ATENÇÃO, ALGUNS CONTEÚDOS DESSA ANÁLISE FORAM EXTRAÍDAS DE DOCUMENTOS OFICIAIS DOS DONOS DO BOARD GAME NACIONAL E SÃO DE FONTE CONFIDENCIAL.
Fala meus amigos!! Hoje vou falar de Watergate, um jogo para dois jogadores onde os participantes vão recriar o confronto entre a administração do mandato de Richard Nixon e Editor do jornal The Washington Post. Nesse post eu vou falar bastante sobre o contexto histórico do jogo e fazer algumas ligações com os elementos de jogo.
Watergate acaba de ser lançado no Brasil pela Meeple BR, é um jogo do Matthias Cramer para 2 jogadores e leva uns 60 minutos pra jogar! E vou lhes dizer meus amigos, são tensos 60 minutos!
No jogo o objetivo da Administração Nixon é conseguir fazer com que o Presidente chegue ao fim do seu mandato sem sofrer o processo de impeachment. Já o Editor do The Washington Post terá como objetivo acumular provas que mostrem as conexões criminosas da Administração de Nixon.
Cada jogador terá um baralho de cartas único, cheio de personagens e eventos que ligados ao caso Watergate, sendo necessário jogar as cartas para se tentar alcançar o seu objetivo.
Antes de começar a falar do jogo e do contexto histórico, que quero deixar um aviso aqui... Como pesquisador de história contemporânea e poder jogar Watergate, um jogo sobre um evento histórico onde seus personagens ainda estão vivos, é um prazer indescritível! Então de preparem pra empolgação!
O Caso Watergate
O escândalo Watergate foi um dos maiores escândalos da história da política dos Estados Unidos. Ele estourou quando cinco homens foram presos tentando invadir a sede do Partido Democrata com o intuito de plantar escutas telefônicas, em 17 junho de 1972. O caso levou dois jornalistas do The Washington Post — Bob Woodward e Carl Bernstein — a investigarem mais detalhes a seu respeito.
Bob e Carl foram de extrema importância para o caso e são personalidades que estão vivas ainda!
As fotos acima são imagens pouco mais atuais de Bob e Carl, respectivamente.
Contexto histórico
O contexto histórico da presidência de Richard Nixon era, no mínimo, agitado. O que tava acontecendo na época nos EUA era o seguinte:
O movimento pelos direitos civis dos afro-americanos ainda atuava com força no país, e, apesar de algumas conquistas significativas para os negros nos Estados Unidos, o historiador Sean Purdy define os ganhos como contraditórios, pois as estruturas sociais norte-americanas continuavam essencialmente segregacionistas.
Além disso, os Estados Unidos estavam envolvidos com a Guerra do Vietnã, conflito em que o país interveio sob a justificativa de fornecer auxílio ao Vietnã do Sul para impedir o avanço dos comunistas do Vietnã do Norte. Essa guerra era extremamente impopular nos Estados Unidos, principalmente nas camadas mais pobres. Richard Nixon, inclusive, utilizou-se dessa impopularidade da guerra em sua campanha, anunciando que renunciaria à intervenção militar na situação vietnamita. Uma vez eleito, as promessas não foram cumpridas, pois já em 1969, seu governo levava a guerra para o Camboja e reiniciava o bombardeio no Vietnã do Norte.
A continuidade dos Estados Unidos nessa guerra aumentou a impopularidade dela, e números da época apontam que a rejeição era bastante alta.
Esse contexto evidenciava que a continuidade da guerra por conta do governo Nixon não era bem vista, e mostrava também que existia todo um movimento de oposição às políticas praticadas pelos Estados Unidos.
Tratava-se de um período de força dos movimentos sociais, e essa mobilização deu-se em diversas formas, além da luta dos afro-americanos e dos opositores da guerra. Houve também crescimento de movimentos de contracultura, como os hippies, do movimento feminista, e do movimento dos trabalhadores.
O governo de Nixon, de certa forma, foi uma reação conservadora a isso, pois ele se baseava no lema de manter-se sempre "a lei e a ordem" nos Estados Unidos.
Então rolou um movimento beeeeem estranho...
Em 17 de junho de 1972, meses antes da eleição para a presidência dos Estados Unidos, um grupo de cinco homens foi pego tentando grampear o escritório da sede do Partido Democrata, localizada no
Hotel Watergate, em Washington. O grupo foi descoberto porque o segurança do hotel identificou uma movimentação suspeita e chamou a polícia.
A polícia entrou em ação e cinco homens foram presos, que eram Virgilio Gonzalez, Bernard Barker,
James McCord, Eugenio Martínez e Frank Sturgis. Na posse deles estavam equipamentos que serviriam para implantar escutas telefônicas com o objetivo de obter informação para usá-las contra os democratas. O caso foi registrado pela imprensa norte-americana, mas a princípio, não recebeu muita atenção.
Na época do escândalo Watergate, McCord era um antigo agente da CIA que possuía conhecimento de sistemas de escuta eletrônicos. Após deixar a CIA, McCord foi contratado pelo Comitê Nacional Republicano e pelo Comitê de Reeleição do Presidente para trabalhos de segurança em 1972.
