Escrita por: Rodrigo Neves.

Introdução:
Conan é personagem da literatura fantástica, criado pelo escritor texano Robert E. Howard em 1932, e fez sua primeira aparição na revista pulp Weird Tales, no conto chamado "The Phoenix on the Sword". Ao todo, Howard escreveu cerca de vinte histórias e um romance protagonizados pelo personagem, até 1936, ano em que o autor se suicidou.
Nascido em um campo de batalha e filho de um ferreiro, aos quinze anos, deixa sua tribo e vaga pelo mundo, sendo escravizado pelos hiperbóreos. Escapando, tornou-se saqueador, mercenário e pirata, sendo uma de suas fases mais marcantes. Durante a vida enfrentou guerreiros, feiticeiros, monstros, vampiros, demônios, lobisomens e até mesmo criaturas dimensionais. Após inúmeras aventuras, aos 40 anos, Conan estrangula o tirano Numedides, se tornando rei da Aquilônia. Depois de trinta anos no poder, Conan deixa o reino para seu filho mais velho e parte para o enigmático Oeste, onde teria rumado com velhos companheiros de pirataria, a um obscuro continente, sendo a última informação de suas crônicas.
A história de Cimério caiu no gosto popular e teve diversas adaptações até os dias de hoje, seja como quadrinhos, desenhos, filmes, crônicas ou romances. Conan ainda hoje é um dos bárbaros mais famosos na cultura geek.
Sinopse do Jogo:
O boardgame Conan foi projetado por Fred Henry, com base no universo original de Conan, escrito por Robert E. Howard. É um jogo de tabuleiro de miniaturas assimétricas semi-cooperativo baseada em cenários. Um jogador é o adversário (famoso Overlord), jogando com as forças da oposição e os outros jogadores jogam com Conan e seus companheiros: Shevatas o ladrão, Hadrathus o Feiticeiro, Bêlit, a rainha pirata e Valeria, a guerreira.
O jogo entregue em novembro de 2016, foi lançado via financiamento coletivo, pelo Kickstarter no início de 2015, alcançando a bagatela de 16.038 apoiadores e atingindo uma arrecadação total de $3.327.757. Sendo um jogo de 2 a 5 jogadores, dura de 1 a 2 hs cada cenário e possui baixa dependência de idiomas, apenas nas cartas de feitiços e fichas de habilidades.
Mecânicas:
- Cooperativo,
- Eliminação de Jogadores,
- Jogadores com Diferentes Habilidades,
- Movimento de Área,
- Ordem de Fases Variável,
- Rolagem de Dados.
Componentes:
Nesta resenha apresentarei o conteúdo da caixa base, sem extras e add-ons do financiamento coletivo. O jogo conta com 4 personagens jogáveis, seus tabuleiros e miniaturas. Existem dois livros de regras: O “Livro dos Hérois” tem a maioria das regras de jogabilidade e o “Livro do Overlord” explica como o opositor dos heróis deve jogar e tem a descrição de todas as campanhas. O dono do jogo acaba ficando como Overlord, e as tarefas de setup e explicação das regras. A qualidade e clareza dos manuais foram duramente criticadas nos fóruns internacionais e grupos do jogo.
Existem tabelas descrevendo as habilidades de movimentação, ataque, defesa e outras diversas, servindo para heróis e inimigos. É possível baixá-las da Ludopédia traduzidas já.
As miniaturas do jogo são fantásticas, com ótima qualidade de material e bom nível de detalhes. O jogo também disponibiliza um conjunto de bases de diversas cores, para diferencias grupos de inimigos que serão ativados pelo overlord de cada vez.
São diversas cartas de equipamentos e itens para os cenários. Uma quantidade boa de gemas azuis para os heróis e vermelhas para o Overlord. O conjunto com 9 dados que dão para o gasto, mas sinceramente, alguns extras são bem-vindos. Existem 3 tipos de dados: amarelo (menos poderoso), laranja e vermelho (mais poderoso). Os personagens não usam os mesmos tipos de dados dependendo da ação. Conan usa os vermelhos para atacar, mas amarelos para destrancar portas, o oposto de Shevatas, por exemplo.
