Caros Boardgamers
Eu acho muito interessante essa postura dos canais de boardgame, no sentido de que eles só fazem resenhas dos jogos que eles gostam. Isso é muito justo, entretanto, a conclusão óbvia é de que se o canal de boardgame "X" fez um vídeo do jogo "Y", mas não fez do jogo "Z", então é porque aquele criador de conteúdo gostou do primeiro jogo, mas não gostou do segundo. Só que isso nem sempre é necessariamente verdadeiro, porque o criador de conteúdo pode gostar e recomendar um determinado jogo, mas a editora pode não ter mandando uma cópia, ou porque o criador de conteúdo pode não ter tido tempo ou oportunidade de fazer o vídeo daquele jogo, mesmo tendo gostado dele.
Nesse sentido a opinião dos criadores de conteúdo em termos gerais fica pela metade, porque os jogos que tem vídeo tudo bem, o criador de conteúdo achou o jogo bom e indica para as pessoas, mas os jogos que não tem vídeo, a pessoa fica sem saber se o criador de conteúdo não gostou, ou não teve tempo ou condições de fazer o vídeo. Isso sem falar que quando um criador de conteúdo só faz vídeos dos jogos que ele gosta, a resenha já fica parcial logo de cara, porque se o criador de conteúdo fez o vídeo é porque obrigatoriamente ele gostou do jogo.
Desse modo, pelo menos na minha opinião, apesar de ser lógico e até natural, que o criador de conteúdo faça os vídeos apenas dos jogos que gostou, não custaria nada, também falar dos eventuais pontos fracos do jogo, apesar de ter gostado dele. Não existe jogo perfeito, até porque a perfeição é um conceito, um ideal, e por definição fora da realidade. Por isso, não desmereceria de forma alguma o jogo, se a resenha dissesse: "olha, esse jogo é muito bom, mas apenas com até três jogadores, porque com mais do que isso fica muito demorado e confuso", ou ainda "olha esse jogo é excelente, mas apenas para jogadores mais experientes, porque com novatos ele fica com muito AP (analysis paralysis - o jogador acaba demorando muito no seu turno, buscando a melhor jogada, ou pelo menos uma que seja mediana)", ou ainda "esse jogo não é aconselhável para dois jogadores", e coisa e tal. Mas nem sempre é isso que se vê. Aliás o que normalmente acontece é do jogo ser sempre excelente, indicado para todos, do netinho ao vovô, e item obrigatório em qualquer coleção de jogos.
Claro que isso não quer dizer que os criadores de conteúdo são uns vendidos, que só dizem coisas boas dos jogos para receberem cópias de graça das editoras. Certamente isso não é inteiramente verdade e até muito pelo contrário, os criadores de conteúdo são pessoas que gostam do hobby, afinal pelo dinheiro que os canais de boardgame geram, ninguém vive exclusivamente disso, nem se venderia por tão pouco. Conta muito também o fato dos criadores de conteúdo serem fundamentais para a divulgação do boardgame. Que atire a primeira pedra quem nunca foi conferir um vídeo de jogatina, antes de comprar um jogo, para não gastar uma grana alta em uma aposta no escuro. Nesse aspecto, eu acho que os vídeos comparativos, no melhor estilo "vou de qual jogo", talvez seja o mais aconselhável. Isso porque quando o criador de conteúdo diz "os dois jogos são bons, mas esse é melhor que aquele, por essas razões", pelo menos em tese, assim seria mais fácil vislumbrar os pontos fortes e fracos dos jogos analisados.
No meu entendimento, os vídeos de boardgames, especialmente os de resenha, devem ser vistos mais como uma propaganda de um jogo que o criador de conteúdo gostou, do que como uma crítica especializada. Portanto, acho que cabe a cada um de nós, assistir a essas resenhas de boardgame, tendo em mente o fato de que, se aquele criador de conteúdo fez o vídeo daquele jogo, é porque ele já gosta dele, o que indiscutivelmente compromete a isenção e a imparcialidade. A coisa fica ainda mais complicada quando um criador de conteúdo é contratado de uma editora e faz um vídeo analisando um jogo, da própria empresa para a qual trabalha.
Da minha parte, eu dou sempre preferência aos vídeos que mostram a jogatina, porque ai não tem muito como mascarar o que o jogo realmente é. Um exemplo disso, pelo menos no meu caso, foi o jogo "A Tripulação", que inicialmente me empolgou bastante (um jogo de vaza, ganhador do Spiel, no mínimo, sempre há de despertar a curiosidade). Só que quando eu fui assistir a um vídeo de jogatina, feito por um criador de conteúdo (para deixar bem claro o papel e a importância dessas pessoas), na mesma hora entendi que o jogo pode ser realmente muito bom, muita gente boa pode gostar, o jogo pode ter muitos prêmios, mas simplesmente não é para mim. Por outro lado, um outro jogo que eu descartei a princípio, até pela saturação do tema, foi o "Conquistadores de Midgard", mas depois de assistir a um vídeo de jogatina, percebi que o jogo tinha tudo que ver comigo, e comprei na mesma hora, até porque o preço esta bom. Dessa maneira, se não fosse por esses vídeos de jogatina, feitos por criadores de conteúdo, eu acabaria comprando um jogo do qual acabaria não gostando e deixando passar um jogo que acabei gostando bastante.
Por fim, em se tratando de criação de conteúdo de boardgames, talvez a maneira como as pessoas consomem esse tipo de informação seja, tanto ou até mais importante, do que o próprio conteúdo em si.
Um abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio