Não faz muito tempo, li uma thread no BGG em que uma pessoa relatava um certo cansaço com jogos pesados. Os motivos para isso eram vários: setup e teardown trabalhosos, manuais longos para (bons, às vezes ótimos) jogos com gameplay complexo e decisões que deixam a gente com o nariz sangrando e a cabeça doendo. Às vezes é tanto investimento intelectual e físico para colocar o jogo na mesa que ficamos nos perguntando se isso, de fato, vale a pena.
Quantas vezes num ano você consegue colocar um jogo pesadão desses na mesa?
Você e seu grupo conhecem as regras bem o suficiente ao ponto de conseguirem fazer uma partida sem aquelas chatas consultas ao manual? Sim, são aquelas que quebram o ritmo e fazem com que a analysis paralysis seja uma norma para o jogo.
Ao final de uma partida de 2-3 horas, em que vocês derreteram a mufa por completo, vocês se sentem felizes com o jogo, recompensados com o resultado (independente de qual foi) ou cansados, exaustos e prontos para uma boa noite de sono?
O seu jogo pesado é daqueles que desanima a galera e todo mundo prefere deixar de lado e jogar algo mais simples, que dure menos tempo e seja menos complicado?
Se sua resposta for sim para algumas ou todas essas perguntas, você talvez também se inclua naqueles que, como a pessoa da thread, está meio cansada de jogos pesados.
Isso, creio, é um zeitgeist desse tempo estranho nosso, em que chovem lançamentos de jogos. Todos os dias se anuncia um jogo bacana, com uma coisa diferente no seu tema, no seu design, nos seus componentes. No contexto de tantos lançamentos, de tanta coisa legal que chega ao mercado e a gente tem vontade de conhecer, os jogos que demandam maior investimento pessoal acabam ficando de lado. Do contrário, acabamos gastando mais tempo aprendendo regras do que de fato jogando.
Creio que isso se aplique a muita gente interessada em jogos solitários ou que seja o responsável por aprender e ensinar as regras para o restante do grupo. Nessas situações, o investimento pessoal é maior, porque muitas vezes depende muito de você: você vai estudar as regras, vai apresentar o material para o grupo de uma forma legal e, por vezes, vai ser quem vai comprar o jogo! Enfim, você acaba sendo aquele que move o grupo adiante.
Pensando assim, a gente entende uma proposta como a do Jamey Stegmaier com o seu lançamento mais recente, o Tapestry, que tem 4 páginas de manual e um gameplay muito simples, mas divertido. É um jogo que tem o adjetivo que é modinha agora: ele é streamlined. Acaba sendo mais fácil colocá-lo na mesa, do que um jogo infinitamente superior a ele, como o Mage Knight ou o Projeto Gaia.
Mais do que nunca, a experiência global de um jogo, enquanto produto, deve ser aprimorada. O aprendizado das regras faz parte disso, o setup/teardown faz parte disso, o gameplay faz parte disso, o feeling ao fim da partida faz parte disso. Quando algo não fica bom em alguma dessas etapas, há grande chance de que aquele jogo não veja mesa e fique relegado a um canto sombrio da estante para um dia em que você, eventualmente, tenha a paciência necessária para dar alguma atenção a ele.
No meu caso, em particular, isso é bem verdadeiro.
Por tudo isso que expus, tenho preferido cada vez mais os jogos com os quais tenho mais familiaridade, cujas regras já me são confortáveis ao ponto de não precisar mais do que um player-aid para lembrá-las e que eu consiga, entre montar o jogo, jogar e guardar tudo, demorar no máximo 2 horas. Não necessariamente são jogos leves, simples, mas são aqueles que de fato fluem bem para mim.
Tenho também preferido expansões desses jogos a comprar jogos novos. Elas trazem variedade, novos desafios, mas não me obrigam a aprender novos conjuntos de regras, assistir vídeos e tudo mais.
Enfim, isso é apenas um desabafo. Gostaria muito de ouvir a opinião de mais alguém a respeito disso ou se sou apenas eu que estou ficando um velho ranzinza!
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E lembre-se: TOGETHER, WE GAME ALONE!