Caros Boardgames
Eu vejo com muitos bons olhos essa entrada da Estrela no mercado de boardgames, principalmente porque ela é uma empresa que produz jogos baratos. É claro que, no caso da Estrela, esse termo “barato” se aplica tanto ao preço quanto aos componentes do jogo. O problema é que o preço médio dos jogos está atingindo um patamar tal, que os jogos baratos tanto no preço quanto nos componentes vão acabar se tornando a única opção para a grande maioria das pessoas, não tão abastadas, mas que gostariam de continuar no hobby.
Vejamos, por exemplo, o caso do El Grande Big Box, eu gostaria muito de comprar esse jogo, mas pagar R$ 770,00, em um jogo de tabuleiro está totalmente fora da minha realidade. Portanto, peço mil desculpas pela heresia, mas se a Estrela lançasse uma versão tupiniquim do jogo base do El Grande, com componentes com qualidade inferior, mas que custasse na loja R$ 300,00 (e esse valor eu já acho caro, para esse tipo de produto), eu não pensaria duas vezes em comprar. Vejam que eu não acho que qualidade não importa, não tenho complexo de vira-lata e nem me contento com qualquer coisa, mas no meu caso, e acredito que esse também é o caso de muita gente por aqui, nesse exemplo hipotético, a escolha seria entre comprar um jogo com qualidade inferior, ou simplesmente não comprar o jogo, por conta do preço.
Nunca vou me cansar de dizer que o mercado de boardgames precisa de jogos mais baratos, porque é só assim que mais pessoas vão ingressar no hobby, mais pessoas vão comprar boardgames, maiores serão as tiragens dos jogos, e mais dinheiro os designers e editoras vão ganhar, e assim por diante.
No caso da Grow, a experiência não deu certo, porque a empresa quis fazer aquilo que as outras editoras do setor já faziam, ou seja, lançar jogos gringos, com tiragens minúsculas, e por um preço, que se não era tão alto como hoje, também não eram tão baixos assim. Por isso, o que a Grow fez foi oferecer mais do mesmo, e por isso não deu certo. Se a Grow tivesse oferecido produzir nacionalmente o Puerto Rico, no seu padrão inferior de qualidade de componentes, mas para produzir 100.000 unidades, vendidas a R$ 75,00 cada, tenho sérias dúvidas se a editora gringa não topava. Qual editora gringa não ficaria realmente tentada, com a possibilidade do seu jogo, ter o mesmo volume de vendas que o WAR, mesmo que apenas no Brasil? Infelizmente, apesar de todo o seu tamanho, a Grow optou por agir como se fosse apenas mais uma editora nacional de boardgames. E mesmo que as editoras gringas não topassem essa versão tupiniquim e com componentes inferiores dos seus jogos, a Grow ainda poderia ter feito um investimento sério em jogos nacionais como “Masmorra de Dados” e “Robin Hood”, que é o que me parece que a Estrela vai fazer. Possivelmente esse dois jogos não teriam ido parar na mão de editoras gringas e estariam vendendo horrores por aqui até hoje.
Nesse sentido, a entrada da Estrela pode ser um “turning point” no mercado nacional de boardgames, e propiciar aquilo que todos esperam, ou seja, jogos mais baratos, tiragens maiores, mais gente entrando para o hobby, editoras ganhando mais dinheiro, designers podendo viver de produção de jogos, e todo mundo fica feliz. Quem ainda estiver por aqui, o que está cada vez mais difícil, com a atual média de preços de boardgames, verá.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
P.S. Não sei quanto a vocês, mas tenho uma leve impressão de que o fato da China produzir bens de consumo em uma escala cada vez maior e preços mais baratos, e o fato do país ser a economia que mais cresce e mais gera riqueza, estão relacionados de alguma forma. Mas pode ser que eu esteja enganado e o certo seja produzir quantidades cada vez menores e vender a preços cada vez maiores, conforme o principal mantra das editoras brasileiras de boardgame.