Uma coisa legal na carta de McCord é que ele te permite mover uma Evidência Amarela, que representa as plantas do complexo de Watergate, que ele provavelmente fez uso para se infiltrar e implantar as escutas eletrônicas.
O Washington Post foi um dos jornais que divulgou esse acontecimento na época. Os jornalistas que trabalhavam para ele, Bob e Carl, ficaram intrigados com o caso e começaram a investigar. Logo eles conseguiram uma fonte de dentro do FBI que confirmava ou negava todas as informações que eles obtinham.
Esse informante ficou conhecido na época como Deepthroat - Garganta Profunda (não procure isso no google, SÉRIO). A investigação que Bob e Carl realizaram descobriu uma trama de conspiração extensa que envolvia diretamente a comitê de reeleição do presidente Richard Nixon.
A identidade do informante que deu o caminho das pedras para os dois jornalistas do The Washington Post só foi revelada em 2005. Ele era um diretor assistente do FBI durante o governo Nixon e chamava-se William Mark Felt, e ele próprio confessou ter sido o informante.
Essa é uma carta com um evento que eu achei bem legal! No decorrer do jogo nós podemos colocar as fotos de potenciais informantes no quadro de evidências, mas cada lado de uma forma... O Editor pode colocar as fotografias com o lado virado pra cima como informantes reais, já a Administração de Nixon pode criar perturbações na investigação assegurando que o informante não dê seu depoimento, colocando a fotografia do lado riscado (virado pra baixo). O Garganta Profunda, como fonte de informação, pode fazer com que uma fotografia virada pra baixo ( e descartada pelo jornal como uma testemunha), possa novamente ser usada para incriminar Nixon!
Voltando... Eu falei que ia me empolgar... Hehehe
O indício que ligava o comitê de reeleição com os invasores da sede do Partido Democrata foi um depósito de 25 mil dólares na conta bancária de Bernard Barker. Em seguida a investigação conduzida pelos jornalistas do The Washington Post descobriu que o comitê de Nixon possuía um caixa dois usado para financiar as operações de espionagem. No caso da invasão do escritório em Watergate, o objetivo era obter informação dos democratas para usá-las contra eles na eleição de 1972.
Voltando a falar do jogo aqui... O quadro de evidências é o ponto central do jogo para o Editor, é nele que o Editor vai tentar ganhar o jogo e Nixon vai fazer de tudo pra criar perturbações e impedir as investigações.
O Editor do Washington Post ganha o jogo imediatamente se ele conseguir ligar, através de evidências, dois quadros de informantes ao quadro de Nixon. Como mostro no quadro abaixo, que foi o resultado da partida de ontem!
O jogo tem três tipos de evidências, as azuis são cheques usados na campanha de Nixon, as amarelas são plantas baixas do complexo de Watergate, e as verdes são transcrições das escutas que foram encontradas.
Já a administração de Nixon deve nesse quadro de evidências tentar ao máximo criar perturbações que impeçam a ligação dos informantes e o uso das evidências. A administração de Nixon vence o jogo caso consiga coletar cinco Marcadores de Momento, chegando ao final do mandato!
A repercussão do caso não abalou a posição de Nixon nas eleições, e ele foi reeleito com uma vitória expressiva contra George McGovern, o candidato democrata - Nixon venceu em todos os estados exceto no Distrito de Colúmbia e em Massachusetts. A vitória não impediu que a investigação continuasse, mas, além da imprensa, o caso seria acompanhado pelo FBI.
Em julho de 1973, foi descoberto que as conversas no interior do Salão Oval na Casa Branca eram gravadas. Nixon resistiu em divulgar as gravações, mas por ordem da Suprema Corte dos Estados Unidos, foi obrigado a entregá-las. Os áudios foram editados, mas, ainda assim, pôde comprovar-se que o presidente agiu diretamente para obstruir a Justiça. Além disso, ao longo das investigações, concluiu-se que a invasão da sede do Partido Democrata em Washington foi realizada com o consentimento dele.
A divulgação de que Nixon havia agido para obstruir a investigação do FBI tornou sua situação insustentável. O Partido Republicano abandonou-o, e, quando ele percebeu que não poderia reverter sua situação, optou pela renúncia. Em 8 de agosto de 1974, Nixon anunciou, em um pronunciamento transmitido na TV, a sua saída do governo.
Ele alegou tomar essa ação como forma de apressar a recuperação do país, e o vice dele, Gerald Ford, assumiu a presidência. No mês seguinte, ele livrou Nixon de responder por seus crimes ao conceder-lhe a anistia.
Nixon foi o primeiro e único presidente na história dos Estados Unidos que renunciou ao cargo.
Fontes
PURDY, Sean. O século americano. In.: KARNAL, Leandro (org.). História dos Estados Unidos. São Paulo: Contexto, 2008. p. 248-249.
KIERNAN, Victor G. Estados Unidos: o novo imperialismo. Rio de Janeiro: Record, 2009. p. 344.
PURDY, Sean. O século americano. In.: KARNAL, Leandro (org.). História dos Estados Unidos. São Paulo: Contexto, 2008. p. 250.