Escrita por: Rodrigo Neves.
OBSERVAÇÃO: Junto a esta resenha, disponibilizo algumas Fichas de Ajuda em português: descrição das cartas, ações primárias e ações secundárias do jogo, assim como um resumo da pontuação.
Sinopse do Jogo:
Bruxelles 1893 é um eurogame de alocação de trabalhadores com elementos de licitação e controle majoritário. Cada jogador é um arquiteto do final do século 19 que está tentando, através de várias ações, criar grande reputação no estilo Art Nouveau, na Capital da Bélgica.
O jogo foi lançado em 2013 pela Pearl Games, e ainda não possui exemplares produzidos em língua portuguesa. Para esta resenha foi usada uma cópia versão holandês/francês. Foi desenvolvido por Etienne Espreman, autor não muito famoso, mas ilustrado por Alexandre Roche, com experiência em obras clássicas como Troyes, Jaipur, Carson City e Rattus. As partidas duram de 1h à 2hs, podendo comportar de 2 à 5 jogadores. É um jogo sem dependência de idioma e muito iconográfico. Porém usa uma simbologia pesada e pouco amigável ao primeiro contato.
Objetivo:
Em Bruxelles 1893 cada jogador é um arquiteto tentando se tornar famoso no estilo Art Nouveau. O tabuleiro de ação é modular, e os jogadores não tem acesso a todas as ações sempre. Algumas ações custam dinheiro - aquisição de materiais de alta qualidade, a construção de um edifício, encontrar um patrono, criar uma obra de arte ou vender a arte por dinheiro e prestígio. Outras ações são livres, mas potencialmente podem causar a retenção de um de seus assistentes. Essas ações incluem aquisição de materiais de baixa qualidade, ativar seus patronos ou visitar a bolsa. É possível também se beneficiar do mercado negro. Após cinco rodadas, o jogo termina e os jogadores marcam pontos de bônus com base em seu nível de arquiteto, suas cartas, o quão bem eles concluíram o seu trabalho, recursos e seu dinheiro na mão. São muitas formas de pontuar neste jogo.
Mecânicas:
- Alocação de Trabalhadores,
- Licitação,
- Controle Majoritário,
- Tabuleiro Modular;
- Tabuleiros Individuais;
Componentes:
O jogo vem em uma caixa de tamanho padrão para euros, como Agricola, Stone Age ou Keyflower. A caixa possui boa qualidade, além da arte muito bacana e condizente com a proposta do jogo. É leve e fácil de transportar. Já vem com um insert bem simples de fábrica.
Nele constam 25 cartas de bônus, usadas para avançar nas diversas trilhas do tabuleiro de Bruxelles, resgatar assistentes retidos no Palácio da Justiça, gerar multiplicadores de pontos de vitória e são usadas para definir o primeiro jogador do próximo turno.
Existem 26 cartas de Figuras Públicas, que representam personagens de grande influência na capital da Bélgica da época. Estes camaradas também ajudam você a ganhar prestígio, pontos de vitória, recursos ou liberar assistentes.
Temos um deck com 12 cartas de bolsa, que será usado para restringir regiões do tabuleiro de ações básicas, de forma diferente, a cada rodada.
O jogo conta com vários tabuleiros. O tabuleiro de Art Nouveau é modular e composto por “faixas” de ações. A aleatoriedade da disposição destas faixas, junto as cartas da bolsa de ações e o esquadro, garantem que cada rodada tenha quantidades diferentes de cada ação a disposição. Com isto, cada partida, e também cada rodada, pode exigir estratégias diferentes para alocação dos trabalhadores. Uma sacada genial!
Temos também o tabuleiro de Bruxelles, onde teremos locais importantes ao jogo: a galeria de exposição e venda das obras de arte, o compasso que define o tipo de material das construções, o mercado de ações, praças e eventos para ativação das figuras públicas e as diversas trilhas de prestígio ou influência.
Vem na caixa um cursor de estúdio e as 6 peças do compasso.
Cada jogador tem um tabuleiro individual de arquiteto, 7 meeples de assistentes, 6 peças de construções e 4 discos para marcações nas trilhas do jogo. Para até 5 jogadores, são componentes nas cores vermelha, azul, verde, amarela e laranja.
