Escrita por: Rodrigo Neves.
Convidado para Entrevista: Humberto Cotta – Autor do Creepers, próximo lançamento da Ace Studios.
Sinopse do Jogo:
Creepers se passa em um Labirinto vivo, construído por um terrível Lich Necromante que acaba de ser destruído pelos heróis do reino. O que eles não sabem é que o Necromante pode ser trazido de volta a "vida” se seus servos reunirem as relíquias que estão escondidas pela masmorra. Quem o trouxer de volta será o novo braço direito do tirano e peça chave em sua vingança.
Os jogadores assumem o papel de um dos servos do Necromante: um Mímico, uma Fantasma, um Metamorfo ou um Cubo Gelatinoso e devem recuperar 3 relíquias antes dos outros servos. O problema é que a masmorra está sendo saqueada por criaturas e heróis, além de abrigar armadilhas e Dragões que não estão interessados em ajudar.
Os Creepers são representados por dados e devem utilizar suas habilidades para se camuflar nos 6 temas de sala do labirinto. Cada face do dado mostra o personagem usando algum truque para se esconder. Além disso cada personagem tem poderes especiais que modificam drasticamente a jogabilidade. Creepers está planejado para ser o próximo lançamento da Ace Studios, produtora do Space Cantina, Medievalia, Encantados, Sapotagem e Warzoo, e de autoria do designer nacional Humberto Cotta. O jogo dura de 20 a 40 minutos e suporta de 2 a 5 jogadores. O jogo foi vencedor do prêmio Ludopolis em Portugal em 2015, sob o título de “Chameleon Eggs” e foi transformado no Creepers para agregar um visual mais divertido e poderes especiais.
Imagens do protótipo: Chameleon Eggs, vencedor do Prêmio Ludopolis em Portugal.
Síntese do Jogo:
O objetivo dos Creepers é encontrar as relíquias para trazer seu mestre de volta à vida. Para isso o Jogador deve encontrar um tile de relíquia no tabuleiro e executar a ação de “Recuperar Relíquia”. O Jogo termina assim que um jogador recuperar sua terceira relíquia.
A preparação do jogo é bem simples: coloque o tile inicial no centro da mesa e ao lado dele o tile de quatro caminhos, formando a entrada da Dungeon. A Dungeon crescera durante o jogo e seu limite será sempre o tamanho da mesa, um novo tile não pode ser anexado a Dungeon se não tiver espaço para ele na mesa. Cada Jogador escolhe seu Creeper pegando a carta de personagem que descrevem seu poder, seus marcadores e posicionando seu dado no tile inicial. Todos os Creepers começam na cor cinza. Cada jogador recebe 3 tiles, constituindo sua mão inicial de jogo. Coloque os tiles restantes ao alcance de todos os jogadores, essa é a Pilha de Exploração. Reserve um espaço ao lado dele para o descarte. Quando a pilha terminar, embaralhe o descarte e monte uma nova Pilha de Exploração. Tudo pronto! Agora estamos prontos para tentar trazer o Necromante de volta a Vida!
Todo turno é divido em cinco fases, e são elas: exploração, movimento, ações extras, descanso e movimento dos heróis. Ao fim do turno a vez é passada para o próximo jogador em sentido horário. Vejamos um resumo de cada fase para termos aquela noção geral de uma partida:
- Exploração: Nessa fase o jogador deve anexar um tile da sua mão ao tabuleiro, mantendo as conexões da dungeon, obviamente. Além disso, imediatamente um outro tile da Pilha de Exploração deve ser anexado ao tile que colocado. A única exceção é caso não haja espaço para isto.
- Movimento: Após explorar, o Creeper pode se mover um tile adjacente em qualquer direção, desde haja um caminho. Sempre, ao entrar em um novo tile, o Creeper precisa resolver se usa camuflagem ou não, e em seguida resolve o efeito especial do tile novo, caso exista. Uma sacada muito interessante aqui é a seguinte... caso haja um caminho aberto, mas não haja um tile adjacente o Creeper pode corajosamente seguir por ali realizando um Salto de Fé. Basta sacar um tile da pilha, anexar ao caminho e dar o salto para lá. Isso pode ser extremamente perigoso e divertido para quem está observando.
