Essa é mais uma postagem do Canal Euro Channel, clique aqui para ler as resenhas anteriores.
Como cheguei ao jogo:
No momento em que Terraforming Mars chegou ao Brasil, o burburinho começou e não parou mais. Nas redes sociais centenas de jogadores de todas as regiões não paravam de postar fotos e tecer comentários sobre suas últimas partidas. Normalmente não me empolgo com hype, afinal como algum leitor mais assíduo pode ter percebido, a “filosofia” do canal é falar do jogo que der na telha, sem se preocupar com o jogo que está “bombando” no momento.
Assisti alguns vídeos sobre o jogo e simplesmente não consegui compreender tamanha empolgação em relação ao jogo.
Meses depois do lançamento no Brasil, joguei Terraforming Mars em um evento e a primeira impressão não foi das melhores.
Achei o jogo arrastado, longo e com muita sorte envolvida (jogamos sem draft). Percepções que se demonstraram equivocadas depois que adquiri o jogo e joguei um grande numero de partidas.
Pontos positivos:
Em Terraforming Mars o jogador busca aprimorar o motor de sua corporação, através das cartas disponíveis em suas mãos no início de cada rodada. Como todo bom jogo de otimização, o tempo todo aparecerão decisões difíceis, onde será necessário, por exemplo, abrir mão de uma boa carta para poupar dinheiro e descer outra carta comprada anteriormente, ou selecionar uma carta durante o draft para evitar que o adversário a selecione, abrindo mão de outra carta que seria boa para a construção do “motor” de sua corporação.
O grande destaque de TM é a capacidade de ser cerebral e ao mesmo tempo um jogo gostoso, no sentido de não causar um “cansaço cerebral”, o que agrega um grande fator replay ao jogo. É comum jogadores terminarem uma partida de Terraforming Mars e emendarem outra na sequencia, apesar de ser um jogo longo e estratégico.
Essa, digamos aprazibilidade do jogo pode ser explicada por alguns fatores. O primeiro é que jogo não complica as coisas. Para descer cartas basta apenas um tipo de recurso que é o dinheiro, e se você produz aço ou titânio, eles podem ser usados como dinheiro de forma a acelerar ainda mais a descida das cartas.
Assim, TM não é burocrático, você não precisa ter minério para transformá-lo em ferro e depois em aço para então construir algo. É tudo muito direto. Tem dinheiro? Então baixe a carta. Nesse ponto é necessário ficar de olho nos parâmetros globais, que determinam o momento em que a carta pode entrar em jogo. Por exemplo: a carta ‘Pecuária’ exige que haja 9% de índice de oxigênio, o que é muito temático, afinal como sua corporação criaria vacas em um planeta sem oxigênio ou com um índice muito escasso?
O segundo fator, é o sentimento de recompensa que o jogo causa. Sua corporação inicia produzindo nada e no final do jogo você está recebendo 40 megacréditos (dinheiro), 10 marcadores de calor, 6 plantas, 5 titânios, 5 energias e 4 aços! Você sente uma grande progressão de poder durante o jogo. Cartas que pareciam impossivelmente caras no meio do jogo, passam a fazer parte do seu engine facilmente rodadas à frente.
Não à toa, pegando uma amostragem de dados do BGG dos últimos dois meses, Terraforming Mars foi o terceiro jogo mais jogado de junho, ficando atrás apenas de Wingspan, jogo lançado recentemente e Azul, um jogo familiar e rápido. Em julho o mesmo aconteceu, ficando a frente de jogos rápidos e familiares como Welcome to e Kingdomino. Sendo o terceiro jogo mais bem avaliado no ranking do BGG e um dos únicos do top 10 que sempre figuram entre os mais jogados mês a mês.
Por fim, o modo solo do jogo é excelente e traz um desafio bem instigante: terraformar Marte em apenas 14 rodadas. O que torna o modo de jogar bem diferente, fazendo com que o jogador deixe os pontos em segundo ou terceiro plano, focando quase que exclusivamente nos parâmetros globais.
O modo solo do jogo demonstra como TM não é um jogo de sorte, quanto mais experiente você fica, vai ficando mais fácil vencer, mesmo com o número reduzido de cartas disponíveis no início de cada rodada (afinal não há draft).
Nas primeiras partidas solo você vai patinar e achar que a tarefa de terraformar Marte sozinho em apenas 14 rodadas é impossível, alguns jogos depois você já estará pensando de forma muito mais coerente: ‘se eu colocar em jogo essa carta que me custa 3 para comprar e mais 10 para descer, será que o retorno dela nessas 5 rodadas que me restam vai se pagar?’
Pontos negativos:
Alguns jogadores podem considerar o tempo de jogo um empecilho, afinal é necessário reservar de 3h a 3h30 para uma partida de Terraforming Mars, porém o jogo se adéqua a períodos mais curtos. O jogo sem as cartas da ‘era das corporações’, - que são em grande parte as cartas azuis que priorizam o engine em detrimento da realização dos parâmetros globais -, faz com que o jogo seja reduzido em um bom período, podendo ser finalizado até mesmo na metade do tempo.
O draft do jogo é colocado no manual como uma variante, algo que deveria fazer parte da forma padrão de jogar, afinal sem a circulação das cartas, TM pode se tornar um jogo um pouco frustrante, você pode comprar apenas cartas inúteis para aquele momento do jogo, ou cartas caras, enquanto seus adversários podem ter mais sorte. O draft consegue mitigar isso, pois faz com que os jogadores tenham acesso a um número maior de cartas, além de realizar um controle mais interessante do que vai chegar às mãos dos adversários.
O tabuleiro individual dos jogadores é mal feito, deveria possuir algum nível de profundidade para acomodar os cubos que controlam os níveis das produções dos jogadores, como no caso do tabuleiro individual do Scythe, por exemplo. O que torna o dashboard (vendido por terceiros) um item imprescindível para os jogadores mais assíduos do jogo.
Por fim, o design gráfico do jogo não é das melhores. Lembro que na primeira partida fiquei bastante confuso, não conseguia entender muito bem as cartas e suas funcionalidades, fato que pode assustar alguns jogadores. Além disso, a arte das cartas é esquizofrênica, algumas possuem desenhos caprichados e outras fotos que parecem ter saído de um banco de imagens barato.
Considerações finais:
Terraforming Mars é um euro médio que pode ser jogado de diferentes formas: de forma mais tática (sem draft), de forma estratégica (com draft), de forma cadenciada, construindo lentamente um motor (com todas as cartas), de forma rápida, focando na terraformação (sem as cartas da era das corporações), além de possuir um dos melhores modos solo que já experimentei.
A rejogabilidade do jogo é enorme devido à variedade das corporações, assim como a combinação das cartas disponíveis.
A expansão ‘Prelúdio’ acelera o início morno das primeiras rodadas, tornando a experiência melhor ainda. Já a expansão 'Colônias' dá mais opções aos jogadores, pois há possibilidade de comprar recursos de determinadas colônias escolhidas aleatoriamente durante a preparação, tirando assim a dependência exclusiva das cartas, além de ser um modo de obter recursos de forma instantânea. Sabe aqueles seus marcadores de energia que lá pro final do jogo ficaram inúteis? Você pode gastá-los para negociar com uma colônia e comprar plantas e colocar um tile de floresta, por exemplo.
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