Escrita por: Rodrigo Neves.

Ficha do Jogo:
Em “Química Maluca” uma equipe de cientistas sem noção de química está em um laboratório tentando criar novos elementos, porém sem muito sucesso. Neste jogo você transmuta as moléculas, manipulando discos e tiles, a fim de ajudar estes cientistas em sua missão. Em rodadas alternadas, os jogadores tentam alterar o padrão das peças do tabuleiro, de forma fiquem iguais às das cartas em suas mãos.
Lançado em 2012 pela Editora Mage Company, este jogo do designer Tony Cimino chega ao Brasil em 2016 pela Editora nacional Meeple BR Jogos. Contando com partidas de 30 minutos, atende de 2 a 4 jogadores e não possui dependência de idiomas, além de abranger uma excelente faixa etária.
Mecânicas:
- Administração de Cartas,
- Sistema de Pontos de Ação,
- Tabuleiro Modular.
Síntese do Jogo:
Wrong Chemistry é um jogo com uma proposta de ser rápido e para isto conta com um conjunto simples de componentes. Nele, temos 7 tiles hexagonais, um azul e seis amarelos, que formarão o tabuleiro modular do jogo. Além disto, temos 5 discos brancos, 4 discos pretos e ainda 54 cartas que representam as novas moléculas a serem descobertas. Todos os componentes veem em uma caixa quadrada pequena e leve, com um insert simples de papel que imita um laboratório de química.



As cartas são a alma do jogo, pois representam as “missões” de cada jogador. Conseguir recriar os padrões descritos nelas, no tabuleiro, fazem com que estas moléculas sejam descobertas, e com isto, que os jogadores a recebam como recompensa. No canto superior esquerdo de cada carta, existe uma pontuação de vitória para o fim do jogo. Existem cartas de: 1 ponto (fundo verde), 2 pontos (fundo vermelho) e 3 pontos (fundo roxo). Normalmente uma pontuação maior irá requerer mais ações e exigir uma análise mais profunda do jogador para sua montagem, porém isto não é uma verdade absoluta neste jogo... algumas cartas de 1 ponto as vezes são mais complicadas que outras de 2 ou 3 pontos, mas são minorias.



O setup do jogo é literalmente instantâneo! Coloque o hexágono azul no centro e todos os demais amarelos a sua volta. Em seguida, distribua os discos brancos e pretos alternados sobre os tiles amarelos apenas. Alguns poucos discos irão sobrar e devem compor um pequeno estoque ao lado do tabuleiro de jogo.
Separe as cartas especiais “Restartium” e “Extramovium” e coloque na mesa a vista de todos. Estas cartas são diferentes por ter um fundo azul e não representam moléculas a serem montadas, como as das outras cartas do jogo. Elas representam ações especiais de fundamental importância para o decorrer da partida, e ficam abertas para lembrá-los disto.
Por fim, embaralhe as 54 cartas e distribua 4 para cada jogador. Cada um deve escolher uma carta oculta desta sua mão inicial, e assim que todos tiverem escolhido, revelam-se simultaneamente. O jogador com a menor carta começa o jogo, que deverá rolar em turnos sucessivos até o fim do jogo. Cada jogador completa sua mão e o jogo está pronto para começar.
Durante seu turno, cada jogador possui 4 pontos de ação, que poderão ser gastos a escolha do jogador, para realizar qualquer uma das ações abaixo, em qualquer ordem e qualquer quantidade de vezes:
- Remover um disco do tabuleiro para o estoque geral, de qualquer cor;
- Colocar um disco do estoque geral em algum hexágono vazio do tabuleiro, inclusive no hexágono azul, lembrando que nenhum tile pode ter dois ou mais discos, nunca;
- Mover um disco de um hexágono para outro vazio;
- Mover um hexágono vazio para outra posição do tabuleiro, desde que a molécula não separe. Também não poderemos mover o hexágono azul, considerado o centro do tabuleiro;
- Descartar uma carta da mão;
- (ESPECIAL) Uma vez por turno somente, você pode usar a ação especial da carta “Restartium”, para devolver a molécula ao seu estado original do setup do jogo. Vire a carta para indicar esta ação.

