Podemos dizer que os dados hoje são um verdadeiro símbolo dos jogos de tabuleiro. Acredito que meu primeiro contato com dados foi naqueles jogos onde você tem um caminho, rola um dado e anda a quantidade de casas que saiu no dado (mecânica conhecida como Roll-and-Write). Nesse tipo de jogo, quem tem mais sorte no resultado dos dados acaba se tornando o vencedor. Mas e nos jogos modernos? A sorte é o principal fator determinante em jogos que usam dados?
Eu costumo dizer que um jogo é tão interessante, quanto as escolhas que você faz durante uma partida. Um jogo em que sua ação é completamente definida pelos dados pode se tornar rapidamente um pouco tedioso, mas, por outro lado, se os dados são apenas um elemento da jogada, as coisas podem se tornar mais interessantes. No jogo King of Tokyo, por exemplo, o resultado da ação do jogador é determinado pelos dados, porém o jogador pode rolar novamente quantos dados quiser mais duas vezes. Escolher quais dados rolar novamente, considerando sua chance de sucesso de conseguir o resultado desejado, torna o jogo mais interessante! A sorte não deixa de estar presente, mas suas escolhas acabam manipulando o risco e a recompensa.
Em outros jogos, lançar os dados não é nem parte da ação do jogador. No Sagrada, os dados são retirados de um saco no começo da rodada e lançados na mesa pelo primeiro jogador. Esses dados serão selecionados pelos jogadores com base na sua cor e na sua face. Nesse caso, os dados são usados para gerar aleatoriedade, deixando único o estado inicial de cada turno.
Na verdade, os dados têm muito a ver com aleatoriedade, que pode ser utilizada em qualquer parte do jogo, seja na resolução da jogada ou na configuração do cenário com o qual os jogadores vão interagir. Eu costumo dizer que a possibilidade de falhar é que trás a emoção para o jogo. Quando você vai fazer um ataque no Zombicide, por exemplo, e depende do resultado dos dados para ter sucesso, é criada uma certa tensão. Você consegue melhorar suas armas e habilidades para aumentar a chance de sucesso, como já disse o Edu Pomper no vídeo para o quadro Matemática do Tabuleiro no canal 3DUs (link abaixo). Porém sempre existe a chance de falha, por mais remota que seja! Nesse tipo de jogo, para jogar bem, você precisa o tempo todo estar gerenciando o risco, procurando sempre se garantir com um plano B na manga.
Um jogo de dados que surpreendeu recentemente foi o Dice Forge. Nesse jogo, durante a partida, você vai trocando as faces dos seus dados. Dessa forma, a medida que jogo vai passando, você vai manipulando as chances para a direção que você quer levar sua estratégia. Afinal, quem precisa de sorte quando é você mesmo quem escolhe as faces dos seus dados? E nunca duvide da criatividade dos designers ao utilizar os dados das formas mais inusitadas. Em Dungeon Fighter, por exemplo, vale mais sua habilidade em lançar os dados no lugar certo, do que o que sai na sua face.
Para mim, a presença de dados em um jogo normalmente sinaliza que pode haver a emoção na resolução de uma jogada ou que a aleatoriedade dos cenários gerada pelos dados irá desafiar minha capacidade sempre de uma forma diferente. Apesar de muita gente acabar torcendo o nariz sempre que vê um dado entre os componentes, por achar que se trata sempre de sorte, acho que vale dar sempre uma olhada, pois tem aparecido jogos que usam os dados cada vez de forma mais criativa e inteligente!