De vez em quando posso dizer que temos períodos bem produtivo no que diz respeito a jogatinas com as minhas filhas, principalmente com a Dora.
Embora já faça um certo tempo, o final de 2016 foi um deles. Estreamos diversos jogos novos, jogamos com outras crianças e adultos e fomos a um evento. Estarei falando sobre New York 1901, Set e o 35º Além do Muro nesse artigo.
New York 1901 foi um jogo que eu comprei nas férias de julho de 2016 pensando em jogar com as meninas e com a família, além de ser um excelente jogo para jogar com os amigos. O único, porém, é ser para até 4 jogadores. O que pode restringir os momentos possíveis de ser jogado dependendo do tamanho do grupo. Mas assim como ele, acredito que grande parte dos meus jogos seja para até 4 pessoas.

New York 1901 tem algumas características que me atraem muito num jogo. Ele não tem dependência de idioma, as regras são fáceis e a quantidade de ações que um jogador tem para realizar na sua vez são poucas. Essa última faz com que o jogador não seja tão demorado em sua vez, e assim os outros não tem que esperar muito para jogar. Mas o fato de ser simples não significa que seja bobo ou que não tenha estratégia envolvida.
Em New York 1901 você irá trabalhar no mercado imobiliário construindo arranha-céus no Distrito Financeiro de Nova Iorque na virada do século 20. O objetivo é desenvolver o proeminente mercado imobiliário adquirindo pedaços de terra e construindo edifícios, cada vez mais altos e com tecnologia mais avançada. Quanto mais o jogador construir, mais pontos acumulará. Ao final, o jogador que obteve mais pontos será o vencedor.
No seu turno o jogador tem que escolher entre duas opções:
a) Adquirir um novo território e/ou construir.
b) Demolir e construir.
Na primeira opção o jogador poderá escolher entre 4 cartas de territórios disponíveis no mercado e alocar um de seus trabalhadores. Esses territórios podem ter 2 ou 3 espaços, com a cor correspondente ao distrito que pertence. Na sequência, se assim desejar (e se for possível), o jogador pode construir num território (ou conjunto de territórios) adquirido (s) em turnos anteriores. Os edifícios disponíveis estão divididos em 3 níveis: bronze, prata e ouro. Cada jogador recebe um conjunto da sua cor com 6 edifícios de cada nível. No início só é possível construir edifícios no nível bronze, e conforme vai marcando pontos os outros níveis podem ser construídos.
Na segunda opção o jogador irá demolir edifícios previamente construídos, colocando um novo edifício no local, desde que ele seja de um nível superior ao demolido.
Além dos edifícios de cada jogador é possível ainda construir um dos 4 edifícios especiais (precisam de espaços maiores e portanto tem uma pontuação mais alta). E por fim, cada jogador recebe 3 cartas bônus de uso único que ao final do jogo vale 1 ponto por carta não utilizada. Essas cartas permitem adquirir um território a mais na mesma jogada, construir um edifício a mais e limpar as cartas de território disponível abrindo 4 novas cartas.