O jogo vem com dois tabuleiros dupla-face, grandes e de boa espessura. Ao todo são 4 mapas no jogo base: vila de pictos, templo subterrâneo, taverna, navio pirata, e os mapas podem ter vários cenários definidos neles.
Síntese do Jogo:
Cada partida é um cenário, jogado em um mapa. O jogo é relativamente rápido. Se desconsiderarmos setup e explicação de regras, leva uma hora. Existe uma dezena de cenários reproduzíveis na caixa base.
No início, os jogadores distribuem sua equipe, Conan e outros heróis, recebendo o tabuleiro, gemas e equipamentos iniciais. O adversário reúne todas as miniaturas, tokens e cartas para o cenário escolhido. A lista das peças e como elas serão distribuídas no mapa, se encontram no Overlord’s Book. Cenários possuem rodadas limitadas e podem ter objetivos diferentes: encontrar a princesa capturada por pictos e resgatá-la, encontrar a chave mágica para abrir uma porta selada, roubar um item e fugir, matar o Necromante, sobreviver até o final do último turno, escapar da prisão... e por aí vai.
Tabuleiro dos Heróis:
1. Zona de Reserva: contém todas as gemas disponíveis do herói, uma espécie de pontos de ação; representam basicamente o poder do herói de ação.
2. Zona Fadiga: contém as gemas de ação já utilizadas do herói, e que não poderão ser usadas antes de serem recuperadas para a zona de reserva.
3. Zona de Dano: contém as gemas que o herói perdeu ao sofrer danos. Cada vez que um herói leva um dano, ele move uma gema para a zona da ferida. Não é fácil causar uma ferida a um herói ou aos inimigos mais poderosos do cenário. Mas por outro lado, é ainda mais difícil curar as feridas neste jogo. São poucos itens de cura como poções, e possuem baixa efetividade, curando apenas 2 gemas, por exemplo.
4. Ações do Herói:
- A. ATAQUE CORPO A CORPO. Escolhe um inimigo em sua área e atribui uma ou mais gemas para a zona de ataque corpo a corpo. A potência do ataque será 1 dado para cada gema usada + equipamento + armas.
- B. ATAQUE À DISTÂNCIA. Igual ao ataque corpo a corpo. Este ataque pode chegar a qualquer zona, onde uma linha de visão entre dois centros pode ser tirada sem cruzar um obstáculo (parede, porta, mastro, arbusto ...)
- C. GUARDA. Ação opcional - o jogador opta por defender ativamente contra um ataque. Ele pode decidir apenas uma vez, usar uma série de gemas que vai atribuir uma chance de protegê-lo. A guarda pode ser usada contra qualquer tipo de ataque. Ações de guarda e rerrolagem são importantes para minimizar ou evitar as feridas. Mas para isto, é importante sobrar gemas na reserva após passar a vez, já que a guarda é feita durante o turno do Overlord. Nota: ARMADURA. Bônus passivo de defesa, disponível mesmo se o herói não optar em defender ativamente um ataque. É um bônus de armadura adicionado apenas após a etapa de GUARDA, se for o caso. Ajuda. mas são bônus mais fracos.
- D. MOVIMENTO. Um herói tem um valor base de livre circulação (dígito branco) que é livre para usar quando se deslocam pela primeira vez durante o seu turno. Se ele interrompe sua livre circulação por outra ação (ataque, manipulação, etc.), todos os pontos não utilizados são perdidos. Movimento adicional: 1 gema = 1 movimento extra. Existem também habilidades que permitem que alguns heróis e inimigos nadem, pulem, escalem ou até derrubem paredes.
- E. MANIPULAÇÃO. São ações de interação com o cenário ou demais jogadores e podem ser do tipo: Livre - largar, usar ou equipar um item, recolher um item de um baú quando abri-lo. Simples - pegar ou dar um item = 1 gema. Complexa - arremessar um item, abrir um baú, ou qualquer ação de manipulação definida pelo cenário: o custo é definido pelo livro de regras.
