Caro leitor, gostaria de iniciar esse nosso papo já dizendo que o dinheiro é teu e você pode fazer o que quiser com ele, ok?
A questão aqui é mais o debate pelo debate mesmo. Fato é que esse assunto vem me assombrando faz um tempo e cá estou para dividir com vocês meus devaneios.
Já é comum em tudo quanto é segmento a frequente substituição dos produtos por sucessores mais modernos. Seu time do coração troca de uniforme todo ano, sua empresa de telefonia favorita lança um novo aparelho celular todo ano, a montadora de automóveis lança novo modelo sempre...
Embora o termo "Obsolescência programada" incialmente se referia à características técnicas (aquela falha supostamente programada para acontecer e deixar seu equipamento inútil) hoje dá até pra extrapolar e pensar que há uma obsolescência programada de conceito. Não precisa nem parar de funcionar mais, se não for a novidade tá errado.

(Comprei esse Imperial Settlers por cemzão, promoção de respeito)
E você depois desses primeiros 3 parágrafos deve estar pensando: "Que caralhos isso tem a ver com Board games?". Pois tem bastante...
Recentemente vi vários colegas fazendo conta, aperta daqui e vende dali, pra tentar pegar um Kanban EV. Veja bem, não tenho problema nenhum com Kanban EV eu até teria um se tivesse abundância financeira, mas a existência do novo Kanban não estraga o anterior. Essa semana apareceu uma foto do protótipo do novo Cyclades, foi o suficiente pra chover cópia do jogo no Mercado. (Tá aí uma oportunidade de pegar a versão antiga mais barato hahaha).

(Ultimate Railroads anunciado, vai chover RRR sim ou claro?)
Sei que pra muita gente o hobby vai muito além de uma mesa, muitos gostam de colecionar mais do que de jogar, mas se você não é um desses não precisa desse desespero todo.
Fiz aqui a comparação entre uma versão antiga e uma nova do mesmo jogo, mas vale pra jogos diferentes também. Barrage é excelente jogo? Com certeza, mas tem outros tantos italianos tão bons quanto por aí que custam um terço.
Dá pra jogar Kanban tradicional (que tá custando UM QUARTO do novo) e se divertir também. O jogo anterior não fica pior porque apareceu outro. Tenho por mim que o hobby tem seu verdadeiro valor na mesa cheia, nas relações humanas, nas risadas, nas estórias e não no jogo em si.

(Kanban raíz é legal também, confia!)
Bem, se as versões anteriores e jogos antigos são boas também, porque existe esse anseio pelas novas versões, pelos exclusivos, pelas versões limitadíssimas? Ocorre que quando um bem de altíssimo valor desse é adquirido não é só o objeto que está sendo comprado mas também um "status". Vai se criando o clubinho dos que tem isso ou aquilo e um hobby que já é pequeno se divide em grupos ainda menores.
Coisa muito semelhante acontece nos esportes. É muito mais difícil pra uma pessoa sem condições financeiras praticar esportes como Automobilismo, Vela, Iatismo, Golfe.. Quem não tem grana que vá jogar coisas de quem não tem grana: Futebol, Atletismo, Vôlei...
Certa vez ouvi aqui no hobby a frase: "Você não é o público alvo da editora XXXX, o errado nessa relação é você." Não há problema em se ter um público alvo, mas a parte da frase "o errado nessa relação é você" me soou como "não querem todo mundo no nosso grupinho" e segregação, na minha insignificante opinião, só deixa o hobby que já é minúsculo ainda menor e mais fraco.
Essa segregação em grupos menores não acontece só no âmbito financeiro, também segregamos por estilo de jogo (há quem diga que se o jogador só curte Dixit e Coup então não é do hobby), por complexidade (sec. XXI e ainda tem gente que cai nessa balela de QI, mente superior e bla bla bla) e por muitas outras razões, mas que talvez eu discuta (ou não) em outra oportunidade.
Afinal de contas, o que está valendo mais? Uma "shelfie" bonita ou uma mesa lotada?
O jogo pode até ficar "obsoleto", mas o prazer da mesa cheia nunca fica. A relação humana é atemporal.
E você? Teu jeito de levar o hobby está agregando ou segregando?