(Análise) Sugar Gliders
Título: Sugar Gliders (2012)
Designer: Néstor Romeral Andrés
Arte: Heather Cornelius, Dennis Lohausen, Néstor Romeral Andrés
Editora nacional: Funbox Editora
Nº de jogadores: 2 a 4
Um jogo familiar, leve e rápido, porém recheado de fofura e muitos bloqueios, Sugar Gliders é um prato cheio para quem gosta de jogos mecanicamente simples, mas que entregam um bom tema e uma boa dose de estratégia, inclusive para jogar com crianças.
Resumo de Como o Jogo Funciona
Cada jogador é representado por uma miniatura (meeple) de madeira de um petauro-do-açúcar (um pequeno marsupial onívoro, inteligente e dócil, que em inglês é chamado de ‘sugar glider’ – daí o nome do jogo (sim, nada criativo...)). Em seu turno o jogador irá se mover em linha reta um número de casas exatamente igual em relação a ficha existente no local onde iniciou seu movimento, e em seguida irá pegar essa ficha do local inicial do movimento para si. A partida acaba quando não existirem mais fichas ou todos jogadores passarem. No final da partida os jogadores somam os valores de todas fichas que acumularam e vence o jogador com a maior soma.
Mecânicas Principais: Coleção de componentes.
Critérios
Ø Qualidade dos Componentes
PRÓS: Caixa de boa gramatura; Fichas de boa gramatura; Tabuleiro de boa qualidade e dupla face (ajustando ao número de jogadores); Miniaturas de madeira de boa qualidade.
CONTRAS: O manual é de um papel fino, logo pode amassar com facilidade, até mesmo por ser apenas um folheto – já que não existe necessidade de um manual com muitas páginas, devido a simplicidade do jogo.
(Todos componentes)
Ø Arte
PRÓS: Ilustrações bem feitas e cheia de pequenos detalhes, com cores e fontes de fácil leitura.
CONTRAS: Nada relevante a se considerar, salvo a arte da caixa ser um pouco poluída demais, com muita informação e uma paleta de cores muito carregada em tons verdes escuros e efeitos de sombreado.
(Componentes em detalhe)
Ø Curva de Aprendizagem
Baixa. Sugar Gliders é um jogo muito simples de se explicar e mesmo jogadores iniciantes não terão nenhuma dificuldade em entender a malícia do jogo e como criar estratégias desde os primeiros turnos de sua primeira partida (porém é bem comum ver gente se arrependendo de jogadas anteriores, mas ai é falta de atenção mesmo!).
Ø Presença de Tema
Alta. Encarnamos o papel de um pequeno petauro-do-açúcar sobrevivendo em uma grande árvore com outros pequenos companheiros que disputam pelo mesmo alimento, enquanto pulamos (e planamos) de galho em galho comendo pequenos insetos e frutinhas. É basicamente isso. Apesar de tanta simplicidade no tema, os elementos do jogo conseguem entrega-los bem, de forma que toda simplicidade mecânica trabalhe em sincronia com a simplicidade temática, fazendo o jogo deixar de ser um completo abstrato e seja mais atraente para o público mais infantil. Por outro lado, isso pode também afastar pessoas mais velhas ao pensar (erroneamente) que o jogo é mais bobinho e raso do que realmente é.
(Os famosos e fofos petauros-do-açúcar! Fonte: internet (infelizmente não é a minha mão na foto))
Ø Rejogabilidade
Média. Sugar Gliders lembra bastante jogos mais abstratos em relação a como funciona, de tal forma que o Fator Rejogabilidade está inserido mais devido ao grau de aprendizado e competitividade dos participantes, apesar de existir uma certa aleatoriedade na preparação do tabuleiro, devido ao sorteio dos valores a serem coletados. Em suma, as partidas são bem parecidas, mesmo com a preparação do tabuleiro com valores aleatórios, de tal forma que a graça de jogar várias vezes está em traçar melhores escolhas a cada jogada para superar os adversários acima de qualquer outro elemento que traga diferenças entre as partidas.
Ø Interação
Alta. O jogo conta com bloqueios intencionais quase que obrigatórios para se sair bem no placar final, forçando os jogadores não apenas jogarem despretensiosamente coletando suas fichinhas, mas tentando antecipar o que os adversários irão fazer, para com isso forçar bloqueios que visem atrapalhar o adversário o máximo possível.

(Tabuleiro durante a partida para 4 jogadores)
Ø Fator Sorte
Relevância na partida: Nenhuma. O Fator Sorte é outro ponto que faz com que Sugar Gliders se assemelhe a jogos abstratos. Apesar da preparação da partida possuir um elemento de aleatoriedade, quando o jogo realmente se inicia toda informação está disponível e aberta para todos jogadores, logo não existe nenhum impacto de sorte no decorrer da partida. Se você ganhou (ou perdeu), o mérito (ou culpa) é toda sua e de seus adversários, não adianta tentar colocar no jogo!
