(Análise) Fotossíntese
Título: Fotossíntese (2017)
Designer: Hajlmar Hach
Arte: Sabrina Miramon
Editora nacional: Mandala/Grok Jogos
Nº de jogadores: 2 a 4
Com um tema agradável, arte e componentes lindos, Fotossíntese apresenta um jogo com cara de abstrato, apresentando uma ideia inteligente que requer dos jogadores muito planejamento futuro.
Resumo de Como o Jogo Funciona
O jogo é dividido em rodadas, onde cada rodada possui duas fases. A primeira consiste em jogadores receberem Pontos de Luz por cada uma de suas árvores no tabuleiro (contanto que não estejam obstruídas por sombras de outras árvores, suas ou de adversários), já na segunda fase o jogador irá utilizar quantos Pontos de Luz quiser (ou puder) realizando ações que envolvem o nascimento e crescimento de suas árvores. Em Fotossíntese, os jogadores ganham pontos de vitória quando retiram uma árvore grande do tabuleiro central, simbolizando que todo ciclo de vida da mesma foi cumprido. A partida termina ao final de um número pré-determinado de rodadas e vence o jogador que possuir a maior soma de pontuação
Mecânicas Principais: Colocação de Peças; Controle de Área.
Critérios
Ø Qualidade dos Componentes
PRÓS: Árvores cartonadas de boa qualidade e grandes, enchendo os olhos quando o jogo está montado na mesa e a partida rolando; Marcadores, tabuleiros individuais e tabuleiro central de excelente gramatura e bom acabamento; Caixa possui um tamanho que comporta as árvores montadas, apesar que de forma meio justo.
CONTRAS: O marcador de Pontos de Luz é um tanto pequeno, podendo ter sido facilmente substituído por algum cubinho ou algo do gênero ao invés de ser simplesmente uma fichinha cartonada, contudo, o tamanho não atrapalha o decorrer da partida; Apesar do manual ser bem escrito, ele assusta a princípio por trazer as informações em blocos de texto muito longos.
(Todos componentes)
Ø Arte
PRÓS: Árvores com design e cores únicos para cada jogador, que fazem uso de uma paleta de cores viva e divertida, sem soar exagerado ou cartunesco; O tabuleiro individual possui uma parte como um resumo/ajuda, que facilita bastante quando se está jogando pelas primeiras vezes; Particularmente, acho a ilustração da caixa entre as mais bonitas que já vi no hobby.
CONTRAS: No tabuleiro individual, a princípio, é um pouco ruim de ver os valores de custos das árvores, por ficarem meio ‘escondidos’ entre as árvores em nosso tabuleiro.
(Componentes em detalhe)
Ø Curva de Aprendizagem
Média. No que tangem as regras, Fotossíntese é um jogo super direto, com regras fáceis e claras e sem nenhuma situação de exceções às regras durante a partida, tanto que o próprio manual sugere duas alterações nas regras para se ter um modo mais avançado (mas bem simples de entender). Por outro lado, em relação ao aspecto estratégico, Fotossíntese se torna bem complexo, uma vez que os jogadores possuem uma boa gama de opções sem muita diferença aparente para olhos pouco treinados, o que acarreta em diversos momentos de arrependimentos aos jogadores. É bem comum um jogador colocar uma árvore onde ela atrapalha a si mesmo em momentos futuros ou então o jogador fique sem ter ideia de qual melhor jogada para se fazer e acaba escolhendo fazer qualquer coisa sem vislumbrar consequências futuras. De todos jogos que eu, Raphael, já tive o prazer de escrever, Fotossíntese, com certeza, é o que possui o maior impacto de se saber corretamente o timing (saber o momento certo de fazer as coisas) das coisas.

(Tabuleiros central e de jogador durante partida)
Ø Presença de Tema
Baixo. O jogo não é um exemplo intrincado de concepções sobre biologia, natureza e afins, contudo consegue apresentar de forma bem coerente, por mais abstrata que seja, o ciclo de vida das árvores. O manual poderia, contudo, ter apresentado um pouco mais de tema, inclusive apresentando a inspiração da arte das árvores do jogo. Apesar de tudo, é um tema muito agradável, aplicado mecanicamente de forma eficiente e que possibilita, inclusive, um bom exercício dentro do tema para crianças (não tão pequenas, se não perdem toda malícia necessária para o jogo. Voltaremos nesse item no final).
(Tabuleiro central em detalhe)
Ø Rejogabilidade
Média. Fotossíntese lembra bastante jogos abstratos tal como Xadrez, Damas e afins (não à toa, muitas pessoas o classificam sendo um), logo, o jogo apresenta uma gama muito grande de possibilidades, como diversas casas onde se plantar as árvores, quais fazer crescer, quais colher, e quando fazer tudo isso. Estes elementos demonstram um Fator Rejogabilidade Alto, contudo, ao longo de diversas partidas é possível ver que não existe muito espaço para reviravoltas mirabolantes ou mesmo jogadas específicas chaves (como existe no Xadrez, por exemplo), então isso acaba por minar o Fator de Rejogabilidade um pouco, diminuindo minha consideração sob este aspecto.
Ø Interação
Alta. Não existe nenhum tipo de ação que impacta propositalmente, de forma direta, um rival, contudo o jogo tem MUITO BLOQUEIO. Onde os jogadores colocam suas árvores, quais fazem crescer e quando, pode impactar diretamente na receita de Pontos de Luz (a moeda do jogo, responsável por permitir que os jogadores façam suas ações) dos adversários. Na verdade, a administração destes bloqueios (inclusive para não nos auto-bloquearmos) é o aspecto central do jogo, pois se não fosse por este elemento o mecanismo central do jogo não funcionaria corretamente. É muito importante salientar que o impacto dessa interação muda de acordo com o número de jogadores: Com dois jogadores temos um jogo mais aberto, com menos bloqueios, com, geralmente, mais Pontos de Luz sendo coletados por todos, com mais espaços para ocupar no tabuleiro e assim por diante, enquanto com mais jogadores, como quatro, o jogo fica extremamente apertado, onde cada espaço deve ser ocupado no momento certo, sob o risco de se dar muito mal em algum turno (inclusive, para mim, a variante avançada – no qual é proibido plantar semente e crescer árvore na sombra de outra árvore – é quase inviável de ser jogado em quatro pessoas).

