(Análise) Dream Home
Título: Dream Home (2016)
Designer: Klemens Kalicki
Arte: Bartlomiej Kordowski
Nº de jogadores: 2 a 4
Em Dream Home estamos projetando e construindo nossa casa dos sonhos, mas nem tudo pode acontecer exatamente como desejamos, pois outros jogadores sonham bem parecido! Um jogo para 2 a 4 jogadores que é bem mais competitivo do que o tema e arte fofos fazem parecer.
Resumo de Como o Jogo Funciona
Em Dream Home cada jogador possui um tabuleiro individual em formato de casa, no qual irá colocar cartas, formando conjuntos de cômodos, assim como acumular cartas de telhado. Durante a partida, os jogadores, em ordem horária a partir de quem seja o primeiro jogador, irão escolher uma fileira de cartas, composta por duas cartas, sendo uma de cômodo e uma de Recurso (telhado, decorações ou ações especiais) para colocar em seu tabuleiro individual. Este processo segue por 12 rodadas, onde todas as cartas são utilizadas. Ao final da partida são somados os pontos dos cômodos, bonificações por decorações extras, funcionalidades da casa (bônus por adjacência de cômodos) e telhados (com bônus por cores iguais, onde a dificuldade é o fato do jogador, ao pegar cartas de telhado, não pode mais vê-las, tendo que guardar na memória as cores até a conferência final dos pontos). Vence o jogador com a maior pontuação.
Mecânicas Principais: Seleção de Cartas; Coleção de Componentes.
Critérios
Ø Qualidade dos Componentes
PRÓS: Cartas, Tabuleiros e Fichas de excelente gramatura; Marcador de primeiro jogador de madeira e de excelente qualidade (até meio exagerado no tamanho, na verdade); Organizador original de excelente rigidez (se comparado os originais que existem por ai) e que comporta as cartas separadas por tipo e com sleeves; Bloco de Pontuação com muitas folhas; Manual e caixa de boa qualidade.
CONTRAS: Nada relevante foi detectado.
(Todos componentes)
Ø Arte
PRÓS: Ilustrações coloridas e ricas em detalhes; O tabuleiro central consegue entregar o tema apenas com sua ilustração; Consegue criar um universo (fofo) próprio e lhe dar personalidade própria.
CONTRAS: A abordagem fofa pode dar um ar de jogo infantil acima do que de fato seja; Pode ser uma bobagem para muitos jogadores, mas seria interessante se os tabuleiros individuais, já que são todos iguais, ao menos tivessem cores diferenciadas para os jogadores (apesar disso não ter impacto absolutamente nenhum na jogabilidade);
(Cartas [acima] e Fichas de Decoração [abaixo])
Ø Curva de Aprendizagem
Baixa. Dream Home é um jogo fácil de aprender, sem regras complicadas e nem muitos detalhes. Com exceção de algumas poucas cartas que trazem algumas ações especiais, o jogo é bem direto no que propõe, sendo acessível mesmo para quem não está familiarizado com jogos modernos. Sair vencedor, porém, é um pouco mais complicado, devido a dois elementos principais: 1. A pontuação é bem apertada, com diferenças geralmente de não muito mais do que 5 pontos entre os jogadores, o que exige escolhas precisas e sábias a cada rodada, deixando o jogo – que é simples e tem um visual um tanto infantilizado – bem competitivo entre jogadores experientes; 2. A presença de um elemento de memorização, uma vez que as cartas de Recurso (as com telhados) ao serem compradas ficam fechadas, obrigando o jogador que as pegou memorizar qual cor de telhado está colecionando, e isso não é tão fácil quanto parece, principalmente uma vez que a pontuação, como dito, é tão apertada.