- Ações Extras: Existem diversas ações que um Creeper pode tomar no seu turno, como realizar um movimento extra, camuflar, resgatar relíquias ou usar um poder. Para um movimento extra, basta descartar um tile de sua mão e andar para um tile adjacente, podendo fazer isto quantas vezes desejar, bastando apenas ter tiles disponíveis na mão. Para usar a camuflagem o Creeper deve descartar um tile da cor em que deseja se camuflar, virando o seu dado para a cor escolhida. Um Creeper é considerado camuflado se a cor que estiver para cima no seu dado for a mesma cor do tile em que está. Esta camuflagem é vital para se proteger de heróis, dragões e demais perigos da dungeon e pode ser feita até mesmo em um salto de fé. Se um Creeper estiver sozinho em um tile de relíquia ele poderá resgatá-la descartando 3 tiles de sua mão. Todo Creeper tem um poder especial que pode ser usado uma vez por turno, capaz de modificar a dungeon, influenciar heróis e até outros Creepers.
- Descanso: Quando não quiser ou não puder tomar mais ações, o jogador declara o fim de seu turno e confere o número de tiles na sua mão. Se tiver menos que 3 ele deve completar a mão.
- Movimento dos Heróis: Caso haja algum herói em jogo o jogador pode mover o Herói de 0-2 casas, respeitando os caminhos. Caso um herói entre num tile contendo um Creeper não camuflado, ele o executa imediatamente. Caso haja mais de um herói em jogo o jogador pode escolher mover qualquer um deles de 0 a 2 tiles em qualquer direção ou mover dois deles um tile em qualquer direção.
Todo tile possui caminhos e uma cor. Os caminhos mostram onde novos tiles podem ser anexados e por onde os Creepers podem passar. Por sua vez, a cor determina em qual face do dado o Creeper deve estar para ser considerado camuflado. Além disso, existem tiles com salas especiais bem legais:
- Saqueadores - Sempre que um Creeper entrar num tile de saqueador ele compra dois tiles. Caso o Creeper esteja camuflado, ele compra 4. Um tile de saqueador só pode ser usado uma vez por turno.
- Encruzilhadas - Quando uma encruzilhada entra em jogo, anexe um tile a cada um de seus caminhos caso seja possível.
- Covil do Dragão - Quando o Covil do Dragão entra na dungeon considere ele e todos os tiles ortogonalmente adjacentes estão ameaçados. Quando um Creeper entra num tile ameaçado ele é destruído se não se camuflar.
- Acampamento dos Heróis - Quando esse tile entre em jogo coloque sobre ele o marcador do herói. Caso o herói entre em um tile contendo um Creeper não-camuflado o Creeper morre e o herói sai satisfeito da Dungeon, remova seu marcador do jogo. Caso ele fique adjacente a um tile de Covil do Dragão remova o herói da dungeon e vire o tile do covil, ambos se destroem.
- Desmoronamento - Quando um Creeper entra num tile de desmoronamento ele saca 2 tiles. Se a qualquer momento, dois tiles de desmoronamento ficarem ortogonalmente adjacentes a estrutura não aguenta e colapsa. Remova os dois tiles e todos os outros tiles adjacentes a eles. Se algum Creeper ou herói estiver num desses tiles removidos eles morrem.
- Sala de Relíquia - No Centro dessa sala há uma relíquia necessária para trazer de volta o Necromante. Para recuperá-la o Creeper deve descartar 3 tiles de sua mão. O primeiro Creeper a recuperar 3 relíquias é o vencedor e será o novo general do Necromante.
- Portal - Ao entrar em um tile de portal o Creeper tem a opção de se deslocar para qualquer outro tile de portal na dungeon, sem custo.
Cada Creeper tem uma carta de poder e dois tokens de habilidade especial. As cartas de poder descrevem seu poder e o efeito da habilidade de seus tokens. Os tokens ficam nos tiles de relíquia que foram recuperadas.
- Mimico: Poder (Agressividade): pode expulsar um Creeper que esteja em seu tile para qualquer tile adjacente, inclusive o obrigado a fazer um salto de fé. O mimico não pode expulsar um Creeper para um tile ocupado por outro jogador. Habilidade (Caixa de joias): Ele se reproduz e deixa uma pequena caixa de joias que ataca qualquer outro Creeper que entrar ali não camuflado.
