Escrita por: Rodrigo Neves.

Introdução:
O "The 7th Continent" é um jogo cooperativo, de 1 a 4 jogadores, lançado pela editora Serious Poulp via financiamento coletivo pelo Kickstarter em 2015, mas entregue aos apenas agora em 2017, alcançando a marca de 12.000 apoiadores. Temos aqui um jogo de aventura que usa cartas... muitas cartas, para oferecer uma experiência única de exploração e aventura. A premissa básica é que você fez uma expedição ao misterioso 7º Continente, no entanto algo ocorreu terrivelmente errado e você foi amaldiçoado. Agora você retorna para tentar encontrar uma maneira de cancelar esta maldição. Existem quatro maldições no jogo base, que podem ser escolhidas isoladamente ou (para verdadeiros masoquistas) em qualquer combinação, aumentando significativamente a dificuldade.
Quando eu era mais novo, adorava ler livros jogos para viver minhas próprias aventuras. Sempre identifiquei com o conceito de que você podia ser o herói da história. Depois de entrar para o hobby de boardgames, noto que alguns jogos tentam recuperar a sensação de aventura e tomada de decisão fornecida nesses livros. Tales of the Arabian Nights teve algum êxito, mas os encontros sempre foram muito aleatórios. Recentemente, Above and Below e sua continuação Near and Far fizeram um bom trabalho de incorporar este elemento no que era essencialmente um euro. Eu acho que o "The 7th Continent" chega para dar alguns passos significativos nesta empreitada.
Mecânicas:
- Narração de Histórias,
- Tabuleiro Modular,
- Campanha/ Batalhas Dirigidas por Cartas,
- Cooperativo.
Síntese do Jogo:
**** Atenção: o texto e as imagens podem conter informações sobre aventuras, personagens, eventos, mapas ou objetos do jogo, e para os mais exigentes, pode ser configurado como spoiler.****
O mapa é o mesmo em todos as partidas, porém em cada maldição você iniciará de um ponto diferente. Existem também cartas com eventos aleatórios, que você deve comprar cada vez que viaja para um local inexplorado, o que ajuda a diminuir o valor de repetição. Algumas dessas cartas são locais e outras eventos aos quais você é instruído a tomar decisões. Quando colocadas juntas, elas criam um mapa deslumbrante dos seus arredores. O mapa não é apenas para mostrar o terreno... há uma variedade de pistas que podem ser encontradas ao olhar para ele, e o jogo vem com um tile que funciona como lente de aumento para que você possa olhar o mapa em detalhes.



A cada turno, você tem uma série de opções disponíveis para escolher. Muitas dessas opções envolvem você comprando cartas que evoluam a história de alguma forma. É importante observar que não é apenas uma sequência aleatória de eventos, temos aqui uma narração bem escrita. Você realmente sente que está em uma aventura, com muitas decisões significativas a fazer e pode ver a história se desenrolar no mapa do continente à sua frente enquanto você o explora. Uma das coisas que se menciona no livro de regras é que algumas das cartas escondem números nelas! Quando você localiza um destes números ocultos, você pode substituir a carta de terreno por uma diferente, que terá algum recurso ou ação adicional à sua disposição. Procurar por estas pistas é tão gratificante quanto "farmar" por itens/recursos em jogos de online ou descobrir fases secretas naquele jogo favorito de videogame.


A mecânica principal do jogo é o uso de um deck de ações, construído a partir de cartas de habilidade comuns, poucas cartas exclusivas para o personagem que você joga e umas "cartas de maldição", que na maioria das vezes não fazem nada, mas ocasionalmente serão responsáveis pelos seus piores fracassos. O deck de ação também é o seu total de vida, e se você ficar sem cartas e precisar comprar mais, você está muito próximo ao fim prematuro da partida.
É importante frisar que você vai usar muito o seu deck de ações. Quase tudo o que você faz: explorar, caçar, construir, lidar com perigos... tem um custo de cartas compradas dele. Você também pode comprar cartas extras (representando esforço extra) para aumentar suas chances de sucesso. Isto porque as cartas compradas também são usadas para determinar se você consegue realizar com sucesso a sua ação ou falha nela. Cada carta possui várias estrelas ou frações delas e cada estrela completa será um sucesso. É um pouco mais complicado do que isso, mas basicamente é assim que funciona. Vale frisar que apesar deste jogo conter dados, eles não são rolados... apenas usados como marcadores para vida útil dos objetos e ferramentas.
Cada carta de ação também tem uma habilidade, que pode permitir que você modifique os resultados de um teste, crie um item ou ganhe um bônus certas ações. Obviamente, a confecção de itens custa esforço (+ cartas), mas se você estiver em um local com os recursos certos, o custo será reduzido. Neste jogo você não acumula tokens de recursos, eles estão marcados nas cartas de terreno e você precisa estar na carta para usá-los. A principal maneira de recuperar cartas da pilha de descarte de volta ao deck de ações é comer... mas para comer você precisa caçar. E para tirar o máximo proveito da sua comida, você precisa construir uma fogueira. Por isto recuperar vida não é nada fácil... montar acampamento, fazer fogueira, construir uma arma, caçar e cozinhar... muitas ações onde gastamos esforço e rolam alguns testes.