Existem ainda algumas ações livres, que não consomem pontos de ação. Jogar cartas da mão para sua área de jogador por exemplo... sempre que conseguir recriar uma molécula no tabuleiro igual a uma das suas cartas, você pode baixar esta carta imediatamente na sua frente. Não existe limite para o número de cartas baixadas. Elas serão seus pontos de vitória no fim do jogo.
A outra ação livre é o uso da carta especial “Extramovium”. Em qualquer momento do seu turno, você pode descartar uma carta da sua pilha de pontos, ou seja, dentre aquelas abertas na sua frente e descartar do jogo. Os pontos nesta carta serão perdidos permanentemente. Mas... em compensação... você receberá 3 ações extras para esta rodada. E qual a vantagem disto?!? Muitas cartas de 3 pontos não são montadas com apenas 4 ações. Sendo assim, você pode sentar e esperar por uma sorte do seu adversário deixar o terreno preparado para você, ou lutar pelo seu próprio destino, queimando cartas de 1 ponto para gerar pontuações maiores.
Além disto, combinar o extramovium com a ação de descarte permite limpar a mão radicalmente e acelerar o fim do jogo, nos momentos em que isto lhe for favorável. Isto porque no fim do turno você deverá completar a mão para 4 cartas, e quando um jogador não conseguir mais completar a mão por falta de cartas no deck, o jogo termina.
Para pontuação de fim de jogo, cada jogador deve contar o total das suas descobertas no jogo, dado pela pontuação das cartas na sua frente. Além disto, cada carta tem um número da tabela periódica na sua parte superior direita. Cada sequência de cartas descobertas por você, irá gerar pontos extras de vitória, de acordo com o tamanho da sequência. Entretanto fique atento! A tabela periódica original tem mais de 100 elementos, e no jogo, existem apenas 54 cartas em jogo. Isto significa que não temos todos os números a disposição. O conhecimento prévio aqui do jogo, irá privilegiar na hora de escolher quais cartas descartar ou queimar para movimentos extras, em prol dos pontos de sequência que podem ser ganhos no fim da partida.
O vencedor é o jogador com mais pontos ou, em caso de empate, aquele que descobriu mais elementos que estão ao lado do outro na Tabela Periódica dos elementos.
Avaliação:
Química Maluca é um jogo rápido e quase pode ser considerado um filler. No entanto, mesmo com a proposta descompromissada e cômica, devido à grande quantidade de combinações, movimentos e sequencias que ele envolve, se for jogado a sério, vai esquentar seu cérebro... É incrível como suas regras são acessíveis a um público muito abrangente, pois são muito simples e de fácil explicação. Conseguir ir bem no jogo e se destacar, já são outros quinhentos...
Apesar da temática de química, transmutação e descoberta de moléculas, não temos aqui um jogo imersivo e nem tão educativo quanto pode-se supor a uma primeira impressão. Temos em mãos um jogo que no fundo é um abstrato, com roupagem divertida e curiosa. E bastante desafiador para quem gosta desta categoria de jogos.
Achei bacana que ele é um abstrato que propicia uma interação indireta bacana, já que a montagem do tabuleiro feita por você pode beneficiar ou atrapalhar seus adversários. Com o tempo os jogadores mais espertos começam a usar o “Restartium” para não largar o tabuleiro já de mão beijada para o jogador seguinte conseguir descer fácil suas cartas de maior ponto. Também aprendem a gastar uma ou duas ações extras para criar arranjos o mais diferente possível de quaisquer cartas existentes em jogo, dificultando ainda mais a vida dos coleguinhas.
Por outro lado, consegue ser um abstrato que depende um pouco de 'sorte', por causa da compra aleatória das cartas. Ter somente cartas de pontuação 1 ou de pontuação 3 é muito ruim para os jogadores. As cartas de baixa pontuação são importantes para virar combustível em busca das cartas mais valiosas.
Avalio com um ótimo jogo para apresentar para jogadores iniciantes. As regras são fáceis, o jogo simples de montar e jogar. É divertido, mas ao mesmo tempo pode ser um jogo difícil de dominar, o que o torna desafiador. Particularmente gosto disto em um jogo. Possui uma excelente rejogabilidade, que associado a sua curta duração, permite muitas vezes diversas partidas consecutivas. Porém, é um jogo que certamente dá uma boa vantagem aos jogadores que já conhecem suas cartas, padrões e sequencias da tabela. Acho muito difícil rolar aqui aquela “sorte de principiante”.
Um fato interessante é que o Química Maluca possui uma proposta temática de trazer referências engraçadas para os elementos reais da tabela periódica. Ou seja, estes novos elementos que serão descobertos ao longo da partida, são uma espécie de paródia para os elementos reais que já existem. Sendo que estas referências ocorrem nos nomes e nas artes das cartas. Algumas são bem fáceis de identificar e trazem boas risadas no meio do jogo... as vezes é engraçado ver um adversário rindo de alguma piada que somente ele está vendo, já que as cartas ficam ocultas durante a partida. No entanto, é bem visível que esta referência, muitas vezes, tem forte ligação com a cultura nerd e/ou norte americana. Infelizmente, não acredito que seja muito viável se traduzir/localizar tais referências visuais ou de jogadas linguísticas para o português. De qualquer forma, esta veia cômica é um plus, e não há obrigação de entender as piadas para se jogar uma partida.

Em suma... se você gosta de jogos rápidos, de regras fáceis, mas que tenha um nível de desafio legal, este jogo é para você. Se você gosta de jogos com veia cômica e se considera um verdadeiro representante da cultura nerd, além deste jogo ser para você, vai aproveitar ainda mais a proposta do jogo. Mas se você é professor ou profissional de química e gosta de levar este ramo da ciência a sério, fuja deste jogo, pois ele certamente vai avacalhar os elementos que considera mais queridos e respeitados da tabela periódica.