
Reviewzinho do Battle for Souls, que eu conheci já faz um tempo mas só estreou aqui pela Gruta rcentemente (joguei e no dia seguinte encomendei o meu, gostei do jogo não, né?!
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O Battle for Souls foi lançado em 2013 através do Kickstarter, pela Robert Burke Games, que já conta com 7 projetos financiados. O jogo é do próprio Robert Burke, com projeto gráfico de Christian Reuter e Luis Francisco (mais um do Luis, amigo nosso aqui do fórum, esse cara tá me levando à falência!!!
), e arte de... bom... a arte desse jogo é um espetáculo à parte... o Battle for Souls utiliza pinturas clássicas famosas (todas com direitos autorais já de domínio público), e dentre as dezenas de artistas que fulguram no jogo estão Caravaggio, Michelangelo, Raphael, Dante, Rembrandt... só carinha fraco, né???!!! 

E o jogo em si de fraco também não tem nada: um card game sólido, muito tático e bem balanceado, com opções de jogo PvP (2 players, um contra o outro), Solo (1 player), e em Times (4 players em duas duplas, uma contra a outra). A única opção que eu ainda não testei foi o modo Solo, mas as outras duas funcionam super bem, sendo que o modo em Duplas é ainda mais interessante que o modo 2 Players (coisa rara, normalmente a variante em duplas acaba ficando mais fraca que o game mode original).
E a temática??? O próprio nome já dá uma dica, né? "Batalha pelas Almas" provavelmente não é um jogo de fazendinha, nem um dungeon crawler de fantasia medieval... =P É isso aí, "Inferno x Paraíso em uma batalha pelas almas dos mortais", um tema que não chega a ser polêmico mas com certeza vai fazer muita gente por aí torcer o nariz (só não tentem torcer o pescoço, ou o Inferno já começa o jogo na vantagem!
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Sem dúvida a aplicação da temática é um dos pontos mais fortes do Battle for Souls... A área de jogo é dividida em Inferno (Hell) de um lado, Paraíso (Heaven) do lado oposto, e Terra (Earth) no centro, onde ficam as cobiçadas Almas dos mortais (Soul cards), que quando não são conquistadas por nenhum dos lados vão para um descarte chamado Purgatório (Purgatory). Almas que estejam no purgatório ainda poderão ser resgatadas, mas as cartas que por algum motivo saiam do jogo vão para o Vazio (The Void). Bem temático, não? Mas os decks dos jogadores são ainda mais... 
Embora os decks de ambos os lados sejam equivalentes e equilibrados, cada qual tem uma nomenclatura diferenciada para manter a temática do jogo: os bons garotos jogam com os decks de Arcanjos (Archangel cards), Virtudes (Virtue cards), Intervenção Divina (Intercession cards) e Relíquias Sagradas (Holy Relic cards), enquanto os capirotos usam os decks de Demônios (Devil cards), Tentações (Temptation cards), Pecados (Sin cards), e Relíquias Profanas (Unholy Relic cards). Além disso, ambos tem cartas do Ceifeiro (Reap cards) em seus decks, que passam a régua em todas as almas da mesa independente de quem as esteja influenciando.
A preocupação com a temática é tão extrema que até os "pontos de influência" (que definem para que lado a alma está pendendo) são denominados de forma diferenciada: Holy Points quando a alma está indo pelo bom caminho ou Unholy Points quando a pobre alma está rumando para a danação.
E tem mais, tem mais... cada cor de carta representa uma virtude ou tentação, TODAS com nomes específicos para cada lado (paciência, bondade, caridade, inveja, gula, ganância, etc, etc, etc)!!! 

Tudo entendido? Então é hora de escolher seu lado, Heaven para os de coração puro e Hell para os de coração peludo! (sempre lembrando que os maus garotos não ganharão presentes no próximo Natal...) 
Os decks do Hell ficam de um lado, os decks do Heaven no lado oposto, e no centro sempre haverão 3 cartas de Almas abertas, que deverão ser disputadas até que deixem a mesa. A disputa por essas almas acontece através de "pontos de influência" (Holy Points/Unholy Points), que são marcados com dados (numerados de 1 a 6) nas próprias cartas das Almas.

