Hoje nosso post é uma entrevista com essa figura super carismática e querida, a co-fundadora e gestora do evento Joga na Mesa, que acontece todo terceiro domingo do mês no centro da cidade jogatrix de São Paulo.
É ela, a maravilhosa, a rainha do mundo lúdico, aquela que não deixa pra pirar mais tarde: Luiza Pirajá! xD
Chega mais pra ver!

Lulu arrasando em uma partida de
Torres, publicação da editora Devir
Bárbara, da JogaMana: Em primeiro lugar, mais uma vez obrigada por topar conceder essa entrevista. Estou bem feliz em aplicá-la 
Tive a oportunidade de acompanhar um pouco do seu trabalho mais de perto e sou fã! Vamos às perguntas:
JM: Pode nos contar um pouco sobre o que é o Joga na Mesa e a história do evento?
Luiza Pirajá: Joga na Mesa surgiu inicialmente pra ser uma proposta de evento onde poderíamos encontrar e integrar nossos amigos de fora do meio e os que fizemos no hobby também, mas que por vários motivos não se sentiam confortáveis em frequentar outros eventos. Nossa principal intenção é levar os jogos onde geralmente eles não vão, levar para fora do nicho, do público geek/nerd/gamer padrão. Resgatar o jogo em quem não joga mais ou levar opções diferentes para aqueles que só consomem os clássicos.
O evento Joga na Mesa acontecendo, no Cama & Café São Paulo, onde se repete mensalmente
JM: Que desafios te surpreenderam nessa trajetória de organizadora?
LP: Me surpreendeu a quantidade de gente em situações de vulnerabilidade emocional e social. Muita gente veio buscar conosco um conforto psicológico, uma segurança. Gente que pedia pra trabalhar conosco mesmo que de graça, o que é contra nossos valores exceto quando em ações sociais. Percebemos uma necessidade e uma forma de cuidar das pessoas, cuidando de nós mesmos também. Seja proporcionando e diversão, seja simplesmente por respeitar a particularidade de cada um que chega.
Equipe Joga na Mesa reunida, com direito a uniforme personalizado! #vestiramacamisamesmo
JM: Como começou seu contato com boardgames? E quando você percebeu que não pararia mais?
LP: Sempre gostei de jogos. Jogava mais RPG quando criança e adolescente. Em 2012 comecei a trabalhar na Ludus por acaso, jamais me imaginei trabalhando com público. Estava precisando de trabalho, lá tinha vaga e fui. Era terrível no começo pois eu realmente era muito tímida. Mas jogar era maravilhoso, fui me aproximando de pessoas novas e incríveis e vi que queria jogar e conhecer mais.
A famosa escadaria da Ludus Luderia especialmente decorada para uma edição do Joga na Mesa – ficou ainda mais linda!
“Temos um nicho muito branco classe média privilegiado. Estamos buscando levar o Joga na Mesa para outros locais, democratizar o acesso. Levar para fora do eixo central, dos locais comuns. Ainda fizemos pouco, queremos fazer mais. E queremos ver mais gente fazendo.”
JM: Você já sentiu que recebeu qualquer tratamento diferente no mundo dos boardgames pelo fato de ser mulher? Como você identificou essa diferença?
LP: Passei por mais chateações com mesas de RPG que em tabuleiro. Certa vez fui chamada para explicar um jogo mais complexo para duas meninas e ouvi um rapaz tirando sarro pois eu teria trabalho pra ensinar um jogo daquele pra garotas, quando o confrontei ele me soltou: “Dificilmente garotas curtem jogos complexos” e eu respondi no mesmo instante: “Eu sou o quê? Quem foi chamada pra explicar o jogo?” E comecei a citar uma enorme lista de conhecidas nossas que jogavam coisas pesadas. Ele pediu desculpas e vida seguiu. Mas já tive experiências bacanas de chegar em um local em que ninguém me conhecia, me perguntarem apenas se eu tinha preferência por algum e depois de eu falar que estava aberta a propostas a única pergunta foi se eu topava um cooperativo e me colocaram no Robinson Crusoé. Sem alfa player e sem chateação alguma. Tenho a felicidade de vivenciar poucas situações.
Equipe de monitoria organizada pelo Joga na Mesa para o estande da editora Conclave na edição 2019 do mega evento Diversão Offline – alguém viu a @B. Côrtes aí na foto?
JM: O que você acha que falta para termos mais mulheres no hobby, tanto nas mesas e nos eventos quanto nas ocupações profissionais?
LP: Na verdade eu não sinto mais que faltam mulheres no hobby. Os ambientes que frequento, os lugares que trabalhei sempre eram frequentados por várias mulheres. E podemos observar mulheres em posição de destaque e liderança no meio. Algo equilibrado mesmo. Existem sim ambientes com menos mulheres, mas no geral são ambientes com algum tipo de pessoa ou pessoas problema que afasta as mulheres. Tenho sentimento semelhante com o público gay, que é bastante presente já no hobby e em ambientes confortáveis. Me incomoda mais a baixa presença de pessoas negras, pessoas trans e portadores de necessidades especiais. Temos um nicho muito branco classe média privilegiado. Estamos buscando levar o Joga na Mesa para outros locais, democratizar o acesso. Levar para fora do eixo central, dos locais comuns. Ainda fizemos pouco, queremos fazer mais. E queremos ver mais gente fazendo.
Joga na Mesa marcando presença na Fábrica de Cultura do Capão Redondo. Bombando, heim!
JM: Que conselho você daria às mulheres que querem ingressar profissionalmente na área dos boardgames?
LP: Vem falar comigo, falar com outras mulheres que trabalham no ramo. Junte-se de gente que você confie no julgamento e pergunte. A gente vai falar quem é legal e quem não é legal. Infelizmente tem sim pessoas não bacanas no ramo, como qualquer área. A gente se protege, se indica, se ajuda. Não tenha medo de se aventurar, que a maioria é bem legal e vai te ajudar.