A parte genial deste jogo é em como todos esses sistemas diferentes interagem. Você precisa explorar pistas e progredir, mas também encontrar recursos e um campo de caça, tudo isto lidando com os eventos aleatórios malditos que o jogo lança sobre você. Ao fazer isso, você ganhará experiência e descobrirá conhecimento útil. Inicialmente, estava preocupado que o jogo fosse muito fácil sem oferecer escolhas suficientes. Mas este não foi o meu caso!
O jogo também inclui um sistema de experiência. Certas ações e descobertas, lhe darão pontos de experiência, e em certos momentos você pode gastar esses pontos para aprender habilidades avançadas, que adicionam cartas extras de habilidades avançadas ao seu deck. Algumas delas são excepcionalmente úteis.
Dito isto, existem alguns pontos de frustração também. Em primeiro lugar, o jogo é excepcionalmente longo... completar a primeira maldição leva muitas horas. Embora a maior parte disso seja envolvida em uma exploração com muitas novidades, o tempo todo nos vemos envolvidos em ações resultam em procurar cartas novas no arquivo ou devolvendo para a caixa outras que você jogou anteriormente. Com isto, espere melhorar suas habilidades de bibliotecário enquanto você joga... porque o jogo tem quase mil cartas para manipular. Além disto, apesar das cartas serem feitas de um material de boa qualidade, é visível que a constante manipulação delas causa desgaste.
Existem também várias cartas de habilidades do seu deck de ações, que permitem pesquisar o seu deck ou devolver cartas do descarte para o deck. Inclusive estes dispositivos são essenciais para uma execução otimizada do jogo, aumentando de forma significativa as chances de sucessos em momentos decisivos, mas resultará em consecutivas embaralhadas no deck de ações. Neste deck eu recomento fortemente o uso de sleeves.


A tendência do 7th Continent também é ocupar bastante espaço. Existem regras para usar um espaço menor, mas para tirar o máximo proveito dele, eu recomendo uma boa e espaçosa mesa. Os componentes do jogo são ótimos! O tamanho das cartas é ideal, pequenas o suficiente para se fazer várias pilhas na mesa e grande o suficiente para ver com facilidade a arte e demais informações. Minha primeira impressão sobre os dados e minis é que eles eram pequenos demais, principalmente as minis que tem uma definição baixa, mas uma vez que as coloquei sobre as cartas, percebe-se que são do tamanho correto para manter a proporção e escala no jogo.
Avaliação:
O jogo tem muitos pontos positivos. A arte é incrível! A caixa é impressionante... sólida e pesada. As cartas são de qualidade boa, espessas. O livro de regras é muito claro. Os textos e a história são muito bem bolados e amarrados. É um jogo profundo e imersivo. Existem sistemas de cartas banidas e de salvamento, muito inteligentes e funcionais.
Por outro lado, não deixa de ter suas restrições e pontos negativos. Provavelmente muito melhor em modo solo, o sistema de arquivo traz muito tempo de inatividade devido à busca de cartas, embaralhar, retornar cartas, descartar, vasculhar a pilha de descarte, muita leitura, vasculhar com a lupa. Sem contar que as chances de sucesso nas primeiras partidas de cada maldição são pequenas. É um jogo altamente dependente de idioma, apesar de que se apenas um jogador tiver fluência em inglês, viabiliza a partida para os demais, porém a um certo custo de imersão e estendendo ainda mais a duração da partida.
Existem muitas pessoas reclamando do fato do mapa ser fixo e não randômico. Além de cada maldição ser difícil de se resolver, obrigando os jogadores a refazê-las diversas vezes até chegar ao sucesso final. Isto pode ser um desafio para uns, mas também uma barreira para outros. Cada tentativa de maldição nos faz avançar para a sua conclusão, pois aprendemos mais sobre a mecânica do jogo, a geografia da ilha e a adoção de estratégias de otimização, etc. Na minha opinião, é bom poder voltar e corrigir erros com novos conhecimentos e estratégia. Os eventos randomizados ajudam muito nesse sentido, não só porque o jogo é projetado para lhe dar sempre informações diferentes, mas porque ao longo de várias partidas ele altera o significado disso. Haverá pistas escondidas no texto narrativo, ou nas próprias cartas que não significam nada a primeira vez que você os vê, mas depois se torna importante quando observado no contexto certo. É um enorme investimento de tempo para realmente experimentar tudo que foi colocado nesta caixa. Aguarde por derrotas esmagadoras e vitórias emocionantes.
Apesar dessas preocupações, acho que o 7º Continente oferece uma experiência incrível, e recomendo para jogadores que gostam de jogos solos ou têm uma mesa de jogo dedicada. Recomendo especialmente para aqueles que gostam de livros de jogos de aventura e tenham gosto por explorar as aventuras em detalhes. Infelizmente não será um jogo com muitas chances de entrar no mercado com uma cópia retail. Então quem não participou do financiamento e queira uma cópia, esteja atento para aproveitar alguma oportunidade de repasse de agora em diante.