O Battle for Souls tem uma estrutura de jogo que pode parecer complexa de início (o turno de cada jogador tem 8 fases possíveis), mas a jogabilidade em si é até bem simples. Na sua vez de jogar você vai conferindo quais fases pode (ou quer) realizar, mas apenas três delas são obrigatórias, sendo que duas são rapidinhas: repôr a mão para 5 cartas e encerrar o seu turno. Portanto, é na "Fase 3" que o bicho pega! (ou os anjos, sei lá...) 
Na fase 3 do seu turno, o jogador precisa escolher entre comprar uma nova carta, ou descartar cartas da sua mão, ou jogar cartas da sua mão, e é justamente jogando as cartas da mão que ele influenciará as almas disponíveis na mesa. As cartas jogadas devem obedecer à uma das combinações permitidas, que nada mais são que as boas e velhas combinações do pôquer (um par, dois pares, full house, grupos de cartas iguais, e grupos de cartas diferentes). Como as cartas do Battle for Souls não tem números, apenas cores (cada cor referindo-se a uma diferente virtude ou tentação), fica bem facinho definir quais combinações você possui em sua mão e qual deseja jogar. Obviamente, quanto mais difícil a combinação mais poder ela terá, garantindo mais "pontos de influência" sobre a alma escolhida. 
Uma pausa aqui para eu explicar duas coisas mega importantes, que para mim são as grandes sacadas do jogo: Primeiro, cada carta de alma apresenta 2 cores (uma virtude e uma tentação) e você só pode influenciar uma alma se na combinação que jogou houver pelo menos uma carta daquela cor. E segundo, uma alma que já tenha sido influenciada para um dos lados (heaven ou hell) não pode mais ser influenciada pelo lado oposto (só é possível retirar pontos de influência através das combinações mais fortes ou de cartas especiais dos decks de Intercession/Sin). Essas duas regrinhas tornam o jogo bastante estratégico, evitando que se tornasse apenas um simples "cabo de guerra" pelas pobres almas dos mortais. 

Enfim, estas são as mecânicas básicas do Battle for Souls, mas é claro que os demais decks de cartas oferecem uma grande diversidade de opções e efeitos especiais (aumentar a influência em alguma alma, retirar influência do adversário, resgatar almas do Purgatório, etc, etc, etc). No fim o que realmente importa é conquistar as almas para o seu domínio, e para isso você deve alcançar 7 ou mais pontos de influência em uma alma (ela vai para você e uma nova alma é colocada na mesa) ou usar a carta do Ceifeiro (Reap card), obedecendo a seus pre-requisitos. O Ceifeiro elimina todas as almas da mesa (as que tiverem 4 ou mais influência vão para os seus respectivos lados - heaven ou hell - enquanto todas as demais vão para o purgatório) e três novas almas são abertas. O jogo termina quando todas as almas tiverem passado dessa para melhor (ou dessa para pior, no caso dos coitados que acabaram no inferno ou no purgatório
), cada lado conta seus Victory Points (todas as almas dão VP, além de diversas outras cartas do jogo), e vence o lado que tiver mais Victory Points. 

Então senhores e senhoras, boas e más meninas (meninos nunca são bons
), deu para sacar que, apesar das brincadeiras, o tema do Battle for Souls é bem pesadinho, né? Se você não se incomoda em vez ou outra fazer o papel do tinhoso, do capiroto, do coiso ruim (quanto apelidinho bacana tem esse cara!!!
), eu recomendo fortemente o jogo! Temática mega bem aplicada, produção linda e jogabilidade excelente, foi uma das boas surpresas dentre os kickstarters do ano passado. 
Mas péra aí, antes de encerrar deixa eu fazer o papel do diabo (e o trocadilho do engraçadinho
): como pontos negativos ficam a minha reclamação quanto ao corte das cartas (algumas bem descentralizadas, uma grande decepção em um jogo tão bem produzido), e a minha total indignação por não haverem no jogo as bonus Soul Cards do Sam e Dean Winchester (ninguém foi ao inferno e ao purgatório mais vezes do que eles!!!!). 
Agora sim, acabou. Fiquem com Deu... bom, sei lá, fiquem com quem quiserem ficar.

Valeu!
Groo

Marcelo "Groo" Medeia é um dos sócios da Gigante Jogos, programador visual, board gamer semi-profissional, nunca escreveu nada, nunca publicou nada, nunca... enfim, basicamente ele nunca fez nada, só joga board games e escreve umas besteiras para você, que também é aficcionado por esse mundo dos Jogos Modernos. 