Após uma guerra devastadora envolvendo as raças mais proeminentes da galáxia, a paz foi declarada e uma aliança intergaláctica surgiu. Com o intuito de promover o comércio, fortalecer as relações diplomáticas e ajudar a manter a paz recém estabelecida, a primeira iniciativa anunciada pela Aliança foi a construção de estações espaciais.

Em Among the Stars cada jogador assume o papel do líder de uma das raças alienígenas com o objetivo de construir uma estação espacial.
Cada jogador tentará construir a melhor estação possível. No início a única carta é o reator principal. A estação evoluirá em torno dela num período de 4 anos. No início de cada ano os jogadores recebem 10 créditos e 6 cartas de locação. Cada jogador escolhe uma carta e simultaneamente todos revelam a carta escolhida. Há três ações possíveis, posicionar a carta na estação, descartar a carta para receber 3 créditos ou descartar para receber um reator a ser colocado na estação.
Na primeira opção, a carta deve ser posicionada adjacente à uma carta existente. Tem-se dois tipos de locação conforme a forma de pontuação. As cartas de habilidade imediata fornecem pontos de vitória no momento que ela entra em jogo. No segundo grupo temos as cartas de habilidade tardia, que gerarão pontos somente após o término do jogo.
Cada carta tem um valor em créditos à ser pago. Caso o jogador não tenha créditos suficiente, a opção de descartar a carta deverá ser usada para obter 3 créditos. Essa opção pode ser usada também para descartar alguma carta que seria importante para outro jogador. Lembrando claro, que ao fazer isso, o próprio jogador deixará de marcar pontos.
No caso de se descartar a carta para obter um novo reator, deve-se pagar o custo do mesmo e obedecer às mesmas regras de colocação de cartas. Reatores podem ser importantes no jogo pois eles fornecem cubos de energia, utilizados como pagamento em algumas cartas.
Na sequência os jogadores passam as cartas adiante, recebendo as cartas do jogador ao lado. Todos escolhem novamente uma carta e executam a ação escolhida até que todas as cartas sejam utilizadas.
Ao final desses 4 anos, o jogador que obtiver a maior quantidade de pontos será o vencedor.

Outros elementos interessantes do jogo são os objetivos e as cartas das raças. Ambos não são obrigatórios, mas introduzem mais possibilidades de pontuação. As cartas de objetivo são abertas no início do jogo e valem para todos os jogadores. Além disso, cada jogador pode receber uma carta de líder que lhe dará um poder diferenciado.
O grande mérito do jogo foi aliar a mecânica de seleção de cartas (card drafiting) e colocação de peças (tile placement), no caso cartas, onde a posição das mesmas é importante. As cartas de locação têm 5 categorias distintas: administrativa, negócios, militar, recreação e diplomacia. As habilidades das cartas muitas vezes dependem da quantidade de outras cartas presentes na estação e da posição que se encontram. Dessa forma, é necessário planejar bem onde as cartas serão colocadas. Um outro jogo que tem esse mesmo aspecto é Suburbia. Mas é com 7 Wonders que Among the Stars vem sendo comparado em grande parte das vezes quando é mencionado.
Quando Among the Stars surgiu em 2012 através do financiamento coletivo pela Indiegogo não havia muita expectativa pelo jogo. Foi somente depois do lançamento e após alguns reviews considerando Among the Stars como o possível substituto do 7 Wonders que o jogo entrou no hype. Mas a empresa na época, Artipia Games, era pequena e a quantidade de cópias disponíveis não era grande.
Foi somente quando o jogo foi levado para a plataforma do Kickstarter que possibilitou a venda para um público maior. Isso foi em 2013, com o lançamento da expansão Ambassadors. Depois disso ainda tiveram mais duas campanhas no Kickstarter em 2014 e 2015.
Apesar do hype gerado em torno do jogo lá fora, aqui no Brasil ele é pouco conhecido. E quanto a questão de ser um possível substituto do 7 Wonders? Se formos ver pelo ranking do Boardgamegeek, 7 Wonder ocupa a posição número 45 no rank geral e 47 em jogos de estratégia, enquanto Among the Stars não chega nem no Top 100. Ele está na posição 484 no geral, e 306 em jogos de estratégia. Ou seja, apesar dos comentários e comparações, Among the Stars nunca teve a chance de chegar na mesma posição que 7 Wonders, embora tenha se beneficiado com toda essa discussão.
