É justo começar dizendo: não há, até hoje, jogo que me desperte tanta disposição quanto esse. Denso na medida certa, introspectivo na estratégia e interativo na competição, Dominant Species combina algumas das mecânicas favoritas do eurogame aos traços da categoria 4X, mais comumente associada a outras espécies de jogo.
A capa do brilhante Dominant Species
E, por falar em espécie, impossível deixar de notar que a temática do título é de grande sucesso entre os nerds dos mais diversos habitats. Parece que a inspiração darwiniana não é exclusividade da Galápagos Jogos, editora brasileira – hoje integrada ao grupo internacional Asmodee – cujo nome e o logotipo tomam de empréstimo elementos da icônica jornada de Charles Darwin à Ilha de Galápagos, a partir da qual o cientista desenvolveu bases importantes para sua famosa pesquisa, que culminou na Teoria da Evolução das Espécies.
A tese do evolucionista-mor é, ainda atualmente, referência presente em produções que vão do cinema aos jogos, como é o caso que quero aqui comentar. Cada partida de Dominant Species simula a disputa entre até seis classes de animais pela sobrevivência mais bem-sucedida à chegada da Era do Gelo. O sucesso pode ser alcançado por critérios como a dominância, o volume populacional e a melhor articulação de eventos pelos quais a narrativa vai passar. Para encarar esses desafios, oponentes devem programar ações que interferem na disposição dos recursos ambientais para sua sobrevivência, na adaptação de seus animais a novos tipos de habitat e na dispersão dessas condições pelo tabuleiro, sobre o qual também é possível acelerar o processo glacial em andamento.
Tabuleiro DS
Os tiles hexagonais representam diferentes tipos de ambiente, em expansão pelo tabuleiro. Entre eles, pequenos tiles circulares indicam os recursos disponíveis para sobrevivência dos animais ali. Esses, por sua vez, têm a população representada por cubos e a dominância representada por cones, que nesta foto foram substituídos por miniaturas feitas em impressora 3D (que não vêm no jogo).
É interessante observar que cada ação é limitada em quantidade, e disputada por meio da mecânica de alocação de trabalhadores, mas em geral oferece mais que um espaço, de modo a possibilitar que diferentes participantes realizem os mesmos tipos de ação em uma mesma rodada, ou até que uma mesma pessoa repita o tipo de ação.
A mecânica “controle de área”, que ganhou fama no Brasil com a publicação de Tikal pela editora Conclave, também está presente com estilo e elegância. O jogo consegue estabelecer disputas distintas e concomitantes por população e dominância. Cada animal representado pode conquistar a dominância sem necessariamente estar presente em maior volume (quantidade de unidades) em um ambiente.
Setup DS
O setup (organização do início de jogo) tem um ambiente de cada tipo, com distribuição balanceada de recursos, unidades populacionais e dominâncias. Ao centro, a tundra indica o processo de glaciação latente.
Tanto a disputa por presença quanto por dominância em cada área disponível – sendo as áreas passíveis de expansão ao longo da partida – envolvem certa agressividade competitiva, retirando oponentes do caminho. No entanto, me parecem raras as ocasiões em que algum gesto possa ser feito visando somente prejudicar outra pessoa no jogo.
A presença de eventos elegíveis e manipuláveis é também fantástica! É um traço peculiar que oferece interação e dinamismo à partida, temperando-a com novidades a cada rodada, sem tirar uma fagulha sequer de seu calor estrategista.
A mesa
O jogo vai a 6, e segue dinâmico e ótimo! A partir de 3 participantes, já se faz uma bela (e tensa!) partida. O número ideal? 4, como era de se esperar.
Toda essa mistura faz do também chamado “DS” uma verdadeira Evolução em Eurogame – em ambos os sentidos! O título, de peso, ainda não foi publicado no Brasil – mas não se preocupe! O inglês necessário para jogar fica restrito às cartas de eventos e aos nomes das ações, de modo que a joga possa fluir sem problemas apenas com rápidas consultas ao tradutor na internet ou bastando uma pessoa falante de inglês presente.
E você, já jogou? Conta pra a gente nos comentários!