Ø Presença de Tema
Média. O tema está presente o tempo todo, apesar do manual se preocupar com ele apenas por um parágrafo, seja na apresentação do conceito como na arte e mesmo nas cartas de recursos. Passamos da fase de projeto, representada pelo tabuleiro central, até o momento de colocar decorações adicionais em nossa casa, presente no baralho de Recursos. Apesar disso, não existe nenhum tipo de mecânica ou impacto referente aos processos de construção, contudo é possível entender a abstração de elementos do gênero em prol de se fazer um jogo mais rápido e leve. Realmente nos vemos como um irmão à obra, mas sem a sujeira do cimento e o pó da madeira.
(Arte em detalhe)
Ø Rejogabilidade
Média. Dream Home não possui muitos elementos que irão diferenciar uma partida de outra com tanta facilidade, contudo o jogo é inteligente ao unir duas cartas aleatórias em uma mesma aquisição do jogador, de forma que as escolhas nem sempre são tão óbvias, pois ao mesmo tempo que uma carta pode ser boa, a outra pode ser completamente inútil ou mesmo atrapalhar o jogador. Essa compra de cartas faz com que os jogadores fiquem engajados e atentos à abertura de novas cartas a cada rodada e tensos com o que adversários irão comprar antes. Um fator que pode dividir opiniões é o fato de todas cartas sempre participarem da partida, de forma que a variabilidade está na ordem em que abrem e com qual outra carta ‘fazem dupla’, pois por um lado é bom para o planejamento saber quais cartas irão participar da partida, mas por outro lado isso pode deixar um ar de experiência repetitiva ao longo de várias partidas.
Ø Interação
Média. Dream Home é, essencialmente, um jogo de seleção de cartas e isso, sozinho, já concede ao jogo uma interação bem presente, devido as escolhas dos outros jogadores impactarem diretamente na nossa, principalmente devido aos cômodos já alocados por todos da mesa, assim como a compra das cartas ser aberta. Mesmo sem nenhum tipo de elemento que gere conflito direto e interfira no tabuleiro individual de outros jogadores, o fato das informações estarem abertas pode deixar o jogo bem competitivo, logo, mais interativo.

(Tabuleiro central e individual ao longo da partida)
Ø Fator Sorte
Relevância na partida: Baixa. Apesar de todas cartas entrarem em jogo, a ordem que entram e o fato de se ligarem em duplas para serem compradas podem gerar situações onde os jogadores se sintam negativamente impactados por essa aleatoriedade, se vendo na obrigação de comprar algo ruim ou mesmo de mudar sua escolha de compra por causa disso. Este ponto levantado, contudo, não ocorre sempre e, mesmo quando ocorre, é possível ser remediado futuramente, uma vez que existe um número relativamente alto de cartas semelhantes de cômodo, sendo o local onde elas são colocadas o maior problema, mas isso é uma escolha direta do jogador. Jogada ruim não é necessariamente culpa da sorte!
Ø Fator Estratégia
Relevância na partida: Média. Os jogadores precisam escolher muito bem quais cartas irão comprar e melhor ainda onde irão alocar estas cartas em seu tabuleiro individual. É comum, inclusive, mesmo jogadores mais experientes em jogos no geral fazerem jogadas que se arrependam futuramente nas primeiras partidas. O fator decisório de qual carta escolher, já que é obrigado a levar a outra junto, traz consigo escolhas táticas que impactam diretamente a estratégia do jogador, principalmente em relação as escolhas dos telhados (que além de tudo contam com nossa memória), o que os adversários juntaram e o que ainda falta aparecer na partida. A escolha do designer em adicionar este elemento de memória nos telhados foi, na minha opinião, muito acertada, pois conseguiu adicionar ao jogo uma camada adicional de reflexão para os jogadores. O fato da pontuação ser apertada, com poucos pontos de diferença na contagem final, aliada à escolhas de duplas de cartas e o elemento de memória, conseguem fazer Dream Home ser mais do que um simples jogo com cara de infantil, mas um jogo que consegue ser aproveitado como uma disputa real e acirrada entre os jogadores.

(Organizador que vem com o jogo – Sim, cabem cartas com sleeves!)
