Nesse contexto, destacamos na nossa análise de hoje a relevância do recente lançamento de
‘Erê – O Jogo dos Orixás’, um card game desenvolvido e lançado de forma independente pelo designer
Raphael Carmo (
raphaeldfg). O jogo é indicado para
2 a
4 jogadores, a partir de
8 anos de idade, com tempo de jogo de cerca de
20 minutos. As
ilustrações foram assinadas pelo próprio designer e o projeto foi fomentado com recursos da Lei Aldir Blanc, por meio da Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (
3).
Atualmente,
Raphael Carmo é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Artes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e, para desenvolver o jogo, se inspirou na Lei 10.639/03, que trata sobre a presença obrigatória da temática ‘História e Cultura Afro-Brasileira’ no currículo da rede de ensino do país, com o objetivo de ressaltar a “
importância da cultura negra na formação da sociedade brasileira” (
4).
Segundo o designer, a sua intenção foi desenvolver, através do card game, uma “
ferramenta para auxiliar de forma lúdica o ensino e compartilhamento das culturas e religiões afro através das figuras dos Orixás” (
5). Nesse sentido, o jogo toma o cuidado de apresentar no seu manual pequenos textos didáticos sobre a temática escolhida, assinados por
Graco Alves, apresentando cada um dos Orixás. Ogum, por exemplo, é descrito da seguinte forma:
O guerreiro destemido, domina sua lança e escudo. Vencedor de batalhas, sábio estrategista, mira com sua lança o alvo e não descansa enquanto não alcança seus objetivos. Forte, vencedor nato, líder das legiões de outros guerreiros (6).
‘Erê – O Jogo dos Orixás’ foi lançado em formato print and play (PNP), sendo disponibilizadas para impressão 89 cartas, o manual e uma caixa para montar e guardar as cartas. Sobre os arquivos, tenho pequenas queixas, fáceis de resolver, especialmente, em relação ao fato de que na caixa não cabe o manual, ainda que dobrado, ou mesmo as cartas com sleeves.
Além disso, tive alguma dificuldade em organizar os arquivos para impressão da forma como eu queria, já que foram muitos arquivos diferentes disponibilizados. Talvez a organização do conteúdo num único ou em poucos arquivos tornasse o processo de produção do jogo um pouco mais rápido e fácil.
Conforme explica o próprio designer, em ‘Erê’, os jogadores representam iniciantes das religiões afro-brasileiras que pedem auxílio aos Orixás para ajudar pessoas com necessidade, então, cada um deles recebe uma carta de Orixá principal e deve utilizar as cartas dos Orixás para acumular pontos de axé e cumprir as cartas de objetivo que representam as pessoas que necessitam da ajuda dos santos (
7). No jogo, os 12 Orixás representados nas cartas possuem as habilidades inspiradas em suas características.
Quanto à sua estrutura, ‘Erê’ é um jogo de cartas com as mecânicas principais de draft e gestão de mão em que os jogadores baixam cartas alternadamente em três rodadas, com o objetivo de montar um padrão e cumprir tanto objetivos abertos quanto fechados, que estabelecem a pontuação final.
Ao final, vence a partida o jogador com mais pontos de vitória, recebendo o título de pai ou mãe de santo. Um detalhe interessante é que cada jogador termina a partida com 12 cartas de Orixás na mesa, refletindo a formação do panteão das 12 divindades das religiões afro-brasileiras, conforme a representação proposta no jogo.
Após algumas partidas, incorporamos ainda algumas
regras da casa com o objetivo de deixar a jogabilidade mais fluida: a) dar a opção da escolha entre 2 cartas de Orixás no começo do jogo, aumentando as possibilidades estratégicas; b) abrir novas cartas de objetivo sempre que alguém comprar alguma dessas cartas, cumprindo com os seus requisitos, ao melhor modo
Ticket to Ride, criando uma pequena corrida por pontos; e c) eliminar a pontuação negativa ao final, retirando esse aspecto punitivo do jogo e equilibrando a pontuação, especialmente, em partidas com 2 jogadores.
Após conhecer o jogo, imediatamente, eu me lembrei das ilustrações dos Orixás assinadas por
Hugo Canuto para a série de quadrinhos “
Contos dos Orixás" (
8) e fiquei imaginando como uma parceria do designer do jogo com o ilustrador poderia resultar numa 2ª edição do card game fantástica, lançada em formato físico, revisada e ilustrada. Contaria com todo nosso apoio, com certeza.
Enfim, recomendamos ‘Erê’, especialmente, por ser um PNP gratuito, fácil e rápido de se jogar, com tema original e grande potencial tanto lúdico quanto didático, pedagógico e/ou educativo. Além disso, destacamos que o jogo tem um importante papel de valorização das religiões de matriz africana e da cultura negra com um todo, o que só enriquece a experiência de jogá-lo.