Bem me recordo a sensação quando comecei a me interessar pelo mundo dos jogos de tabuleiro modernos. Era como olhar um tsunami a 2 km da praia e ficar hipnotizado vendo aquela gigantesca onda de 60 metros vir vagarosa e brutalmente em minha direção. Esse era um tsunami de informações. Tantas mecânicas, editoras, designers que eu fiquei completamente perdido. Depois de um tempão jogando, lendo e aprendendo, um nome que sempre figurou no panteão de grandes designers, mas que nunca figurou entre os que eu jogava, era o do Stefan Feld. Fui atrás de aprender um pouco sobre ele e seus jogos e vi que eles não apresentavam, em sua maioria, modos solo apreciados pela comunidade. Provavelmente, os jogos do Stefan Feld não são tão solo-friendly devido à natureza de suas mecânicas e à forma como os jogadores exercem a disputa. Todavia, toda regra tem sua exceção, claro, e trago não apenas uma, mas três delas hoje: as três versões solo da obra máxima de Stefan Feld,
The Castles of Burgundy.

Começo por
The Castles of Burgundy: The Card Game, que foi a primeira . Trata-se de uma reimplementação do grande sucesso Castles of Burgundy através de cartas. Trata-se de um jogo mecanicamente simples, mas com boas decisões e que tem o mérito de manter o feeling de seu predecessor. Seu modo solo conta com um adversário chamado Aaron, no inglês an almost real oponnent, que basicamente faz trincas com as cartas e compete em pontos e pelas cartas bônus que a gente adquire por formar trincas ou sequências de cores diferentes. O jogo não apresenta nenhuma grande revolução em termos mecânicos, mas é capaz de fornecer uma experiência muito prazerosa no jogo solo. É como se fosse uma paciência mais sofisticada. O Aaron é muito simples de se manter, não dá trabalho e não torna o jogo chato. Ao fim da partida, vence quem fizer mais pontos e, devo dizer, isso não é fácil. Ele me lembra muito uma variante solo não-oficial que eu gosto bastante, que é a do
7 Wonders Duel. Não chega a ser uma desvantagem, mas é impressionante como um jogo de caixa pequena e com tão poucas cartas consegue ocupar tanto espaço numa mesa. Recomendo bastante esse jogo para quem curte jogos de cartas e o Burgundy. Tenho a impressão de que ele funcionará melhor com baixas contagens de jogadores, mas é um bom jogo de toda forma.

A segunda versão lançada foi o
The Castles of Burgundy: The Dice Game. Foi o primeiro ensaio de Feld no mundo dos roll & write, a febre do momento. Da mesma forma que o jogo de cartas, o jogo de dados traz elementos muito semelhantes ao do Burgundy original, mas destila os elementos que o caracterizam ao máximo, reduzindo a experiência ao mínimo necessário para ainda se chamar aquilo de Burgundy. Não posso dizer que o jogo seja ruim, de modo algum, mas ele é muito simples de verdade. O tipo de simplicidade que pode fazer com que ele seja jogável por qualquer pessoa, mesmo alguém que nunca jogou um jogo moderno. Isso não faz dele um jogo insosso, acho que tem boas decisões e entretém. Em sua natureza, esse é um jogo solitário que pode ser jogado multiplayer, o que faz com que o jogo solo seja idêntico à versão multiplayer. O que se faz nesse modo é, essencialmente, maximizar seu escore, não há uma forma ativa de oposição. A experiência é agradável, parece um passatempo tipo um sudoku, uma palavra cruzada ou outra dessas atividades que se faz um lápis na mão. É um jogo muito portátil que você pode levar para todo canto. A caixa pode ser usada como uma dice tray, o que torna esse jogo o extremo oposto do que eu falei sobre o jogo de cartas aí em cima. Por outro lado, o jogo tem gráficos tão ruins quanto os do Burgundy original e espaços muito pequenos para se anotar o resultado dos dados, o que pode limitar seu uso em condições de baixa luminosidade ou com pessoas que tenham alguma restrição visual. Eu não consigo pensar em outros problemas relativos a ele. Se minhas impressões por acaso levaram a crer que eu não gostei do jogo, gostaria de dizer que já joguei umas 40 partidas dele e já acabei com um dos blocos. Portanto, gostei, sim. É um dos roll & write que eu mais curti.

Por último, em 2018, a Alea lançou 2 mapas e um conjunto de regras que adaptava o
Castles of Burgundy original para o modo solo. Até então, eu nunca havia jogado essa jóia, mas, no momento em que soube disso, consegui uma cópia da Grow por um preço excelente e logo dei um jeito de conseguir os mapas para testar esse modo. As regras solo mudam um pouco as regras originais do Castles of Burgundy e acrescentam o objetivo de completar todos os espaços do mapa para que você possa se considerar vitorioso. As mudanças não mudam a sensação geral de se jogar Castles of Burgundy e preservam os elementos essenciais do jogo base, o que faz com que esses mapas expandam o jogo em uma direção muito correta. Eu fiquei literalmente maravilhado com isso e acho que, para quem já tem o jogo, não custa nada imprimi-los a partir do arquivo disponibilizado
aqui na Ludopedia e utilizá-los para tirar um ótimo jogo da prateleira num dia em que você não tiver parceiro.



Para concluir, eu gostei tanto das versões do Burgundy que acabei pegando outros dois jogos do Feld com modos solo -
Luna e
Trajan. Esse último não tem um modo solo oficial, mas uma variante não oficial com um automa desenvolvida por um usuário do BGG e que, cedo ou tarde, vai ganhar um review meu por aqui. Se você quiser comprar só um desses jogos, eu recomendo muito o jogo de cartas. Para mim ele é a verdadeira cereja do bolo. Não acho que valha a pena comprar o Castles of Burgundy somente para testar os mapas solo, mas eles são uma ótima opção para quem já tem o jogo e gostaria de aproveitá-lo de um jeito diferente.
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