Existem 30 cubos de materiais nobres: 10 de madeira, 10 de pedra e 10 de ferro. Além de 15 cubos brancos de Commodities. Esta é uma palavra em inglês que significa mercadoria, usada normalmente para descrever produtos de baixo valor agregado.
O jogo vem com 76 moedas de 1 franco belga (BF) e 12 de 5 francos belga (BF).
Por fim, temos 30 peças de obras de arte, nas cores rosa, amarela, verde, azul e preta, 5 peças de contadores de turno de exibição, um token “Manneken Pis” de jogador inicial e as cópias do manual em holândes/francês (não disponível em português).
OBSERVAÇÃO: Bruxelles 1893 é um euro que reúne muitas mecânicas, um conjunto complexo de regras e diversas exceções. Não é uma tarefa rápida explicar suas mecânicas. Se estiver com pressa, aconselho a pular as seções “Setup do Jogo” e “Síntese do Jogo”, que ficaram bem extensas, seguindo direto à “Avaliação”.
Setup do Jogo:
Para o setup do jogo, unimos aleatoriamente as faixas de ação por cima da faixa de bônus, para formar o tabuleiro de Art Nouveau. Este deve ser colocado a direita do tabuleiro de Bruxelles. O cursor é colocado no centro do estúdio e o compasso de recursos montado de forma aleatória.
Em seguida, embaralhamos os maços de cartas bônus, figuras públicas e bolsa de ações, dispondo-os nos tabuleiros, e revelando a quantidade de cartas indicadas para cada um.
Os tokens que marcam as rodadas de exibição devem ser empilhados em ordem decrescente, com a data mais baixa no topo, e pilha vai para o tabuleiro.
Separe as peças de obra de arte negra das demais coloridas. As que sobram são viradas de embaralhadas e formam uma (ou mais por causa da altura, rsrs) pilha de obras de arte. As obras de arte negras configurar outra pilha a parte.
Separe os estoques de moedas, matérias nobres e commodities.
Cada jogador recebe, para a sua cor escolhida: seu tabuleiro pessoal, 5 peões assistentes e 6 peças de construção que devem recobrir totalmente a imagem da construção, em seu tabuleiro pessoal. Além disto, recebem uma carta de figura pública de Georges Brugmman, 5 BF e uma peça de obra de arte escolhida aleatória da pilha.
Os 4 discos de contagem devem ser colocados nas posições iniciais das trilhas de: influência no seu tabuleiro de arquiteto, pontuação de vitória, influência no palácio real e influência na prefeitura.
Cada jogador coloca 2 peões de assistentes no palácio da justiça, e estes ficam fora do jogo até serem retirados de lá. Também deve ser escolhido o jogador inicial.
E com isto temos o setup pronto para o início do jogo.
Síntese do Jogo:
Bruxelles 1893 possui 5 rodadas, formadas por 4 fases cada uma: fase da bolsa, fase de ações, fase da resolução da rodada e o final da rodada (que funciona com uma limpeza e reconfiguração dos tabuleiros). A única exceção é na quinta e última rodada, quando contamos a pontuação final ao invés de reconfigurar os tabuleiros.
1ª FASE: Fase da Bolsa. Serve para determinar a área do tabuleiro de Art Nouveau que está disponível para uso durante cada rodada. O jogador inicial revela a carta do topo do topo do mercado de ações. Ele deve buscar a linha adequada para o total de jogadores naquela partida.
Em seguida, deve escolher um entre os dois pares disponíveis para demarcação das ações. O tabuleiro de Art Nouveau possui na sua lateral e base, coordenadas de 1 a 4. No encontro destas coordenadas, temos 16 escudos, que separam as 25 ações disponíveis no tabuleiro.
Sobre o escudo identificado na interseção do par escolhido pelo jogador inicial, deve ser colocado o esquadro de suporte. Suas laterais irão demarcar a área disponível para aquele turno.
2ª FASE: Fase de Ações. Serve para executar as ações disponíveis para os jogadores. Existem ações disponíveis no tabuleiro de Bruxelles e no tabuleiro de Art Nouveau.
