Pedro::Eu sinto isso muito nos filmes, quando revisitar é mais estranheza do que qualquer outra coisa. Revi vários e o único que subiu no conceito foi Garotos Perdidos… heheehehehe. Sou fã de cinema e apesar do exemplo ser bom eu vejo os jogos correndo por aspectos diferentes nesse caso, olha como é no Xadrez, afinal. Como os jogos são uma reunião de mecânicas e que propõem reflexão e interação, quebra de padrões, eles são bem mais longevos. Revisitar Caylus sempre será desafiador pela forma como os elementos estão ali e por como será o comportamento do meu adversário. Pode ser jogado muito sem que isso me leve a exaustão.
Vendo então por esse lado fica a questão de quando e por onde o jogador será fisgado. A chance de morar ali sua nostalgia e apreço é imensa e se ele crescer no Hobby aberto às possibilidades vai saber apreciar o velho e novo sem qualquer rótulo.
Eu vou sacar minha carteirinha de "filósofo de botequim". Posso? Como eu percebi que você também faz parte da associação, puxa a cadeira aí!
Jogos e filmes são produtos culturais, certo? Onde há o homem, há a cultura. Logo, onde houver a humanidade, quase certamente as pessoas estarão jogando e contando histórias. Mas daí você faz referência ao Xadrez... É quase um exemplo injusto. Eu poderia fazer referência a Doze homens e uma sentença, Tubarão, Senhor dos Anéis, Matrix... Existem obras de arte que ultrapassam o tempo, transcendem grupos culturais, resistem e persistem até quando seus elementos de origem já foram apagados da existência e não é mais possível lhes fazer referência. Para não correr o risco de tocar numa obra prima, vamos tomar os 100 primeiros jogos lançados em 2021 e 100 primeiros filmes lançados nesse mesmo ano:
Como produtos culturais e mercadológicos, há um legado no qual se cria um jogo ou um filme novo. Se possível, sem cometer os erros que outros já cometeram e cometendo erros novos e menores para o público a quem se destinam. Você realmente pode dizer que, dessas duas listas de 100 jogos e filmes, a maioria (50% +1) dos jogos serão mais longevos do que a maioria (50% +1) os filmes? Eu não colocaria minha mão no fogo.
Assim como você diz que "(...) jogos são uma reunião de mecânicas e que propõem reflexão e interação, quebra de padrões(...)", eu poderia dizer que filmes são uma reunião de argumentos e que propõem reflexão e interação, quebra de padrões. Aliás, nem todo jogo ou filme quer quebrar padrões, e a maioria não quer. Mas eu concordo que a interação, a experiência e a forma como se consome o produto cultural são diferentes, porque são mídias diferentes. Não é todo mundo que lê o mesmo livro duas vezes ou que vai ao museu para ver os mesmos quadros e estátuas, mas muitos jogam os mesmos jogos mais de uma vez. Todavia, fatalmente você vai conversar sobre livros, filmes, quadros, estátuas, jogos ou qualquer outra manifestação cultural por diversas vezes, que também é um tipo de consumo da cultura.
Enfim, tudo isso para dizer que, quando falei que o novo era melhor para o público atual do que o velho, era mais por esse respeito ao legado no qual se funda. É, em essência, o respeito ao preceito de que o homem é fruto do seu tempo. Muito mais do que defender que não devo consumir o velho.