Caros Boardgamers
Pelo que eu pude aprender da vida, todos aqueles que tentaram "bater de frente" com a tecnologia, acabaram perdendo. E isso desde a descoberta do fogo, até hoje. Não sei se vocês se lembram, mas houve uma época em que as pessoas compravam discos de vinil (LPs para os mais vividos), e as pessoas adoravam o trabalho das capas, dos encartes das letras e coisa e tal. Depois veio o CD e muita a gente a princípio torceu a cara, dizendo que jamais trocariam as "bolachonas", com toda a arte envolvida, por um disquinho prateado com um encarte minúsculo, por mais tecnológico que isso fosse. Hoje em dia, até mesmo o CD já é coisa do passado e praticamente ninguém mais consome música dessa forma.
Com o board game não seria diferente. Eu acho que há um consenso aqui, de que, obviamente, a experiência de jogar on-line jamais será a mesma que reunir os amigos ao redor de uma mesa e jogar aquela partida memorável do jogo de tabuleiro que você mais gosta. Porém, em se tratando de tecnologia "jamais será" é uma expressão um pouco perigosa, porque não se pode prever o que o futuro nos reserva nessa área. O problema é que não há nenhum interesse das empresas do setor de board game, no sentido de popularizar o hobby. O que se vê é justamente o contrário, ou seja, cada vez o hobby está se tornado mais restrito, e direcionado a uns poucos privilegiados. Eu gostaria muito de ter o El Grande na minha coleção, porque mesmo com quase 30 anos de idade (ele é de 1995, mesmo ano do Catan!!!!), esse ainda é um dos melhores board games feitos até hoje, e uma referência obrigatória no "Controle de Área". Lamentavelmente, o preço do EL Grande, somado ao frete, atinge um patamar impraticável, não apenas para mim, como também para muita gente aqui no Ludopedia.
Por isso, eu sinceramente só tenho a comemorar que esse verdadeiro clássico tenha entrado para o catálogo do BGA, e comemoraria ainda mais se fosse lançada uma versão digital do jogo, com boa qualidade e por 10% do preço do jogo físico. Mesmo sabendo que não é a mesma coisa, pelo menos para mim, é a única opção possível, apesar de não ser o ideal. Só lamento que cada vez mais o mercado nacional de board games esteja caminhando para uma situação sem volta. A cada lançamento com preços altíssimos, nós ficamos mais próximos de reduzirmos as tiragens dos jogos de 1.500 para 750 unidades, do que de aumentarmos de 1.500 para 3.000 unidades. Com isso, em alguns casos, o digital acaba sendo a única opção viável para muita gente.
Eu temo que no futuro, da mesma forma que ainda tem gente que ouve vinil nos dias de hoje, ainda haverá uma meia dúzia de pessoas que jogam board games de "papelão". Basta pensar na quantidade de novos álbuns de música que são lançados em vinil hoje em dia, em comparação com os lançamentos das plataformas digitais, para termos um vislumbre de um possível (e cada vez mais provável) futuro para o board game no nosso país.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
P.S. Alguns podem me achar exagerado, e eu acredito que apesar de tudo, mesmo com o avanço dos board games digitais, pelo menos durante algum tempo, ainda serão lançados jogos no formato tradicional. Só que esses lançamentos serão para um número cada vez menor, e seleto, de consumidores (salvo os party games baseados em cartas, que serão as únicas opções para a maioria da comunidade board game). E aí eu me pergunto o seguinte: se as editoras nacionais de board game mal se sustentam hoje em dia vendendo em média de 800 a 1.000 unidades por jogo (não e todo o título que esgota a tiragem), nem imagino como essas empresas manterão as portas abertas, quando as tiragens se reduzirem para a casa de 500 unidades por jogo.