Ø BÔNUS: Algumas dúvidas corriqueiras:
- Dá para jogar com crianças? Sim. O tema certamente é um atrativo, e a regra de jogar com os telhados ‘em segredo’ pode ser ignorada, para diminuir o impacto da pontuação final e evitar frustações na criança. Também existem cartas com textos, mas se estiver jogando com menos de 4 pessoas elas podem ser retiradas e o descarte ocupar seu espaço mais pro final do jogo.
- Funciona bem em qualquer número de jogadores? Funciona, inclusive o jogo se torna mais apertado e até ‘malicioso’, com menos jogadores. Apertado, pois existem menos jogadores na mesa, logo menos tabuleiros individuais para ficar de olho e gerar uma marcação. Malicioso, pois com menos jogadores a partida decorre com uma variante, em que o jogador inicial descarta uma dupla/fileira de cartas antes de escolher quais querem comprar para si, dessa forma, o jogador inicial possui o poder de, além de escolher o que é bom para si, atrapalha mais ainda adversários! (Vale lembrar que essa variante pode não ser usada se, em comum acordo, acharem maldosa demais).
- Existe expansão? Existe. Ela se chama Dream Home: 156 Sunny Street. Infelizmente ela não chegou ao Brasil. Nela temos dois novos módulos, ambos adicionam pequenos objetivos para conjuntos de cômodos, um módulo sendo com informação aberta criando uma corridinha entre os jogadores, e o outro com estes objetivos fechados, sendo revelados apenas no final da partida. Além disso, a expansão possibilita que o jogo seja jogado de 1 a 6 jogadores, adicionando dois novos tabuleiros individuais, mais cartas e uma extensão para o tabuleiro central, assim como um modo solo no estilo Bata seu Recorde (que se utiliza de cartas que vem na expansão). Não tive oportunidade de jogar esta expansão para fazer maiores considerações.
Opinião Pessoal
“O tema me agradou e em um primeiro momento imaginei ser um jogo leve, sossegado, para jogar sem nenhuma pretensão. Por ter outro jogo mecanicamente parecido na coleção, Kanagawa (Cathala, Chevallier. 2016. Editora nacional: Buró), peguei por curiosidade e pelo valor acessível. Quando joguei, senti que estava errado sobre o quão leve seria o jogo. Ele se demonstra muito competitivo, com escolhas importantes mesmo que sem nenhum tipo de confronto direto. Pelo tema, arte e mesmo fluidez acabou substituindo Kanagawa e eu fiquei impressionado com isso, pois não esperava que um jogo com tema tão fofo, que passou abaixo do radar, fosse desbancar um jogo conceituado de Bruno Cathala. Para quem gosta de jogos de seleção de cartas, deixem o preconceito com a arte de lado, pois o jogo merece ver mesa tanto quanto qualquer outro jogo.” (Raphael Gurian, Empreiteiro com capacete amarelo)
“Dream Home é um jogo super leve, rápido e divertido de se jogar. Com componentes simples, como cartas e tabuleiros individuais e elementos gráficos de fácil entendimento, é uma ótima opção para se jogar com toda a família, seja criança ou adulto. Você constrói os cômodos de sua casa, inclui mobílias e decorações, além de colocar os telhados no intuito de pontuar o máximo possível com as coleções de cartas adquiridas do tabuleiro de compras. A estratégia se dá na possibilidade de bloquear a compra mais vantajosa para o(s) seu(s) adversário(s), sendo possível comprar no lugar dele(s) ou então, se você for o jogador inicial, poderá descartar um dos conjuntos de cartas dispostos na loja antes que qualquer um faça sua compra durante o turno, quando jogado com até três jogadores. É um jogo de dificuldade baixa com uma certa influência de sorte, mas que vale a pena de se ter na coleção.” (Heloisa Fernandes, @lola_Fernandes, Decoradora com luvas vermelhas.)
Um texto de
Raphael Gurian
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em análises de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
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