Ø Fator Estratégia
Relevância na partida: Média. Como o Fator Sorte é baixo, a tendência é que o Fator Estratégia seja proporcionalmente alto, não? Não necessariamente, e Sugar Gliders é um bom exemplo disso. Apesar da estratégia ser relevante para o vencedor e bloqueios intencionais serem a chave para se sobressair na pontuação em relação a seus adversários, existem alguns fatores que acabam diminuindo o real impacto da estratégia em uma partida de Sugar Gliders. São eles: 1. Existem muitas possibilidades semelhantes do início até a metade da partida em relação ao como e onde podemos nos mover, de tal forma que por vezes não é preciso pensar tanto para fazer uma jogada, pois ela será meio óbvia para todos na mesa; 2. O jogo por possuir um tom leve e familiar, acompanhando uma mecânica bem simples e direta não dá espaço para muitas reviravoltas táticas, com jogadas muito trabalhadas e combos vistos de forma muito antecipada; 3. Apesar de ser possível tentar traçar o que os adversários (e nós mesmo) podemos fazer, a vibe familiar do jogo acaba não incentivando muito essa forma tão queima-cuca de se jogar, a ponto de fazer centenas de contas matemáticas e de probabilidade, como uma partida de Xadrez, por exemplo. Logo, não estranhe se apesar de todo cuidado você acabar se sentindo preso, encurralado e sacaneado por você mesmo, em uma jogada que percebe que foi vacilo devido a algum movimento não muito bom algumas rodadas atrás.
De uma forma geral, Sugar Gliders apresenta um Fator Estratégia muito coerente com todas demais características presentes no jogo, logo a relevância Média não é um demérito, ao contrário, converge para que o jogo seja fiel ao que se propôs, tanto mecanicamente quanto em relação ao perfil de público que buscou atingir com sua arte, temática e complexidade.
(Caixa com todos componentes. É baixinha, mas cabe tudo com folga)
Ø BÔNUS: Algumas dúvidas corriqueiras:
- Dá para jogar com crianças? Sim, é possível e recomendo! Sugar Gliders é um excelente jogo para apresentar para iniciantes e crianças. Obviamente, se jogado entre jogadores experientes teremos um jogo mais apertado, com mais tempo de análise, jogadas mais bem pensadas e elaboradas para conclusões futuras, já com crianças será algo mais solto, com menos bloqueios maldosos, mas a diversão ainda é garantida e certamente é uma boa porta de entrada para o universo dos jogos de tabuleiro.
- Funciona bem em qualquer número de jogadores? Funciona. O tabuleiro dupla-face já faz diferenciação em relação ao tamanho da área de jogo, adequando-a para o número de jogadores na partida. O que acontece é que o sentimento muda um pouco dependendo da quantidade de jogadores: Enquanto em 2 jogadores temos uma partida mais controlada, com mais chances de cálculos e análise para jogadas futuras, em 4 jogadores temos algo mais caótico, com mais bloqueios, mesmo que não-intencionais. Apesar disso, ambas formas de jogar são igualmente divertidas.
- Comparação com ‘Hey, That's My Fish!’: ‘Hey, That’s my fish’ é um jogo lançado em 2003 por Gunter Cornett e Alvydas Jakeliunas e é meio impossível não notar a semelhança, tanto na mecânica quanto no tema (que no caso do jogo de 2003 são pinguins). Podemos dizer que Sugar Gliders é uma cópia de Hey, That’s My Fish? Não estou aqui para julgar ninguém, mas digamos que ao mesmo tempo que ambos têm MUITAS coisas em comum, existem TAMBÉM as suas diferenças e, principalmente é bom deixar bem claro: Hey That’s My Fish tem um sentimento na mesa beeem diferente. O jogo dos pinguins é quase um pega-pega para tentar encurralar o adversário, o fazendo ficar sem ter nenhuma opção de movimento o quanto antes, de tal forma que uma partida pode não durar nem 3 minutos se jogado entre um experiente e um iniciante desavisado. Sugar Gliders é diferente neste sentido, pois o bloqueio se dá de forma temporária, com um adversário bloqueando o caminho ou mesmo um movimento maior que o espaço válido do tabuleiro, porém em Sugar Gliders os jogadores podem passar a vez na rodada ou devolver pontos para se mover aquela quantia de espaços, caso parar em uma casa já vazia (algo que não acontece em Hey Thats My Fish, pois casa vazia é barreira intransponível eterna). Dessa forma, pela premissa e desenrolar mais pacífico, prefiro Sugar Gliders, pois, retomando: 1. Ele não tem a sensação de "correr para bloquear o adversário"; 2. As partidas não acabam abruptamente por bloqueios; e 3. Temos mais opções de movimentos na manga, caso tenhamos feito um ou outro movimento meio ruim durante a partida.
Opinião Pessoal
“Um excelente jogo rápido de entrada, que por algum motivo não teve a devida atenção (e reimpressão). Um jogo simples, mas com possibilidades táticas interessantes para a complexidade, permitindo que mesmo jogadores mais experientes se divirtam e consigam intencionalmente atrapalhar os adversários, uma vez que o jogo tem um ar abstrato que permite muitas (e antecipadas) leituras de possibilidades na mesa.” (Raphael Gurian)
“Sugar Gliders é uma ótima opção de jogo leve e familiar, com uma mecânica fácil de aprender e com elementos simples. Ele remete a uma espécie de "Resta Um" que torna possível de se jogar em mais jogadores. Com os petauros-do-açúcar como protagonistas, que são marsupiais pequenos e super fofos, este jogo permite que jogadores de todas idades se divirtam. Suas partidas são relativamente rápidas, possibilitando jogar mais vezes sem enjoar. Este é um jogo divertido para se ter na coleção.”
(Heloisa Fernandes, Lola_Fernandes)
Um texto de
Raphael Gurian
Nota especial: Esse jogo adquiri anos atrás em uma troca com Vinícius Piupa, logo se existe hoje o Sociedade dos Boards é graças a cópia do jogo que usei para tirar as fotos!
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em análises de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
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