Quando A Few Acres of Snow apareceu, causando um hype danado sobre o tal jogo que usava a mecânica de Dominion para interagir com um jogo que acontece de verdade no tabuleiro, não se falava em trilogia. AFAoS foi pra mesa e surpreendeu. Além do deckbuilding, esse jogo para dois jogadores já começa bastante assimétrico. A colocação de peças no tabuleiro, as cartas iniciais de cada um, as cartas que cada um pode comprar e as diversas condições de vitória, uma que favorece o avanço rápido e a conquista de Quebec e, outra, a capacidade de resistir a ataques e conseguir expandir lentamente. As partidas na mesa são muito tensas, com bastante interação e estratégias possíveis. Mas assim que AFAoS foi para o meio digital, disponibilizado pelo Yucata, todo mundo passou a jogar dez ou mais mesas simultaneamente. E logo surgiu o que ficou conhecido como estratégia Halifax Hammer que, se fosse bem executada pelo lado inglês, não deixaria chance de vitória para o lado francês. Enfim, parecia haver uma estratégia vencedora. Alguns gamers do BGG tentaram encontrar meios de equilibrar as coisas e salvar este jogo genial. Tim Seitz, o out4blood, foi quem tentou com mais afinco e acreditava que seria apenas uma questão de reduzir uma ou duas moedas do deck de cartas dos ingleses para que o balanceamento fosse reestabelecido. Entretanto, ele veio a falecer antes de conseguir e o próprio Martin Wallace desistiu de encontrar uma solução única. A alternativa foi criar uma lista oficial de variantes para o jogo. Foi então que foi divulgado que AFAoS faria parte de uma trilogia, seguido por Mythotopia e A Handful of Stars.
Veio Mythotopia e a sinopse é a de que seria um AFAoS para quatro jogadores. E meio que foi, mas Martin Wallace criou uma regra para a condição de fim de jogo tão estranha que muita gente torceu o nariz. Qual o problema? A regra é a seguinte: terminar o jogo é uma ação do jogo que só pode ser usada se o jogador for vencer a partida e só depois que um certo número de pontos já tiver sido ganho por todos e esta tem que ser a primeira ação a ser feita em um turno. Ou seja, se chegar a sua vez de jogar e você estiver ganhando, o jogo termina. Parece bacana no papel mas, na prática, isso faz o jogo durar uma hora a mais do que deveria. Quando alguém termina a jogada em primeiro lugar, os outros três jogadores se esforçam para detoná-lo, e assim vai por vários turnos. Novamente a comunidade gamer tentou criar variantes para acabar com isso e até surgiram ideias interessantes.
A Handful of Stars segue e aprimora diversos conceitos, regras e mecânicas existentes nos dois anteriores. E, aparentemente, resolve os problemas também. O tema é a genérica guerra por domínio da galáxia. Neste quesito fica difícil superar o AfoS cujo tema histórico é bastante envolvente, mas supera em muito o Mythotopia onde até existem alguns dragões, mas são tão sem graça, e mito mesmo não tem nenhum.
Embora o manual tenha 28 páginas, suas regras são quase simples, exceto algumas questões sobre o início dos combates. O setup do tabuleiro é pensado para dar variabilidade às partidas. Existem sete raças com tecnologias iniciais bastante diferentes, o que faz querer jogar ao menos sete vezes e conhecer todas. E as cartas de tecnologia são a chave para a construção de um bom deck. O jogo tem uma trilha de tempo que avança toda vez que alguém esgota seu monte de compras. Pronto! Olha que solução simples e que podia ter deixado o Mythotopia bem melhor.
Só joguei uma partida de AHoS e a sensação foi boa. Com três jogadores são 19 avanços de tempo e durou umas duas horas, o que achei na medida certa. Deu tempo de preparar e de acontecerem boas batalhas. O fim da partida foi semelhante ao Mythotopia só que tinha hora para acabar. Ou seja, quem estava com mais pontos se tornou o alvo principal. Aparentemente isso pode ser um problema do jogo, já que aquele que está na liderança sempre se torna o alvo e dificilmente vencerá a partida. Entretanto, se todos os jogadores já conhecerem o jogo e essa característica de fim de jogo, especificamente, as estratégias podem ser construídas em cima desta percepção.
Como primeira partida, o jogo agradou bastante e já quero vê-lo na mesa novamente. Se possível com quatro jogadores para ver a galáxia pegar fogo.