- F. RERROLAR. Permitir que o herói para jogar novamente algum dado usado para qualquer ação. Cada gema dá direito a uma apenas rerrolagem de um dado.


5. Zona de Postura: Agressivo / Cauteloso ou na versão original do francês: Ativo / Inativo. Esta questão da tradução alterar de forma significativa os termos foi bastante discutida nos fóruns do BGG.
6. Carga: Dependendo da quantia de cada item transportados (~ peso), algumas habilidades podem ser desativadas, e o número de pontos livres de movimentos fica reduzido. O total de peso que um herói carrega não pode exceder o seu limite de máximo.
Turno dos Heróis:
Iniciar: Cada herói move todas suas gemas de energia de seus espaços de ação para a sua zona de fadiga.
Apoio: Cada herói escolhe ficar agressivo (ativo) ou cauteloso (inativo, descansando) durante esta próxima rodada. Em seguida, leva da sua zona de fadiga à sua zona de reserva, oas gemas recuperadas. Lembre-se que heróis cautelosos poderão executar apenas as ações da guarda e rerrolar dados ao tomar esta decisão. Os jogadores começam com boa quantia de pontos de ação... mas a recuperação delas é lenta e esta gestão é um dos pontos cruciais do jogo.
Ações: Os heróis realizam as ações que quiserem, na ordem que desejarem, desde que eles possam pagar as gemas necessárias de sua reserva. Um sistema bastante curioso, que permite aos jogadores decidirem em conjunto como eles gastarão seus pontos e em que ordem. É uma sacada inteligente, trazendo ao jogo uma atmosfera ainda mais cooperativa, já que todos participam de forma quase simultânea. Porém, se o grupo não for integrado ou rolar aquele famoso jogador alfa... uma partida de Conan pode se tornar desastrosa.
Final: Cada herói move todas as suas gemas a partir de seus espaços de ação para a sua zona de fadiga. Opa! Calma aí... mas a fase dos heróis não começa justamente da mesma forma? Sim, é porque os jogadores muitas vezes usam suas gemas de ação durante o turno do Overlord, para se defender e rerrolar dados.
Turno do Overlord (OL):
Início da fase: O OL recupera para a sua zona de reserva, o valor definido pelo cenário de gemas de ação. Em seguida, o OL move o marcador de turno. Importante para a vitória, já que os cenários têm um número máximo de rodadas.
Fase de Ação: O OL pode ativar de 0 a 2 tiles na trilha da sua bandeja, chamada de RIO. Um por um, pagando o seu custo em gemas, como indicado sobre eles. Quando um tile de unidade é ativado, o OL remove-o e leva-o ao final do Rio. Ativa assim todas as unidades controladas pela peça. A ação das unidades é seu movimento livre e realizar um ataque por miniatura.
Ações Adicionais: O OL pode pagar gemas para ativar ação extras, como movimento adicional, guarda, rerrolagem e ativar custos de habilidades não passivas.
Gerenciamento de Unidades Mortas: Quando todas as unidades de um tile estão mortas, invertemos a peça para baixo (lado morto), deixando-a na posição atual. Ela continua a deslizar pelo Rio normalmente. Tiles de mortos podem ser ativados pelo seu custo, a fim de movê-los, para diminuir os custos das unidades vivas. Elas começam a se tornar um entrave para os custos.
Dragagem do Rio: Durante sua vez, o OL pode retirar do Rio um ou vários tiles de unidades, excluindo definitivamente 2 gemas por cada peça. Isto não é considerado como uma ação.
Reforço: O OL pode colocar de volta no jogo unidades ao ativar o evento de reforço, representado pelo tile de corvo. O cenário define o limite de reforços. Geralmente os personagens fortes não podem mais voltar ao jogo se forem mortos, pois são considerados únicos.