Para executar uma ação no tabuleiro de Art Nouveau, o jogador da vez deve colocar um dos seus assistentes sobre uma ação livre disponível, junto com um valor de dinheiro. O valor mínimo aceito é 1BF. Dois jogadores não podem ativar o mesmo espaço e somente os espaços delimitados pelo esquadro estão disponíveis.
Para uma descrição detalhada das ações disponíveis no jogo, por favor consulte as fichas de referência disponibilizadas para download na página do jogo. Entre as ações do tabuleiro de Art Nouveau temos:
Criar uma obra de arte – onde o jogador pega uma peça do topo da pilha de artes e coloca junto ao seu tabuleiro pessoal, virada para cima. Cada obra extra que você já possua em exposição, permitirá que pegue mais obras, para poder escolher entre elas qual que vocês irá ficar.
Vender e expor uma obra de arte – O jogador anda com o cursor de estúdio este mesmo número de vezes. Em seguida, ele escolhe uma peça para vender, obrigatoriamente de uma cor diferente daquelas que estão em exposição no momento. Coloque-a em um dos dois espaços possíveis do armazém. Caso existam duas obras em exposição, escolha uma delas e a cubra.
Imediatamente o jogador recebe o total de pontos de vitória e dinheiro indicados pela cor da obra vendida, no cursor de estúdio.
Visitar o Teatro Real – O jogador busca o apoio de uma figura pública durante uma apresentação teatral, a fim de contar com seus serviços. Escolha uma carta disponível no tabuleiro de Bruxelles e pague o seu custo. Execute imediatamente o seu poder.
Em seguida, descarte a carta da figura pública ou coloque-a a seu serviço na sua área de jogador, virando-a 90º para indicar que já foi ativada naquele turno.
Importante: Não é possível possuir duas figuras públicas idênticas na sua área de jogador.
Recolher Materiais Nobres – O jogador recolhe dois cubos de matérias nobres a sua escolha: metal, madeira ou pedra e os coloca em sua reserva pessoal. Eles podem ser de tipos iguais ou diferentes. Não se pode escolher um cubo branco de commodities durante esta ação.
Construção – O jogador poderá construir uma peça de edifício do seu tabuleiro pessoal, sobre alguma ação do tabuleiro de Art Nouveau. A construção permite ganhar muitos pontos ao final do jogo, pois este edifício representa sua obra-prima. Deve pagar a quantidade de recursos indicados no nível do edifício, e usar o compasso para definir os tipos de materiais necessários.
Importante: Após construir uma peça de edifício, se outro jogador ativar a ação correspondente, você imediatamente terá direito a uma ação secundária, como produzir uma obra negra, ganhar PV, materiais ou ativações de suas figuras públicas. Consulte as fichas de referência para mais detalhes.
Para executar uma ação no tabuleiro de Bruxelles, os jogadores não precisarão usar seu dinheiro. São ações livres. Entre as ações disponíveis temos: recolher material de baixa qualidade, ganhar dinheiro, ativar cartas ou usar ações extras.
Nenhum jogador poderá usar mais de uma vez a mesma ação. Só que aqui, todos os jogadores podem acionar uma mesma ação, obedecendo o critério: 1 meeple para o primeiro que ativar na rodada, 2 para o segundo, 3 para o terceiro, assim sucessivamente. OBS: Existe uma variação para 4 ou 5 jogadores aqui. Consulte o manual.
Quando um jogador não quiser ou puder jogar, ele passa a vez. O primeiro jogador a passar leva o token contador de turno e 1 BF para cada obra em seu poder (incluindo o contador). Os demais a passar, levam apenas o dinheiro de suas obras.
3ª FASE: Fase da Resolução do Turno. Uma sequência de 5 passos para colher os resultados parciais das ações do turno.
1- Maiores ofertas de licitação no tabuleiro de Art Nouveau: Em cada coluna com ações ativadas, deve-se conferir qual o jogador teve a maior oferta total de BF (dinheiro). Este irá levar a carta de bônus da coluna. Em caso de empate, os ganhadores executam ambos o bônus e a carta é descartada.