- Fantasma: Poder (Etérea): pode se mover para um tile adjacente ignorando caminhos ou realizar saltos de fé da mesma forma. Habilidade (Assombrar): Caso seja destruída, pode voltar em um dos tiles com um dos seus tokens ou no tile inicial, a sua escolha.
- Cubo Gelatinoso: Poder (Deslizar): Se estiver camuflado, gasta apenas 1 movimento para se mover por uma sequência de tiles da mesma cor. Habilidade (Explosão Gelatinosa): Todo Creeper que entrar no tile do token torna-se cinza automaticamente.
- Doppleganger: Poder (Sorte): Ao realizar um salto de fé, o jogador saca dois tiles e escolhe um deles. Habilidade (Ritual de Invocação): Remova o token da dungeon e troque o Doppleganger de lugar com qualquer herói em jogo.
Impressões Gerais:
Primeiramente, é importante frisar que eu não joguei uma cópia do jogo, nem na versão protótipo. Este apanhado de regras foi feita a partir dos documentos e artes que ainda estão em desenvolvimento para o jogo, gentilmente cedido pelo autor e pela produtora. Portanto não é possível emitir uma avaliação, apenas algumas impressões por alto. Importante: A ideia deste material é apresentar, em primeira mão, as regras resumidas de um novo jogo saindo do forno, e compartilhar as impressões que tive sobre ele. Em nenhum momento a pretensão será avaliar ou recomendá-lo. Entenda como um "furo jornalístico" do Canal, ou seja, ter a oportunidade de ser um dos primeiros a compartilhar informações sobre o jogo com a comunidade e seus leitores.
Creepers parece ser um jogo rápido e despretensioso para se colocar na mesa. Basicamente se dá pela administração de tiles de dungeon e pela movimentação no labirinto formado. Serão ao total 74 peças de dungeon, o que é mais do que suficiente para elevar matematicamente o número de possíveis labirintos formados. Não será por conta da construção do labirinto que o Creepers sofrerá por falta de rejogabilidade. Nem por conta da assimetria, já que os personagens têm diferentes poderes e habilidades, e que apesar de serem simples, claramente influenciam na estratégia de cada jogador. Aliás, as habilidades e poderes dos personagens ficaram bem coerentes em termos de temática.
A arte parcial do jogo e a mecânica de representar os jogadores por dados com faces de diferentes cores, ao meu ver, casam muito bem. Traz uma imersão bacana para o principal foco da temática.... a camuflagem. É mais um jogo que utiliza os dados de forma diferenciada, como peão para marcação da cor, e não para criar aleatoriedade. Em momento nenhum os dados rolam. Então pelo que parece, à randomização vai toda por conta dos tiles de dungeon mesmo.
Poucos dados, poucas cartas e poucos marcadores, o jogo realmente prioriza a gestão dos tiles, que são em maior quantidade. O autor sinaliza na descrição que este é um jogo de “labirinto vivo”, e sinceramente, pelas habilidades dos personagens e poderes especiais de alguns tiles como desmoronamento, heróis e dragões, creio que a dungeon realmente mude durante a partida, obrigando os jogadores a mudarem sua tática e reajustar seus caminhos.
A questão do tamanho da mesa, ser o limitador da dungeon, parece ser uma sacada boa, mas ao mesmo tempo, é um ponto que preocupa em relação a jogabilidade. Da mesma forma que um grupo experiente pode usar isto para forçar partidas mais acirradas ou aumentar a necessidade do “take that” (obrigando o labirinto a se renovar para conseguir explorar mais relíquias), uma mesa de jogadores mais inexperientes pode inviabilizar uma partida com uma mesa pequena demais ou transformar o jogo em um multiplayer solitário, cada uma indo para uma ponta diferente com uma mesa enorme. Acho que caberia um estudo mais técnico durante os playtestes, por parte da produtora, para considerar diferentes metragens de mesa e avaliar o impacto disto nas partidas. Talvez deixando algumas sugestões no manual do tamanho de mesa indicado de acordo com a experiência desejada pelo grupo.
