O Peão de Tabuleiro resenha: Dobble
Introdução:
Dobble é um jogo de cartas festivo lançado no Brasil pela Galápagos Jogos. Criado por Denis Blanchot, Guillaume Giulle-Naves e Igor Polouchine, e com arte de Denis Blanchot, Peyo e Igor Polouchine, o jogo serve de 2 a 8 pessoas com bons olhos, de 6 anos ou mais. Nem a lata nem o manual apontam um tempo estimado para a partida.
Em Dobble os jogadores disputam em velocidade para encontrar ilustrações coincidentes entre duas cartas.
Mecânicas:
Dobble utiliza a mecânica de reconhecimento de padrões.
Componentes:
Lata:
Dobble vem em uma lata cilíndrica de metal de. A tampa da lata traz a mãozinha mascote do jogo e o título em relevo. As laterais possuem diferentes ilustrações deste mesmo mascote fazendo caras e bocas, e o nome do jogo. Encontramos maiores informações apenas no fundo da lata, com uma descrição breve sobre a quantidade de jogadores e a idade recomendada.
A arte da capa dá o tom de diversão que acompanha uma partida deste jogo, com o pequeno mascote em diversas poses, parecendo divertir-se ao posar. As cores roxo e amarelo utilizadas na arte, vivas e contrastantes, auxiliam a dar esse tom.
Apêndice histórico:
Confeccionado em papel couchê com formato de livreto, tem as dimensões aproximadas da parte interna da lata.
Por se tratar de um jogo festivo, achei muito curiosa a presença deste apêndice. Se trata de um pequeno texto contando como surgiu a idéia do jogo, desde a concepção da base teórica matemática que explica a existência do jogo, as primeiras tentativas de se criar um jogo com essas bases matemáticas, até chegar no Dobble como o conhecemos. O texto é bem enxuto, mas muito interessante, e abre as portas para que leitores mais curiosos avancem para além do jogo e da diversão e possam aprender um pouco mais sobre a bela ciência da matemática.
Manual:
Confeccionado em papel couchê com formato de livro, tem as dimensões aproximadas da parte interna da lata.
O manual é bastante conciso, de fácil compreensão e coerente. As partes mais importantes do texto estão destacadas, facilitando sua visualização. Há ilustrações de exemplos a todo momento, que facilitam a compreensão das explicações.
O manual traz 5 propostas diferentes para se jogar Dobble, todas com o mesmo princípio, mas nas poucas alterações que trazem, fazem grande mudança na dinâmica do jogo.
Apesar de se tratar de um jogo festivo, Dobble me surpreende mais uma vez ao propor, em seu manual, regras para um campeonato.
Cartas:
As cartas são redondas! Sim, isso mesmo, outra situação surpreendente deste jogo. São 55 cartas com 8 símbolos distintos em cada uma delas, num total de mais de 50 símbolos diferentes. Cada uma das cartas têm 1 e apenas 1 símbolo em comum entre si.
São diversas imagens com estilo cartunesco, de contornos bem delimitados e cores contrastantes, que facilitam sua visualização e acompanham o tom divertido proposto na arte da lata do jogo. O verso das cartas traz novamente o mascote em cor roxa sobre fundo amarelo, com a arte um pouco mais rebuscada, e mostrando algumas das imagens disponíveis nas cartas ao fundo.
Regras:
São 5 formas diferentes de se jogar Dobble, mas todas elas tem uma única coisa em comum: você deve encontrar 2 figuras iguais em 2 cartas diferentes. Muda se você ganha ou perde uma carta depois disso, e mudam-se os locais onde as cartas se encontram, mas o básico é o mesmo, sempre.
Tema:
Não há tema. Dobble é um jogo completamente abstrato.
Arte:
Arte quase minimalista, catunesca e divertida, acompanhando a descontração característica de uma partida deste jogo.
Opinião:
Para mim, Dobble é o jogo que Lince sempre quis ser mais não conseguiu. A idéia do “olho vivo” e mão/boca rápida permanece, mas aqui as imagens não são estáticas no tabuleiro. A cada rodada as cartas mudam, a imagem coincidente entre cada uma delas muda, e você se encontra perdido entre imagens fofinhas e de fácil visualização, incapaz de realizar a simples tarefa de encontrar 2 imagens iguais.
Não sou um grande fã de jogos festivos, e Dobble não foge a esta regra. No entanto, ele tem um diferencial que merece ser respeitado, seja no trazer drops de conhecimento em seu apêndice histórico, seja por inovar no design, ou por sua capacidade de fazer algo muito bem feito dentro da simplicidade da proposta de um jogo de reconhecimento de padrões e disputa de reflexos rápidos.
A sorte está presente neste jogo, mas é igual para todos os jogadores, e não determina o resultado das partidas. O que vale mesmo é ter os olhos e boca mais rápidos.