2 – Designação do novo jogador inicial: Existem imagens de “Manneken Pis” no verso do token contador de turnos e no topo das cartas bônus. O jogador com a maior quantidade deles, nesta rodada, se torna o novo jogador inicial.
3 – Uso das cartas de bônus: os jogadores que ganharam uma ou mais cartas de bônus nesta rodada, podem usar seus poderes agora e descartá-las. Ou colocar a carta por baixo do seu tabuleiro pessoal, para ativar um multiplicador de pontuação para o final do jogo.
Estes multiplicadores irão pontuar sobre itens que geralmente não valem pontos, como: dinheiro acumulado, obras em exposição, total de figuras públicas ou total de peões livres do Palácio da Justiça. Uma ideia fantástica, que permite ao jogador escolher onde vale mais pontuar, de forma secundária.
4 – Maioria no cerco dos escudos do tabuleiro de Art Nouveau: Todos os escudos deste tabuleiro, que no final da rodada estiverem completamente cercados, ou seja, pelos 4 pontos, valerão pontos de vitória para o jogador dominante. Ele recebe uma quantidade de pontos igual a sua influência na prefeitura. Em caso de empate todos pontuam.
5 – Maioria no tabuleiro de Bruxelles: O jogador que colocar mais meeples no tabuleiro de Bruxelles, deve remover um deles para o Palácio da Justiça. Ele ficará fora de jogo até ser retirado de lá.
4ª FASE: Final do Turno. Uma fase de limpeza e remontagem dos tabuleiros: cada jogador recolhe seus meeples fora do Palácio da Justiça, o dinheiro usado nas licitações vai para o banco, as cartas de figuras públicas dos jogadores retornam à posição vertical, as cartas de bônus são trocadas por novas, descarta a carta atual de bolsa e andamos com a fila de figuras públicas, descartando a de valor zero e arrastando a fila.
O jogo termina com a 5ª rodada. Para entender sobre a pontuação, sugiro mais uma vez a leitura das fichas de referência disponibilizadas.
Avaliação:
Bruxelles 1893 lança mão de diversas mecânicas conhecidas, combinadas de maneira elegante e de forma não convencional, porém bem harmoniosa. Os seus componentes são de ótima qualidade e a arte do jogo é muito bonita. É um euro médio-alto excelente, e vale bastante como experiência para os jogadores.
É um jogo, na minha opinião, extremamente temático... todas as ações têm um motivo claro e tem sentido para o contexto do jogo. A “salada de mecânicas” o torna um jogo único, diferente... Porém é importante conhecer o jogo, porque algumas ações tem grande peso para a vitória, e outras desempenham um papel secundário... coadjuvante.
Alguns jogadores mais experientes apontam que o Bruxelles 1893 possui uma estratégia dominante, o que indicaria um jogo com potencial a ser “quebrado” a longo prazo, para um mesmo grupo. Por ser um jogo raro no Brasil, e caro, não é recomendado que vários jogadores tenham cópias deste jogo em um mesmo grupo.
Bruxelles nos dá muita liberdade para adaptarmos a nossa estratégia, e permite escolhermos sobre o que pontuar no final do jogo. Mais ao mesmo tempo a bolsa de ações algumas vezes restringe miseravelmente as ações do tabuleiro de Art Nouveau para uma rodada. Contando que o jogo possui ainda muitas formas de bloquear os adversários, vira um cobertor curto danado... e pode ser tornar bastante punitivo.
Não recomendo este jogo para iniciantes no hobby, pois a quantidade de regras, mecânicas e exceções pode ser muito frustrante para um jogador não habituado a grande carga de informações em curto espaço de tempo ou com pouca capacidade de concentração. Mesmo com o pessoal mais calejado, ele deve ser jogado algumas vezes antes, para cada um criar suas estratégias e se acostumar com as dinâmicas entre as mecânicas.
Para quem curte euros com grandes misturas de mecânicas, mas não faz tanta questão da temática, uma boa recomendação são os jogos do designer Stefan Feld, especialmente o Trajan, ápice das saladas. Agora, se curte um euro mais complexo, mas acha que a temática é essencial, indico o Archipelago.