Em resumo, na minha opinião, o jogo tem características de ser divertido. Então entra para minha lista de curiosidades para conhecer. Mas daí a ser um bom jogo ou ser recomendado, só testando primeiro. Pelas regras a impressão geral é positiva. Boa sorte ao criador do jogo e a Ace Studios... fico no aguardo de novidades e na promessa de um jogo bacana.
Explique um pouco sobre a sua experiência como designer de jogo de tabuleiro? "Sou de volta Redonda, interior do Rio, e lá, na década de 90, não era fácil conseguir nada nerd. Tive contato com os livros-jogo que sempre falavam de RPG mas era impossível achar. Com o tempo meu grupo passou a criar as regras e as aventuras, desenhar mapas e inventar monstros. Meu lado game designer ficou hibernando até redescobrir os jogos modernos. Com o contato com o Rômulo Marques (Die Die Die e Gekido) fundamos o Mansão das Peças, um grupo de gamedesigners que ser reúnem semanalmente aqui em casa para aprimorar seus projetos. Daqui saíram Space Cantina, Palmares, Ziriguidum? Warzoo e muitos mais virão."
Quais são as características do Creppers que mais lhe dão orgulho? O que ele tem de inovador e diferencial? "Você acaba ficando enamorado pelo seu jogo nessa reta final da produção. Uma das características mais interessantes na minha opinião são os tiles e os dados (que representam os jogadores) não possuírem qualquer iconografia ou texto, o que permite que o jogo fique muito imersivo e bonito na mesa. Usar o dado como facetas de um mesmo personagem camuflado em diferentes salas também foi uma solução legal. Não existem muitos jogos de exploração ou stealth, e o Creepers é o mais inclusivo que conheço. A editora quis mudar o tema de camaleões em uma floresta para fantasia e eu vim com a ideia dos personagens serem monstros e não heróis que precisam se esconder dos guerreiros e dragões que saqueiam e habitam a dungeon."
O que esperar do Creepers em termos de experiência de jogo? E ainda, quem será o público alvo? "O Creepers tem elementos simples que se conjugam para gerar uma experiência completa. No fim de toda rodada o jogador escolhe se corre riscos explorando sem se camuflar ou se gasta mais recursos para estar seguro. Sempre que o jogador configura uma sequência favorável de tiles ele acaba disponibilizando aquela vantagem para os outros jogadores, então o jogo está sempre te propondo escolhas difíceis. Cada monstro favorece um estilo de jogo e fortalece o uso de uma das mecânicas disponíveis. As partidas são rápidas (de 25 a 40 min) e é praticamente impossível duas partidas serem idênticas. O público alvo é bem amplo, pois o jogo não te força a tomar nenhum caminho. Se você quiser ser mais agressivo com os oponentes, o Mímico pode expulsa-los de um tile, enquanto a Fantasma pode passar pelas paredes e se isolar. Independente do caminho, o jogador sempre pode tentar a sorte explorando uma área obscura da Dungeon."
Conte-nos por gentileza sobre o prêmio Ludopolis que o seu jogo conquistou e como foi a experiência. "O Chris Boelinger (Dungeon twister, Arquipelago) nos aconselhou a começar a carreira mandando os jogos para concursos e nós da mansão, num período onde as editoras nacionais estavam ainda se estruturando, resolvemos ir por esse caminho. Designers de 14 nacionalidades participaram do concurso e eu não estava lá muito confiante. Quando recebi a mensagem foi um dos melhores momentos da minha vida, dei grito e tudo, haha. Fiz contatos incríveis, que acabaram me ajudando profissionalmente, uma empresa de marketing digital e um curso de gestão me procuraram para gameficar as aulas dos seus cursos. Eu sempre quis trabalhar com educação e essa oportunidade foi muito valiosa para mim. O problema é que vicia, estou desenvolvendo outros 2 jogos para mandar a outros concursos e recomendo para todo mundo, além de divertido, te coloca em contato com editoras e coloca uma pressão interessante para sua produtividade."
Publicada em simultâneo com outra review de lançamento da Ace Studios, do jogo Medievalia. Não deixe de conferir lá também.