Dobble é um jogo muito leve. Tão leve que beira a concepção de jogo e quase pode ser considerado uma brincadeira/brinquedo.
A interação entre os jogadores é praticamente inexistente durante uma partida. O foco de todos está completamente direcionado na atividade de encontrar as figuras semelhantes. Interagimos, basicamente, ao falar/escutar o nome da figura encontrada, e na glória ou tristeza de se perder um ganhar uma partida.
Dobble é, para mim, um jogo com altíssima rejogabilidade. Não se tem como planejar movimentos iniciais, não há possibilidade de uma pessoa normal decorar cartas, e a cada virada de carta é um jogo novo acontecendo, com novas figuras, um novo desafio. É tudo muito aleatório. Talvez possa-se cansar da dinâmica, ou da mecânica do jogo, mas me parece mais uma questão de se gostar do que se enjoar delas depois de algum tempo. Nosso gosto muda com o tempo, então alguém que diga não querer mais jogar Dobble não é porque o jogo o cansou, mas porque provavelmente não jogaria nenhum outro jogo com características semelhantes.
Quem vai gostar deste jogo?
Certamente as crianças, mas é o tipo de jogo que os adultos conseguem jogar sem que as partidas sejam enfadonhas, pois a dificuldade do jogo é praticamente a mesma para crianças e adultos.
Quem não vai gostar deste jogo?
Jogadores mais experientes, aqueles que não gostam de jogos de destreza/velocidade, aqueles que não gostam de jogos festivos, e os jogadores mais sérios.
O que me encanta neste jogo?
São alguns fatores que fazem Dobble se destacar dentre os jogos festivos e infantis para mim. As cartas redondas praticamente impedem a memorização de posição das imagens, tornando cada troca de carta um desafio completamente novo, diferente do que acontece com o Lince, por exemplo, jogo no qual acabamos por memorizar as posições das figuras no tabuleiro. O desafio do jogo é praticamente o mesmo para crianças e adultos, e uma partida entre gerações não fica enfadonha. O fato de se ter que falar o nome da imagem antes de se movimentar para pegar a carta impede o bloqueio físico das mãos ou da visão dos adversários, e me parece mais fácil distinguir empates baseando-se nas vozes das pessoas do que em peças colocadas em locais diferentes de um tabuleiro, como no caso do Lince. Partidas “à vera” entre adultos também são possíveis, e podem ser bastante divertidas, ajudando, por vezes, a quebrar o gelo em uma mesa com desconhecidos enquanto o jogo principal não começa.
O que me desagrada neste jogo?
Não sou um grande admirador de jogos de tabuleiro de destreza, nos quais uma determinada capacidade/habilidade física mais ou menos desenvolvida determina o vencedor do jogo, e Dobble é basicamente um jogo de destreza visual.
Joga bem com o número de jogadores propostos?
Joguei apenas em 2, 3 e 4 pessoas e o jogo roda muito bem com todas as quantidades de jogadores citadas, independente da variável escolhida.
Porque está na minha coleção?
Porque a esposa e a filha gostam muito, principalmente. Além disso, gosto de usá-lo em eventos, para apresentar aos novatos mais jovens, e também para quebrar o gelo quando se espera um jogador atrasado. Atualmente acho que é o jogo mais rápido que possuo e, por isso, serve muito bem aos propósitos citados.
Ainda é divertido depois de 20 partidas?
Foram 22 partidas até o momento. Dobble é um jogo raso. Não se pode esperar descobrir camadas de profundidade ou ganho de experiência significativo após “x” partidas. É o mesmo jogo desde a primeira partida. Ainda assim, ele mantém a proposta, não se tornando cansativo per se, mas no meu caso já não aprecio mais jogos tão rasos.
Pontos positivos:
Atende de 2 a 8 jogadores (experiência pessoal diz que escala bem de 2 a 4, pelo menos);
Simples de aprender e ensinar;
Embalagem de metal, bem resistente;
Apêndice histórico muito interessante;
Apesar de festivo, há uma modalidade de campeonato muito digna;
5 modos diferentes de se jogar;
Bom filler/quebra-gelo;
Bom para se jogar com crianças, sem ser enfadonho para os adultos.
Pontos negativos:
Jogo raso, simples;
Jogo de destreza.
Conclusão:
Dobble me parece um perfeito substituto para o Lince quando se procura um jogo leve de destreza visual. Tem um preço acessível, é bonitinho e agrada à maioria dos jogadores. Muito bom para se ter em mãos para apresentar aos novatos em eventos, ou para dar de presente a alguém, algo de qualidade a um preço honesto.
Espero ter colaborado em sua busca por informações. Todos os comentários e sugestões são bem vindos.
Seguuura, peão!