estrutural deles, como expressão facial, penteado, proporções, entre outros.
Nos papéis de liderança, temos a Ëlla de Belberg, que é uma negra albina, chefe da Divisão da graça da Inquisição; Areghel de Guerize, uma mulher branca albina, Sumo Sacerdotisa da Inquisição; e Nú’nga Reyma, manipuladora de energia e estudiosa de origem indígena da Iniciativa dos Magos. Vale dizer que todos os sacerdotes nascem albinos, por isso Ëlla e Areghel são albinas. Nas tropas, temos presença feminina nas cartas dos Edificadores, Brigada Tempestiva e Última Brigada (Iniciativa dos Magos), além da Panácea (Inquisição).
Desde o início, foi uma preocupação nossa não retratar as mulheres com sensualidade ou de forma irreal, como vemos em muitos jogos. No processo de concept design da Ëlla, pesquisamos sobre o tipo correto de armadura para mulheres, e descobrimos que a parte peitoral precisa ser inteiriça, sem a marcação delineada de cada seio, que é muito retratada por aí (caso a mulher use uma armadura assim, ela pode sofrer uma grave lesão no tórax e até morrer).
Foi difícil encontrar referências mais reais sobre armaduras femininas?
Não tanto, mas isso porque buscamos por referências históricas mesmo, para entender o que de fato era usado nos períodos medievais, em vez de seguir uma tendência visual, que é o caso das “boob plates” (ou armaduras com peitos), que poderia ocasionar lesão no tórax, o que seria uma grande falha de design.. É possível encontrar ilustrações de Joana d’Arc usando uma armadura comum, sem o detalhe peitoral. Descobrimos que, para tentar diferenciar uma armadura feminina de uma masculina, é mais interessante investir em detalhes do que na anatomia da armadura em si.
Se a busca tivesse sido feita estritamente sobre referências de similares (ou seja, de outros jogos e ilustrações contemporâneos), teria sido fácil ir pelo mesmo caminho, pois é o que mais vemos por aí, infelizmente. Percebi que Strifull tem recebido muitos apoios de mulheres no Catarse, e gosto de pensar que isso se dá também porque é perceptível o respeito à essência de cada personagem dentro do universo, independente de sexo, idade ou etnia. Cada um deles é interessante por si só, não há necessidade de vulgarizar para chamar atenção.
Qual a sua relação com o mundo dos jogos?
Durante a faculdade, tivemos um semestre de Design de Jogos. Naquela época, 11 anos atrás, eu jamais imaginei que anos depois nós estaríamos de fato envolvidos em um jogo real e tão bem feito como Strifull. É muito legal voltar no tempo e pensar nessa evolução.
Em relação aos jogos digitais, posso dizer que conheço muitos, mas jogo poucos. Gosto daqueles que me fazem jogá-los de novo e de novo, seja porque o jogo é rápido, imersivo e dá pra matar o tempo, ou porque o jogo é longo e acho uma delícia passar tempo naquele universo. Adoro Sonic e sou fã incondicional de Tomb Raider.
Para saber mais sobre o Strained Kingdoms: STRIFULL® e apoiar o jogo, acesse:
https://www.catarse.me/strifull (corre que a campanha vai só até amanhã - 9/7!)
https://odyssey-studios.com/strifull/