Demais Mecânicas Relevantes:
Penalizações: Ambos os lados. Afeta movimentos e quaisquer ações complexas que exige jogada de dados. Sempre que inimigos compartilham a mesma zona, rola uma penalização dada pelo (nº de inimigos – nº de aliados + 1) para os custos destas ações. Por exemplo, se o Conan entrar em uma região com 2 inimigos, ele precisará gastar 3 pontos de ação, ao invés de 1, se desejar mover-se para fora de lá.
Magias: A fim de lançar um feitiço, coloque as gemas necessárias sobre a carta de magia (custo em branco). Importante mencionar que as cartas de magia têm textos em inglês, as vezes um confusos e de difícil interpretação, sendo a única dependência de idioma do jogo. Como as magias são definidas pelo cenário e conhecida de todos, então uma única pessoa com inglês já resolve.
Avaliação:
Conan é um semi-cooperativo bem produzido e com bela arte. São toneladas de miniaturas, tiles e cartas. A jogabilidade dele impressiona: mecânicas de combate, o uso de pontos de ação e a existência de muitas habilidades, tudo de forma bem intuitiva e criativa.
É um jogo fortemente temático e com uma boa dose de imersão. Cada personagem tem equipamentos e habilidades únicos. Por exemplo, Conan pode arrebentar paredes de madeira e quando inflige muito dano pode transferir para outro alvo, caso o primeiro tenha morrido, chamado de golpe giratório. É possível se ter problemas de sobrecarga com equipamentos pesados que te deixam mais lento ou proíbem a execução de certas ações (nadar com 4 espadas e 2 armaduras, nem pensar). Durante nossa aventura é possível achar novos equipamentos nos vários baús, caso consigamos abri-los. Ficou um trabalho legal neste sentido.
Gostei de como os personagens foram apresentados em tabuleiros e como suas ações podem ser rapidamente escolhidas. É um processo dinâmico. É tenso para os jogadores sentirem na pele como danos enfraquecem os seus personagens, porque as gemas perdidas vão lhe tirando a quantidade de ações que poderiam fazer. A questão de não existir uma ordem pré-definida ou um turno de cada jogador, gerou uma interação na equipe de heróis ainda maior que o usual, diminuindo o downtime.
Também gostei da forma como o Overlord joga, com um sistema de ativação inteligente e que permite decisões diferentes. Aquele painel de controle funciona muito bem, com o Rio de tiles para ativar unidades, que podem ser identificadas por bases coloridas. Tudo isso ficou muito bacana... massa demais.
Por outro lado, o setup deste jogo é longo... cada cenário tem peças e regras próprios, além de uma série de detalhes que levam tempo para explicar, fugindo facilmente da memória. Claro que isto é fundamental para garantir uma ótima rejogabilidade ao jogo, mas aconselho a ler o cenário e montar o setup antes da galera chegar. É um jogo que pede para ser o primeiro da noite.
O manual muitas vezes não ajuda, um tanto mal escrito, com erros de tradução do francês para o inglês e bem confuso na sequencia lógica. A clareza destas regras foram duramente criticadas em fóruns internacionais e grupos especializados. Tanto que a empresa já prometeu uma versão 2.0 para ser disponibilizada em breve. E não se preocupem com a questão do idioma, este é um jogo que não irá demorar para que todos os manuais, cartas e habilidades estejam a disposição em português, pela própria comunidade.
Achei que faltou algum modo campanha neste Conan. Aliás muitos extras / exclusivos não tem utilidade nos cenários do jogo base. Agora basta acompanhar a produtora, que prometeu liberar novos cenários para aproveitar tanto material, e acreditar na criatividade da galera, que em breve estará contribuindo em peso para sanar esta lacuna.
Uma curiosidade para os colegas que jogaram Conan opinar, é sobre a questão da dificuldade dos heróis em derrotar o Overlord. Por aqui já tive a oportunidade de jogar em ambos os lados, e a impressão dos grupos em que joguei foi que a vida dos heróis é muito dureza... As vezes dureza até demais. Nas partidas de vocês, com o anda a proporção de vitória para o Overlord?