O diferencial desse jogo é que os edifícios têm formatos diferentes, que lembram tetris. Isso possibilita o desenvolvimento da percepção visual e espacial da criança o que o torna muito interessante. Apesar de ter regras fáceis, o jogo é bem estratégico e exige foco e atenção. Somando-se aos pontos obtidos pela construção dos edifícios, no início do jogo são sorteadas cartas de 3 ruas de Nova Iorque que darão pontuação extra para aqueles jogadores que possuírem a maior quantidade de edifícios em cada uma dessas ruas. Além disso, o jogo tem cartas bônus de desafio que também pontuam ao final (ou ao longo do jogo), acrescentando um grau a mais de dificuldade.
Por enquanto jogamos apenas com as cartas de pontuação das ruas, pois sempre tinha alguém novo jogando e queríamos deixar o jogo mais equilibrado. Nesse quesito todas as crianças com quem joguei incorporaram a regra das cartas de rua e não deixaram de pontuar nenhuma vez.
Em nossa primeira experiência jogamos eu, Dora e Nina. Como não poderia deixar de ser a encrenca rolou solta, pois ambas estavam querendo construir o edifício especial de maior pontuação. Os territórios que a Nina precisava obter para ter o espaço necessário ao edifício em questão não apareciam, ou quando apareciam eram utilizados pela Dora. O ponto alto foi quando a Dora conseguiu construir o edifício especial que ambas queriam, o que fez a Nina abandonar o jogo. Passei a controlar as peças da Nina para que pudéssemos chegar ao final.
Passada a tempestade expliquei à Nina que ela não deve dizer aos outros jogadores o que pretende fazer durante o jogo, pois isso leva a duas possibilidades a) a irmã sacaneá-la, b) ninguém poder fazer o mesmo porque ela disse que faria primeiro, sendo que ambas as opções não seriam corretas.
Apesar disso o jogo foi bem recebido, e alguns dias depois nós jogamos com uma amiga e sua sobrinha de 10 anos. Como estávamos em 5, a Nina e a Malu jogaram juntas. E foi justamente a dupla das mais novas que acabou ganhando o jogo.
Ainda tivemos mais uma experiência com New York 1901, dessa vez eu e Dora jogando com a minha mãe. Novamente não jogamos com as cartas bônus. Definitivamente preciso experimentar. Em geral a pontuação tem ficado apertada, e os pontos extras para a maior quantidade de edifícios nas ruas acabam sendo o diferencial. Nesse último jogo eu estava com a maioria dos edifícios em duas ruas, e a Dora na terceira rua. Na última rodada a Dora conseguiu empatar comigo em uma das ruas, dessa forma pontuamos somente nas outras duas. Como eu não utilizei nenhuma das minhas cartas bônus, e a Dora utilizou 2 delas, acabei ficando apenas 3 pontos na frente.

Ficha Técnica:
Jogadores: 2 a 4
Idade: a partir de 8 anos
Duração: 30-60 minutos
Mecânicas: colocação de peças (tile placement) e seleção de cartas (card drafting)
Designer: Chénier La Salle
Fabricante/Desenvolvedora: Blue Orange Games
Idioma: Sem dependência de idioma
Outro jogo que temos jogado bastante é o Set. Inicialmente ele foi lançado no Brasil pela Copag. Infelizmente quando o conheci já estava esgotado e não consegui comprar. Mas acabei comprando o Set em minha última viagem e foi muito bem recebido em casa. Já foram algumas dezenas de partidas até então. No momento a Devir tem a licença e tenho visto algumas lojas vendendo, apesar do preço desproporcional para um jogo de cartas.

O jogo consiste em identificar um determinado conjunto de 3 cartas dentre as 12 disponíveis na mesa. As cartas têm desenhos com 4 características diferentes: 3 formas, 3 cores, 3 preenchimentos e 3 quantidades diferentes em todas as combinações possíveis. Para um conjunto (set) ser válido ele precisa ter para cada tipo de característica todas iguais ou todas diferentes. Cada vez que um set é identificado o jogador fica com as cartas e deve-se então repor 3 cartas do monte. No caso de não haver nenhum set válido nas cartas abertas na mesa deve-se abrir mais 3 cartas. O jogo acaba quando não tiver mais cartas no monte e não houver mais nenhum set válido dentre as cartas abertas. Cada conjunto de 3 cartas vale 1 ponto e o jogador que obteve mais pontos é o vencedor.