(Tabuleiro de jogador em detalhe)
Ø Fator Sorte
Relevância na partida: Nenhuma. Não preciso nem me alongar, pois simplesmente não existe sorte no jogo. Toda informação está aberta (olha o pé no abstrato ai de novo!) e tudo ocorre diretamente por ação dos jogadores.
Ø Fator Estratégia
Relevância na partida: Alta. Como dito acima, em Fotossíntese tudo que acontece está intimamente ligado com as ações dos jogadores, mas isso, convenhamos, não é tão incomum de ver em jogos mundo afora. O que realmente diferencia Fotossíntese, e dialoga diretamente com como os jogadores percebem a importância de sua estratégia ao longo da partida, é o fato da disposição física de suas árvores no tabuleiro central impactar de forma diferente a renda de Pontos de Luz a cada rodada. No jogo existe um grande marcador que simboliza a direção em que os raios solares incidem sobre as árvores, e este marcador a cada rodada se move em sentido horário, de forma que uma árvore que renda Pontos de Luz em um momento, em outro não apenas não rende, como pode atrapalhar outras de render também. Esta sacada é o coração do jogo e um grande diferencial para demais jogos estratégicos com ar de abstrato que existem no mercado onde os jogadores interagem em um tabuleiro central, como Santorini, Onitama, entre outros. Esta mecânica que apresenta a necessidade de orientação no espaço, inclusive, é responsável por entregar uma experiência tão elevada no nível estratégico aos jogadores, uma vez que é preciso sempre antecipar quais impactos de ocupar determinado local, quando e com qual altura de árvore (uma vez que quando mais alta, mais sombra cria, logo impacta os espaços adjacentes em uma distancia maior).

(Componentes na caixa. Cabem as árvores montadas (e separadas) sem problemas.)
Ø BÔNUS: Algumas dúvidas corriqueiras:
- Dá para jogar com crianças? Sim, é possível. A única consideração é que se perde boa parte do teor estratégico a longo prazo, pelo fato das crianças não pegarem com tanta facilidade a malícia da leitura de rodadas futuras.
- Funciona bem em qualquer número de jogadores? Mais ou menos, pois senti que o sentimento do jogo muda um pouco. Como dito no Fator Interação, com menos jogadores o jogo fica mais aberto, com mais folga e um pouco mais de espaço para fazer previsões, uma vez que o espaço todo do tabuleiro será ocupado apenas pelo jogador e mais um rival, enquanto com mais jogadores, fica tudo mais apertado e gerando muitos bloqueios. Eu, particularmente, não gostei muito da experiência com quatro jogadores, devido a essa sensação de ‘tudo lotado’, porém em dois ou três jogadores achei que o jogo brilhou como o Sol de meio-dia!
Opinião Pessoal
“Suprindo com louvor minha expectativa de jogo abstrato que entregasse uma boa justificativa temática, Fotossíntese se mostrou uma bela experiência para dois ou três jogadores, onde não existe sorte nenhuma envolvida. Com uma pitada de controle de recursos (mesmo que de só um tipo) e influência de área, o jogo me conquistou pela sua simplicidade e inventividade ao mesmo tempo. Para quem busca jogos inteligentes é uma obra de design que merece a atenção.” (Raphael Gurian, jogando com Handroanthus Albus)
“Fotossíntese é um jogo divertido, com uma temática atraente e ótima ilustração e componentes, que fará com que até mesmos os jogadores mais pacíficos defendam sua espécie arbórea para que ela prolifere com mais sucesso na área determinada do tabuleiro, competindo por recursos e gerando mais pontos possíveis. Ao final, o jogador que conseguiu completar mais vezes o ciclo de vida de suas árvores, desde a semente até a árvore mais alta da floresta, conseguirá ser o vencedor. Apesar de ter um tema bonito e regras de fácil entendimento, é um jogo que exige um nível estratégico mais elevado e que ficará evidente a diferença de sucesso quando jogado entre pessoas mais experientes e novatos. Ainda assim é um ótimo jogo para se ter na coleção.” (Heloisa Fernandes, @lola_Fernandes, jogando com Delonix Regia)
Um texto de
Raphael Gurian
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em análises de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
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