Mas o que gerou essa comparação? Basicamente ambos utilizam muito bem a mecânica de seleção de cartas, onde cada jogador recebe um número pré-determinado, escolhe uma e passa as outras para frente. Talvez tenha sido 7 Wonders o jogo que mais se destacou na utilização essa mecânica, se tornando a maior referência. Dessa forma, a comunidade fica a espera de novos jogos que superem os anteriores. O argumento principal seria que em 7 Wonders as cartas somente são baixadas na sua frente. O aspecto espacial em Among the Stars, onde a posição das cartas pode proporcionar pontuação diferenciada, deixaria o jogo mais interessante.
Esse ponto de vista tem seu mérito, inclusive o que me fez gostar de Among the Stars foi exatamente essa questão espacial, atrelada ao tema scifi, que me atrai em qualquer jogo. Entretanto, 7 Wonders possui outros elementos que contribuem até hoje para mantê-lo na posição que está. Sua arte é belíssima (assim como o próprio Among the Stars), o jogo não é difícil de explicar, embora novos jogadores precisem de duas ou mais partidas para entenderem as pontuações de cada tipo de carta. 7 Wonders não tem dependência de idioma, facilitando a sua venda para qualquer tipo de público. Já Among the Stars tem texto o suficiente em suas cartas, limitando a sua venda. Por exemplo aqui no Brasil, a barreira da língua é um problema em diversos grupos de jogos. O fato de 7 Wonders possibilitar até 7 jogadores é mais um ponto positivo para seu lado. Ele funciona bem com qualquer quantidade de 3 a 7 jogadores, enquanto Among the Stars limita até 4 jogadores. Poucos são os jogos do calibre de 7 Wonders, que fogem da categoria de festivos (party game) e que possibilitem um grande número de jogadores.
Um último ponto que diferencia os dois jogos é que as cartas em 7 Wonders são específicas para cada uma das três eras, impondo um ritmo de desenvolvimento, com cartas mais simples no início e mais elaboradas no final. Já em Among the Stars não há essa diferença. Todas as cartas são embaralhadas em um único monte, a ser distribuído ao longo dos quatro anos.
Interessante que em ambos os jogos eles não conseguiram de forma satisfatória adaptar as regras para dois jogadores. Os jogos funcionam melhor com três ou mais.
Em 2015 cada uma das franquias tentou mitigar esse problema, mas de forma bem diferente. Among the Stars lançou mais uma campanha de financiamento coletivo com Revival, uma expansão para o jogo base, mas que pode ser jogado sozinho em duas pessoas. Infelizmente eu não tive a oportunidade de jogar essa versão para duas pessoas.
Em compensação, o jogo 7 Wonders Duel estourou como um dos melhores jogos para duas pessoas, passando inclusive seu “irmão”, estando hoje em décimo quarto no rank geral do Boardgamegeek.
O que se conclui é que Among the Stars nunca foi um candidato real para substituir 7 Wonders, mas ele tem seus méritos. O jogo é muito interessante, o tema casa bem com a mecânica, e o jogador tem o prazer de construir a sua estação espacial, principalmente para aqueles que apreciam esse tema. As cartas de objetivo comum direcionam o jogo, proporcionando uma interação maior entre os jogadores, no sentido de que cada um não se preocupará apenas com a sua estação, mas precisará pensar no quanto cada carta entregue para o jogador ao lado poderá beneficiá-lo. O poder diferenciado de cada uma das raças possibilita jogar de formas diferentes a cada jogo.
Se você gostou do jogo, mas o tema não lhe agrada, fique de olho no jogo Fields of Green, do mesmo game designer e lançado pela Artipia Games em 2016. Ele tem mecânicas parecidas, mantendo a seleção de cartas e colocação de peças, mas com o tema de fazenda. O jogo é muito bonito e tem outros elementos que o diferenciam de Among the Stars que são bem interessantes. E o melhor é que Fields of Green foi lançado aqui no Brasil pela Flick Games, então ficou fácil de encontrar.