Esse post foi escrito para ser publicado originalmente no blog da Galápagos Jogos em 2017, quando era um colaborador regular. Como atualmente o conteúdo do blog não está mais disponível, estou repostando o conteúdo aqui no nosso canal dos 3DU's. Não me lembro se o post chegou a ser publicado, mas leve em consideração que o texto não é recente. Aproveitem!
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Por Eduardo Guerra
Quando lemos um livro que conta uma história, nossa mente precisa criar em cima do que o autor está descrevendo para dar forma ao que está sendo contado. Por exemplo, ao descrever um personagem, o leitor induz os leitores a imaginarem aquela pessoa. Quando uma ilustração é fornecida, por mais que o leitor tenha uma referência visual mais forte, ele ainda precisa completar com sua imaginação outros traços do personagem, como os trejeitos e a forma de falar.
Costumo dizer que a historia formada a partir da leitura de um livro é fruto de uma colaboração entre as palavras escritas pelo autor com a imaginação do leitor. A imaginação de quem está lendo é essencial para completar as lacunas que o texto não descreve. O leitor cria imagens a partir da descrição de um cenário e cria cenas a partir da narração das ações. Imagine que o autor diz, por exemplo, que personagem “entrou correndo em uma rua sem saída, escura e com apenas uma luz ao fundo”. Tenho certeza que em sua cabeça você vizualizou extamente essa rua, com todas as sua casas (ou prédios), mesmo isso não tendo sido citado.
Em filmes, a necessidade da imaginação do leitor já não é tão grande. A história já está pronta para ser apenas consumida, pois as imagens, as cenas e os personagens já estão lá. Dizem que os melhores filmes de terror são aqueles em que os monstros não aparecem, justamente porque dificilmente a imagem de algum que for mostrado será tão aterrorizante quanto aquele que sua mente conseguiu criar. Não estou dizendo que a experiência de ler um livro é melhor ou pior do que a de ver um filme, apenas que são experiências diferentes!
Traço um paralelo dessa diferença entre livros e filmes, com a diferença entre jogos de tabuleiro e video-games. Os video-games hoje estão tão realistas e com gráficos tão detalhados que acabam deixando muito pouco trabalho para nossa imaginação. Nossa mente trabalha muito mais do que quando simplesmente assistimos um filme, pois nos games estamos participando dela. Porém nossa mente trabalha em cima de solucionar problemas e não de imaginar...
Nos jogos de tabuleiro, as cenas e as imagens não estão prontas. Temos miniaturas, dados, tokens e peças em cima do tabuleiro, entender e imaginar o que está acontecendo ali cabe a nós! Sabe quando no Zombicide você está cercado de zumbis e consegue aquela rolagem espetacular? Tenho certeza que imaginou uma cena fantástica dos zumbis sendo destroçados. Quem não se imaginou um cientista maluco em Potion Explosion? Quem não teve medo de perder parte de sua sanidade tentando imaginar os terríveis seres de Lovecraft dos jogos Elder Sign e Eldritch Horror? Quem não imaginou duelos de sabre de luz sendo feitos por meio de dados em Star Wars Destiny?
Da mesma forma, não digo que jogar video-game é melhor ou pior do que jogar jogos de tabuleiro, porém, da mesma forma que com livros e filmes, são experiências diferentes. O que não pode acontecer é deixarmos nossa imaginação ficar prequiçosa e querer somente consumir midias que já entregam a história prontinha para o nosso cérebro. Se você gosta, não deixe de assistir filmes ou jogar video-games, porém, não se limite a eles! Deixe sua imaginação bater as asas em uma história narrada apenas com palavras ou em um jogo em que os avatares dos jogadores e os adversários são miniaturas, cartonados ou mesmo meeples...
Tenho certeza de que será uma experiência da qual você não irá se arrepender!