As meninas rapidamente entenderam como os conjuntos devem ser formados assim como outras crianças com quem joguei. Mas eu particularmente ainda levo vantagem em relação à elas. Em todas as vezes que joguei eu fiquei em primeiro lugar, com exceção de uma vez. Esse será um jogo que elas terão que treinar bastante para ganhar de mim. Mas ainda assim elas não desanimaram e seguem pedindo para jogarmos o Set.
A Dora gravou um vídeo para o seu canal no YouTube explicando as regras do jogo e mostramos uma partida entre eu, ela e minha mãe. Coincidentemente foi a partida que ela ganhou. Esse vídeo vem de um desejo da Dora de ter um canal no Youtube por influência de um colega da escola. Sugeri que ela fizesse um canal sobre jogos de tabuleiro, sugestão essa que foi aceita prontamente. Hoje temos somente 5 vídeos, por falta de equipamentos melhores e tempo. O objetivo em si não é ensinar a jogar os jogos, mesmo porque eles não possuem qualidade de edição, embora possam ser usados para esse fim. Eu os vejo como um incentivo às crianças para conhecerem esses jogos e um excelente treino para aquelas que quiserem se aventurar por esse mesmo caminho. Vejo pela Dora que não é fácil organizar as ideias e conseguir explicar as regras de modo claro e objetivo. Isso requer treino e várias tentativas de gravações até que tenhamos o produto final. Definitivamente é um excelente exercício que pode ajudar para as apresentações da escola por exemplo.
Para quem ficou interessado, pode acessar o vídeo por aqui.
Ficha Técnica:
Jogadores: 1 a 20
Idade: a partir de 6 anos
Duração: 15 - 30 minutos
Mecânicas: identificação de padrões (pattern recognition) e coleção de componentes (set collection)
Designer: Marsha J. Falco
Fabricante/Desenvolvedora: Set Enterprises, Inc
Idioma: Sem dependência de idioma
Para completar o texto de hoje vou falar sobre o 35º Além do Muro, evento de jogos de tabuleiro em Jundiaí. Essa foi a primeira vez que fui ao evento e tive o prazer de ter a companhia da Dora, minha filha mais velha. Difícil saber quem gostou mais, eu ou ela. O local utilizado para o evento é a biblioteca municipal. Hoje, o Além do Muro está de casa nova. Achei excelente, fácil de chegar, estacionamento próprio na porta, local amplo, com ar condicionado, e apesar de cheio, era possível andar entre as mesas com tranquilidade. Super recomendo para quem quiser ir com os filhos. Inclusive tem até uma brinquedoteca para crianças menores.
Aproveitei para conhecermos jogos que ainda não tínhamos jogado e estavam disponíveis no evento. Primeiro foi o Red7, depois o Rummikub, Hora do Rush e Tsuro of the Seas. E ainda aproveitei para comprar o Patchwork.

Red 7 fez bastante sucesso. Jogamos 2 partidas, nas quais fui arrasada pela Dora. Já em Rummikub a Dora teve mais dificuldade em mexer nas peças para colocar as suas. Eu, como cresci jogando mexe-mexe não tive qualquer dificuldade. Aproveitamos ainda para descontrair jogando Hora do Rush. Na sequência foi a vez do Tsuro of the Seas. Nós temos em casa o Tsuro original, e foi interessante jogar essa outra versão. O jogo fica bem tenso com os Daikaiju, monstros do mar, principalmente por eles se movimentarem a cada jogada. Aliás, foi numa dessas movimentações que a Dora conseguiu jogar um desses monstros em cima do meu barco, ganhando o jogo.

Por fim ainda jogamos o Patchwork. Eu gostei bastante do jogo, já a Dora não se empolgou muito, embora tenha gostado de brincar com as peças.

Dessa vez acabei ficando somente com a Dora e não jogamos com outras pessoas. Mas por experiências anteriores, acho muito produtivo jogar com elas e outras pessoas. Em casa e com os meus amigos acabamos sempre ajudando as duas ao longo das partidas, relembrando as regras e dando sugestões. Ao jogarmos com pessoas diferentes elas acabam tendo que se virar sozinhas e isso também faz parte do aprendizado.
Definitivamente estaremos em outros eventos do Além do Muro.